Monday, October 25, 2010

Weekend no Sertão

Pra ser feliz


não preciso de muito.
caminhos novos, amizades.
longas viagens pelo ar, pouso fácil em mundos distantes.
uma pequena dose de loucura, a razão deixada pra trás (afinal, é preciso tirar a poeira das asas e voar).
som, luzes e sorrisos.
sempre feliz.
porque em todo lugar que passo, eu me acho. mesmo que esteja escondida em uma placa, ou um personagem passante.
uma música, uma noite, um sorriso, um pedaço de céu.
meu lugar é aquele onde encontro paz por um razoável período de tempo.
até que o desejo de mudança me arraste novamente pra onde está o furacão.
ou quem sabe me deixe viver, de vez, flutuando por este sonho.
muito mais espectadora do que participante.
esperando um dia acordar. de braços abertos para mim.

Tuesday, October 05, 2010

Tuesday, July 27, 2010

Pé na Terra

 

Daí quando coloco o pé na terra, parece que meu corpo se movimenta com a natureza.

As células se realinham, oxigenam.

Encho meus pulmões, lembrando-os do que é o respiro lento e profundo.

Fecho os olhos (não há fotografia que registre este instante de felicidade) e me sinto.

E pareço árvore no vento.

Enraizada na terra, movimento meus braços e relaxo toda minha estrutura.

Meus cabelos voam soltos.

É o mais perto que chego da liberdade.

STP62400

27 de Julho

Tem coisa que machuca tanto o coração.
Como a saudade de uma pessoa que está ali, ao seu lado.
Bastaria um telefonema, uma visita surpresa.
Os olhos podem ver. As mãos podem tocar.
O abraço está disponível.

Mas você não está.
Não consigo mais te encontrar. Busco em cada traço de sua pele marcada pelo tempo, pela dor que a vida te causou.
Busco um resto de brilho em seus olhos. Busco em suas mãos algo que possa me lembrar de como você me tocava e me fazia sentir tudo calmo, tudo certo.
Para sempre.

Onde será que está aquela pessoa que um dia conheci?
O que posso fazer para tocar seu coração e trazer de volta aquela risada solta e leve que você dava tão livremente?

Será que a culpa é minha? Eu queria tanto que tudo tivesse sido diferente. Queria ter tido a consciência de hoje para ter cuidado melhor de você no passado. Pra te carregar no colo e contar que tudo ficaria bem.
Não ficamos bem.
E uma muralha agora barra nosso encontro.

Se eu pudesse fazer alguma coisa... Se eu pudesse arrancar sua tristeza, se pudesse voltar no tempo e viver sua vida por você. Corrigir seus erros, recomeçar mil vezes para que hoje o que restassem fossem lembranças felizes e alegria pura em seu coração.
Se eu pudesse captar sua dor, transforma-la-ia em sol, frescura do vento em seu lindo cabelo.
Se eu pudesse conversar com seu Deus, eu pediria a ele mais uma vez do seu olhar amoroso sobre mim.
É egoísmo mesmo. Eu queria te transformar para sentir seu amor de novo.
Porque ele me faz falta.
Único insubstituível.
Buraco no peito que tenho.
Por saudade.
Porque meu amor por você é grande. O maior de todos.
Para sempre.

Tuesday, June 29, 2010

Complicadinha

Eu e minhas crises.

Deixei o contexto externo me desestabilizar.

Bad, very bad...

Mas é que tenho crises e fico confusa.

Perco o passo, saio da música.

Daí me esvazio.

E, vazia, me busco novamente. E sempre me encontro.

Mas isso leva um tempinho... e tempo é um luxo que não tenho.

Que pena.

Wednesday, June 16, 2010

Não

Não, não me peça pra ser diferente.
Não me peça pra esquecer o que eu era e o vazio que sentia.
Deixe meu coração aquecido, sensível e honesto demonstrar o cuidado que quer ter com as palavras, gestos e toque.
Não me idealize.
Não espere de mim aquilo que você quer ver.
Eu quero ser sensível e cuidadosa.
E se você espera por um pouco mais de assertividade, então te digo:
Assim me sinto agora e assim serei daqui pra frente.
E não farei diferente.
Por mim.
E, se te interessar, por nós.

Eu e meu bócio

Aparentemente minha tireóide quis brincar de criar novas paredinhas e tecidinhos sem nenhum fundamento. Ela teve vontade.
Não posso reclamar, porque faço muitas coisas sem sentido e sem fundamento, então acredito que ela simplesmente tenha seguido o curso natural das coisas e imitado mamãe.
O BÓCIO é uma bolinha que estes tecidinhos sem-proposta criaram. COLÓIDE é o próprio material da tireóide.
Ou seja, é uma bolinha de tireóide dentro da tireóide.
Ela não tem representatividade nenhuma no meu corpinho e não fará a menor diferença na minha existenciazinha.
Sou somente uma garota de Sangue e Sonhos, que vive Pensando Demais, e que caminha pela vida com um Bócio Colóide no pescoço e muito amor no coração.
E nada mais.

Sunday, June 06, 2010

A Noite

Sim, continuo gostando da lua.

Mas os corpos, pessoas, formas e gestos são tão previsíveis...
A noite tão conhecida, tão óbvia...

Às vezes sinto falta do meu caminhar na noite, pois me encaixo na poesia, na dinâmica e no caminhar tranquilo, lunar que só a noite sempre me proporcionou.
Me sinto intacta na noite.

Pelo menos achava que me sentia assim... Pelo menos essa sempre foi minha retórica.

Mas cansei desse bla bla bla todo.

é tudo igual.
é sempre tudo igual.
e a música é bacana, mas não empolga.
e os corpos se movem mas não me seduzem.
e todo mundo fica louco e bobo.
e isso cansa.

o que eu quero mesmo vai chegar às 07h da manhã.

e ponto pra nós dois.

Thursday, June 03, 2010

Ludov | Reprise

sirva ainda frio seu coração

solte um pouco o freio

deixe de receio

encare mais os fatos

sirva ainda frio seu coração

seu fogo não se espalha

excesso de razão

é como opinião

se não ajuda, atrapalha

Monday, May 24, 2010

Sensitive

Please, be careful with me.
I'm sensitive and I'd like to stay that way.



é que dá medo mesmo.
e o medo dói.
dói aqui dentro, nas entranhas, bem ali onde o desejo nasce.

só que o desejo é fonte contínua, eterna. não acaba.
o desejo flui pelo corpo, pela alma e pela vida.

mas o medo é bom. ele nos torna cientes.
ele disperta uma sabedoria pessoal, o entendimento mais profundo de nossos porquês ou não saberes.

isso para aqueles que ousam questionar seus temores, naturalmente.

finalmente ouso temer. e finalmente ouso questionar e enfrentar meus temores.

por isso dói.

e a primeira lição aprendida, ofertada a mim através da dor de um medo, foi a seguinte:

A paixão entregue é infinitamente mais valiosa - por mais dúvidas, inseguranças e desequilíbrios que possa causar - do que uma vida segura de garantias tristes.
Porque a segurança absoluta é uma farsa. É vampirização do outro para alimentar o ego e mascarar o medo. Para se sentir forte. Força ilusória que não fecha nenhuma lacuna do coração.

Há que se ter medo e se apaixonar.

Eu estou apaixonada.

Thursday, May 06, 2010

Verdade

não escrevo aqui absolutamente nada que não venha do meu coração.

Wednesday, April 14, 2010

you're my Saturday

um sábado sem compromissos marcados. só o sol e o céu pra olhar. os pés descalços e úmidos. o olhar que sorri e os cabelos soltos, bagunçados. despreocupados.
tem que esperar o anoitecer sem pressa. porque a noite traz certezas.
então se aproveita a brisa e os olhos podem se fechar porque a alma não tem medo.
eles calam os demônios com seu escuro e doce silêncio.
um caminhar tranquilo.
um sábado.

Sunday, April 04, 2010

Um amigo além-mar



Certo, mais um se vai.
Já me acostumo com esse mecanismos de pessoas fluindo pela minha vida e partindo... sempre acabam partindo.
E poderia falar aqui sobre meus questionamentos de pra onde estou indo e que tipo de mecanismo estou impondo a minha existência.
Sim, eu fico. Eu fico por medo e esperança.
Eu acredito.
Mas isso não importa agora.
O que importa é que mais um amigo se foi e isso dói.
Ele foi para seus sonhos. Foi pra sua intensa necessidade de vida, de vento e vozes. Vozes soltas e nuvens de doces lembranças.
Ele vai passar frio porque não tem a mim, a nós, seus amigos, para aquecer uma noite de vinho e ideias.
Mas ele carrega esse olhar para o futuro que tem o poder de acalentar meu coração e me fazer sorrir pra ele, escondendo a dor que sinto em meu peito.
Sim, vou ficar bem. Sim, a vida continua. Não, não sou depressiva.
Só vou sentir sua falta.

Hm?

Marina:
Ellen, a gente foi mesmo pra Londres, né?

Ellen:
de vez en quando me pergunto a mesma coisa....

podemos provar, minha cara. Sim. fomos a Londres. Que da hora!


Fomos de avião. Eu andei de aviao com você. Marina e Ellen de aviao, desde portugal até a inglaterra. De aviao. ônibus vermelho, relogio grande, cores ocres, arvores secas, ar molhado, ceu cinza, taxi negro, aeronave branca, ceu azul, sol amarelo, neve fria, gelo gelado, saltos coloridos, (cores ocres têem as mesmas letras), moeda velha, rainha velha, carros canhotos, dia curto, sensaçao intensa.

... que vivências meu amor.

Obrigada por essas lembranças.

O pacto agora é ir à Paris.


te kiero

Wednesday, March 24, 2010

Malhação - capítulo 1

Paixão platônica pelo instrutor da academia faz um bem danado à saúde.
Literalmente.

Friday, March 19, 2010

Mecanismo

Eu não sei se quero fazer parte disso
Esse mecanismo está prestes a parar
É tanto desespero que o passo é impreciso
Esse mecanismo ainda vai degringolar

As ruas que eu caminhava mudaram de direção
me sinto perdido, andando em círculos sociais
entrando em contramão
confundindo sinais

Ser o que se espera sem ser previsível
Vai ficar díficil pro navio navegar
Se for só por vaidade peço pra anular o visto
Fogos de artifício também podem te queimar



Sunday, March 14, 2010

Um lugar no mundo

Essa vegetação típica, que me remete a lembranças tão doces e puras.
Meu coração fica mais puro e minha alma destacada de meu corpo.
Danço a dança da vida, do suor, do sorriso, dos músculos contraídos.
Cheiro de mato, terra sob meus pés.
Meu caminhar se encaixa com o chão onde piso e o R do povo Paranaense me dá vontade de café com leite. Manteiga derretida num pão quentinho, recém saído do forno. Esta cidade poderia ser minha mãe.
Talvez porque aqui tenha morrido minha família. Talvez para manter viva em meu coração aquela época em que eu vivia em um lar feliz, por mais farsante que tenha sido. Eu não via. Eu era feliz e doce, muito doce.
Eu e minhas bonecas. Eu e minha bicicleta, juntas pelas ruas pegando fruta do pé.
Talvez seja isso.
Mas não. Esta cidade é realmente linda. É verde.
É chuva – água doce – em meu rosto triste.

Um adeus

Perdoe-me. Ame-me para sempre, meu querido.
Sou frágil demais para seu subterrâneo. Meu pequeno corpo burguês não agüentaria e adoeceria.
Não se orgulhe tanto de mim. Eu não suportaria decepcioná-lo com a verdade, meu querido, essa verdade inteira que sou, fragmentada em medos, sonhos abandonados e espírito castrado.
Você bem sabe o que escrevo, pois já o disse em nossas conversas estrelares.
Ame-me para sempre porque preciso que minha alma seja nutrida de alimentos crus e límpida água do céu.
E este é o real motivo de eu ter vindo aqui: vim em busca de uma certeza. Em busca de um adeus.
E este saber chegou tão potente em meu coração que, Deus, me faz sorrir e me coloca em estado de graça.
Você sabe que a certeza não é minha companheira de vida. Ela é uma criança que brinca de se esconder e, de tempos em tempos, aparece correndo sorrindo pra mim, enquanto busca novo e protetor abrigo.
Você me presenteou com esta tão bela certeza de adeus que tenho vontade de chorar. Meu coração de repente entende.
Vê, sou mulher e preciso encerrar meus passados.
Você diz que sou mulher das mais maduras e belas. Isto a mim soa como música, como vento no cabelo e carícias românticas ao amanhecer. Vindo de você.
Adorei o vinho, o mel das suas palavras, sua acolhida. Seu esforço. Seu coração cheio de carinho. Conheço seus mecanismos e sei que para você também não é fácil.
Mas, meu amor, o que poderia ser de diferente?
Meu coração pensava em fim e você pensava em recomeço!
Confesso que também flertei com um recomeço cheio de aventuras, já que sua energia em mim era ainda vibrante. Nosso divertido segredo.
Mas, por mais triste que possa parecer, este cerrar de portas é feliz, sincero e entregue, falado em toques, gestos, com meu inteiro coração.
A frase proferida por ti naquele dia em que a vida nos apresentou - Tudo tem um prazo de validade - enfim se realizou.
E não é lindo quando isso acontece? Hoje durmo sorrindo. Sorrindo para o futuro.

Novos amigos e mais adeus

Para Larissa

Menina faceira, bata seus pés contra o mundo. Você tem o brilho, o tempo, o viço da vida todo pra ti.
Não se apresse, dance. Dance de mãos dadas com a vida, sorrindo e cantando essa doce melodia que dos seus olhos transborda.
Ande de bicicleta. Ela vai te ensinar a olhar por si e pelos outros e, de presente, ganhará um beijo de vento em seu rosto.
Sorria, doce menina. Dê seus encontrões com o mundo.
Eu também sempre dei os meus, mas não tive a idéia de fazê-los com os pés. Você é sábia.
Estude.
Entender a mente humana é alimento.
É grão germinante de estrela que cresce infinitamente em seu peito.
Não tenha medo do mundo, moça faceira. Não acelere o passo. Aprecie a paisagem.
A vida espera por ti para, em comunhão, se enlaçarem em sua mágica dança celestial.
E então você, invariavelmente, nascerá uma linda mulher.


Para Lucas

Ao longo deste ano que moro em São Paulo não fiz um único novo amigo.
E em um fim de semana longe, fiz vários.
Pessoas simples, entregues, abertas.
Pessoas pensantes.
Lucas, obrigada por estudar tanto. Leia todos aqueles livros de Nietzsche, sim.
Nós precisamos de você.
O mundo precisa de pessoas como você. Entende?
Eu seria sua amiga pra sempre e pediria para você me contar todas essas histórias e me ensinar sobre os filósofos e suas influências no mundo.
Perto de você me senti pequena. Não sou tão inteligente assim.
Tive medo e não percorri esse caminho.
Mas vá você, querido novo amigo. Siga adiante.
Realmente uma tristeza que não nos veremos mais.

Chão de madeira

Pelo caminho fui pensando qual seria o impulso que me trazia aqui.
No começo e durante a trajetória foi um impulso vital de sobriedade, necessidade de sair da rota.
Navegar naqueles mares longínquos por onde eu antes flutuava e que me distanciei por necessidade e vontade.
Sim, tive vontade de me distanciar desse oceano sublime e calmo.
Porque ele não era calmo.
Era turbulento e intenso. Era denso e fluido.
Mas tinha necessidade de foco, de pulso.
Eu tenho necessidade de pulso. Eu tenho necessidade de pulso.
E depois de tantos anos...
Aqui vim eu novamente, com meu barquinho frágil.
Meu barco é frágil. Sem mantimentos ou bússola. Sou péssima de direção.
Aqui vim passear, no oceano de mim mesma, somente com meu olhar e meu impulso a me guiarem por esses nebulosos e alcoólicos caminhos, a me deixar, a me soltar, a me permitir leve sem pés no chão.
Minha tentativa de tirar os pés do chão.
Porque eu gosto de brincar. Eu gosto de brincar.
O impulso é de carne, de nervos e líquidos. Um impulso de essência, de necessidade de mim mesma.
Como preciso de mim mesma!
E senti o barulho da madeira estalando sob meus pés.
E senti o céu que, mesmo sem tantas estrelas, estava tão limpo e tão frágil que parecia água. Parecia se liquefazer sobre minha pele, escorrendo por minhas veias até a ponta dos meus pés.
E o ar era limpo e seco. Secou minhas entranhas e meu ventre.
E, ainda assim, me senti tão viva, tão entregue quanto a tantos anos atrás. Renasci.
E entendi que o que buscava era um pouco de humanidade.
Eu grito: HUMANIDADE!!!
Respiro fundo quando falo, e puxo o ar limpo pra dentro dos meus pulmões.
HUMANIDADE!
É leve e intenso.
É meu movimento preciso, meu desejo.
De ter escolhido estar aqui.
Exatamente aqui, onde o chão é de terra e onde circulo com cautela e medo.
Quando eu ando, o chão de madeira faz barulho. E a música toca ao fundo.
E poderia estar em tantos outros lugares.

12 de março 2010

Monday, March 08, 2010

Uma prece para o mundo

Difícil aprender as coisas da vida...
Do jeito que ele diz parece tão fácil. Ele capta minha dinâmica tão bem, que sabe usar as palavras certas, o jeito certo de se fazer entender.
Não se sabe se é uma técnica de abordagem bem desenvolvida ou se é realmente uma compreensão genuína. Mas dá certo.
E eu entendo.
E qual é a solução? Não confiar em ninguém? Viver esgueirada esperando pelo pior das pessoas?
Não, não, não.
Meu mundo é bom. Esse mundo onde vivo é bom e é verdadeiro e as pessoas vivem por valores profundos, humanitários, libertários.
Não se perde tempo com coisas pequenas.
Mas eu entendo.
Entendo que esta foi minha escolha.
Entendo que tenho que aprender. Tenho que me atentar aos detalhes.
Quando foi que deixei de ser detalhista?
Como foi que perdi a atenção nas suaves nuances do convívio humano?
Preocupante isso...
Às vezes acho que não tenho a mente pra isso, às vezes acho que está tão longe, tão longe... E às vezes parece ser a única certeza que tenho.
Preciso aprender a me ensinar as coisas da vida.
Preciso me aprender.
Quero ser aquilo que olho do futuro e me dá vontade de sorrir.
Me sinto ridícula por fazer coisas idiotas. E dói ainda mais por causa daquela sensação de decepção que causa. O tal balde de água fria. É um pesadelo o balde e a água fria, tudo caindo na minha cabeça oca.
Mas caminhemos, pois. Caminhemos.
Os custos jamais serão maiores do que os tesouros encontrados. E o mundo jamais perderá seu brilho e sua mágica. E as pessoas... elas sempre terão uma estrela no peito, mesmo que não saibam. Elas serão sempre boas. Somente um pouco perdidas, às vezes, talvez.
Mas eu perdôo todos os erros do mundo “ Assim como sei que preciso ser perdoada” (acho que tem uma oração que fala disso...)
Os custos que a mim proponho estão em equilíbrio e consonância com o que acredito ser invariavelmente necessário quando se trilha esse caminho.
Dói, mas passa.
Fere e cicatriza.
Fortalece.

Então aí vai a nova prece do mundo:

“Consciência querida, esteja atenta nos momentos em que eu devanear e esquecer das coisas.
Ajuda-me a viver o aqui e agora e carregar de energia todos os meus movimentos.
Ensina-me a perceber o que há ao meu redor, com um pouco menos de romantismo e um pouco mais de praticidade.
Que as pessoas captem um pouco do espírito do meu universo.
E, por fim, que o fim de semana seja de sol!”.

Boa noite.

Sunday, March 07, 2010

Sofá

Foi assim uma conversa simples.
Ele lá sentado com seu coração forte e eu lá parada, com meu sangue grosso.
Parecia uma assombração.
De repente sabe-se tanto da vida de alguém pelos textos, peças, música, pelos blogs, matérias e entrevistas e, de repente, esse alguém está ali na sua frente, sentado, entregue. Simples.
O que se faz?
Chega-se falando:
"e aí, cara, beleza?"
"e aí, meu amigo, e essa força?"
" e aí, camarada, renasceu, hein?"
Eu nem conseguia olhar pra ele, porque parecia uma assombração, quando na verdade queria dar um abraço sincero de longo alívio.
Fiquei realmente aliviada por ele ter sobrevivido. De verdade, ele é do tipo de gente que tem que ficar por aqui pra chutar nossa canela e nos fazer lembrar de coisas que ... vergonhosamente nos permitimos esquecer.
Ele e seu coturno. Sua capa mágica protetora. Será que ele a usava no fatídico dia?
Pois então fui chegando perto, feito um bicho chegando aos poucos, tentando reconhecer o território e o quanto se pode confiar naquele outro bicho que estende um pedaço de carne na mão.
Bicho que sou, não resisto a uma carninha suculenta, um sangue vibrante e uma estrela no peito.
Fui chegando até ter coragem de sentar a seu lado.
Palavras soltas.
Dividimos uma taça de vinho.
E eu sorria por dentro.


Eu admiro muito esse cara.
Admiro sua verdade. Seu desprendimento. Sua essência.
Admiro a entrega, a canalhice, a blasfêmia e a sujeira de seu mundo subterrâneo.
Sua fragilidade explícita.
Seu blues rasgado.
Ele é blues e isso já diz tudo, quase tudo sobre ele.
Sugante de vida, de palavras. Áspera poesia. Suave ser humano.
Leve, limpo.
Eu adoro esses caras tortos.
E nem ao menos o conheço...



Não consegui falar nada disso pra ele, mas...


Será que ele viu o sorriso da minha alma?

Wednesday, March 03, 2010

Passeio

Eu caminho pela rua. Ela tem cheiro e gosto.
Os olhares me atravessam e nem sei se são tão interessados ou tão genuínos.
São apenas olhares.
Por trás de seus óculos, de seus carros do ano.
Em seus caminhares descalsos, sujeira da vida.
Sugo os olhares de vida, de barbas e cabelos.
Brincos e coxas bonitas.
Minotauros e ciclones.
Simpatizo com cabelos esticados por ferros e calor.
"Faça uma escova e ganhe uma hidratação tailandesa".
Não, não simpatizo. Apenas comungo com as súplicas dos olhares ofuscados pelas luzes, pelos motores da minha cidade.
Eles não sabem que vão precisar de lentes intraoculares para ver o que finjem não ver hoje.
Aquilo que camuflam em seu caminhar solto, torto.
Chamas da noite que parecem não se esgotar nunca.
Caminho pela rua e sorrio com os olhares interessados.
Não, não simpatizo com os olhares interessados.
Eles são fugazes. Intensos e fugazes como um sonho bom.
Mas sorrio, com meus sonhos e meu caminhar desajustado.
Minha pele que é leve e grossa.
Meus ossos cansados.
Caminho sorridente por espaços que pertenço, essa sujeira que abomino e essa ignorância que me torna irremediavelmente inconformada.
Mas simpatizo, com certa piedade, com o caminhar e as luzes e a sujeira e as súplicas de prazer imediato.
Simpatizo com os cabelos esticados e os olhares mendigos.
Somos todos mendigos nessa noite suja.
Mendigos de olhos e de sentidos.
Intensos e fugazes, como um sonho bom.

Sunday, February 28, 2010

Lembrança

quando fico feliz, meus olhos ficam arredondados.
é ótimo sentir meus olhos arredondados. fico mais feliz.
é consequência e causa, não acaba.
sorrio mais.
e meus olhos se enchem de ternura.
e, assim, me lembro de quem sou.

Sunday, February 21, 2010

Silêncio

Não quero nada disso.
Isso dói e não faz sentido.
Não faz sentido ouvir essa mesma música que ouço há séculos e insisto em repeti-la, ouvindo alto e cantando aos berros no meu apartamento, meu pequeno e frágil mundo de palavras cortadas.
Meu pequeno mundo de clichês e pretensões falsas.
Meu mundo de construções tortas. Meu alicerce de madeira podre.
O mato que cresce, a praga que devora o que ainda há de belo.
E ouço a mesma música e insisto em ouvi-la alto e cantá-la aos berros pra não esquecer a letra, pra manter no coração os versos e rimas obsoletos e vulgares que despertam em mim aquele sonho que, bem sei, não existe.
O céu está azul. Meu coração apertado.
Vai embora daqui. Leva essa música ridícula contigo.
Volte, sorria mais uma vez. Vem ouvir a música comigo.
Eu odeio como me deixa frágil.
Odeio como joga na minha cara a menina sensível que sou.
Esse aperto no coração que uma mulher como eu não pode ter.
Essa mulher que construí tijolo por tijolo.
Essa fortaleza de sensatez e racionalidade.
Essa fútil postura.
Minha máscara que já faz parte de minha pele, entranhada em meus músculos e olhar.
Inabalável.
Minha fragilidade é para poucos e você não poderia estar aqui. Não poderia.
Jogo as roupas fora, corto meu cabelo. Mudo de música. De casa.
Mudo o jogo.
Odeio o café que tomo e o céu está azul lá fora.
Lá fora.
E tudo isso é uma grande bobagem. Grande bobagem minha.
Vai logo. Some daqui.
Some das minhas histórias, das minhas fantasias, do meu sorriso.
Fuja do meu olhar que te seduz.
Ou então venha logo, pelo amor de deus, que te espero.
Que não canso.
Que a música está alta aqui em casa. Essa porcaria de música que não tiro do repeat.

Friday, February 12, 2010

A menina

A menina anda pelas ruas, sozinha.
A menina tem muitos amigos, mas se sente só.
Clichê.
A menina não gosta de seu corpo e sabe que é perfeita, com todos os seus nervos à flor da pele.
Ela não vibra mais como antes.
A menina quer canção.
Dança.
A menina volta para casa sozinha, sem dar atenção aos olhares interessados.
Ela não tem coragem.
Timidez.
Ela pensa que são superficiais os olhares interessados.
Vazio.
A menina se sente sozinha e adora a solidão da sua casa.
Mentira.
A menina quer amar.
Entrega.
A menina quer um encontro com velas e carinho.
Ela sonha com o amor.
De verdade.

Mas é carnaval.
Ela anda confusa e cansada, por entre os gritos estridentes e sorrisos largos e movimentos intensos de vida ao seu redor.
Poderia se lançar?
Poderia brincar de faz-de-conta e lançar superficiais olhares interessados àqueles que chamam sua atenção.
Poderia não pensar.
Mas ela pensa e lembra que queria o poder em suas mãos.
Ego.
Ela desejou ter o poder em suas mãos para poder desfazer-se dele. Brincar.
A menina é insegura e precisa de poder em suas mãos para se sentir forte.
Ela abusa de quem a oferta com tal poder.
E sozinha, sem poder e sem ação, ela deixa de fantasiar.
Realidade.
Volta sozinha para sua casa.
A realidade a corta ao meio.
Ela percebe que não é.
Ela não é.
E assim, deixa a vida passar.

Sunday, January 31, 2010

Catch me if you can

Agora dizem que 90% dos meus óvulos já se foram... ano retrasado. Agora devo ter uns 9%. E ainda que com tão poucos, fico com preguiça de me lançar ao mundo.
Quero o conforto da minha casa, um vinho com uma amiga querida. Conversa jogada fora.
Prefiro o conforto das conversas soltas, livres de qualquer estímulo ou pretensão de se querer dizer algo nas entrelinhas, no olhar que precisa dizer mais, na angústia de querer ser entendida sem necessidade de muita explicação.
Quando tinha uns 20 anos, eu brincava com minha sensualidade, testava os limites de meu poder de sedução.
Buscava o mundo, era ávida por encontrá-lo em mim e nele transitar forte.
Agora quero o descanso das palavras.
Quero ficar aqui no meu canto, onde minha expressão encontra minhas sensações naturalmente e nelas transforma meu caminhar lento e contínuo.
Continuamente caminho sem procurar aquilo que tanto busco.
E não tenho pressa.
Não preciso me fazer entender e não preciso testar meus poderes com o mundo.
Aqueles que sentirem o que sinto estarão comigo.
Adeus aos vampiros. Adeus às sombras da noite.
Outro tipo de força preciso buscar agora.
Aquela que usava está gasta e obsoleta.
Agora minha realidade me pede outro tipo de cuidado.
E ainda não sei que cuidado é esse, nem que realidade é essa que me espera.
E ainda tudo o que quero é ser alcançada.
Mas sem paciência de mostrar o caminho.
Catch me if you can.

Friday, January 15, 2010

Alucinação tem poder!

Não posso dizer que minha vida tenha sido difícil até agora, porque sempre tive ajuda e suporte de pessoas que nunca tiveram obrigação de me ajudar.
Por mais que eu tenha que pagar por cada centavo que consumo. Por mais que eu tenha sido privada de algumas oportunidades que hoje fariam muita diferença.
Há privações de verdade.
Caracterizar minhas limitações como privações, seria um ultraje, uma falta de consiência e vergonha na cara.
É preciso olhar mais além, pra fora desse cercadinho que a gente constrói pra poder se lamentar do que não teve, do que queria e não pode ter.
Bando de burguesinhos mimados, é o que somos.

O fato é que pela primeira vez em minha vida, tenho um trabalho que me possibilita realizar sonhos.
Claro que, no meu caso, as coisas não podem ser tão floridas e bonitinhas. Tem que ter dor, sangue, tem que ter lágrimas. Tem que doer mesmo.
E doeu.
2009 doeu mais do que qualquer outro ano em toda minha existenciazinha de garota que tenta estudar e trabalhar e ser bem sucedida e mostrar pra todos que paga suas contas e "ninguém lava minhas calcinhas". Humpf!
E isso eu consegui. Faz tempo.
Agora vivo aquela fase de perguntas sem resposta do tipo: "O que é mesmo ser bem sucedida?"

hein? Alguém sabe?

Bem sucedido é aquele que devota sua vida pela liberdade?



ou aquele que dedica a vida pela vida dos outros?



sua vida pela ciência?



por sua imagem?



ou por seu espelho?



Pois bem... esse assunto muito me atrapalha e confunde, porque ainda não descobri, nos meus 31 anos, onde está a chave-mestre de dedicação da minha vida.

O que posso dizer é que batalho por minha liberdade dia a dia, tento me tornar uma pessoa melhor para o mundo e deixar lembranças boas naqueles que me conhecem.

E tenho meus sonhos, minhas fantasias. Já pensei em virar hippie e morar em São Thomé, já pensei em ser professora de inglês, de história, fazer ciências sociais, tirar o proficiency, trabalhar com marketing digital, ser uma super businesswoman, ser escritora, ser mãe.

Olhando agora, vejo que já fui um pouco de tudo isso... me fez sorrir...

Quando eu tinha 16 anos, conversando com minha amiga Ellen na escola, combinamos de ir a Londres. Aqueles papos de adolescente viajante, que sonha com um futuro perfeito, rico, de felicidade e harmonia e tudo estabelecido aos 30 anos. A gente achava que aos 30 a vida estaria pronta.
É claro que era papo absurdo, porque estávamos em um colégio estadual, tínhamos pais pobres e "fora do padrão" e não sabíamos se um dia daria pra fazer uma faculdade ou se teríamos um emprego decente que ao menos pagasse as contas.
E mesmo assim viajávamos, em nossas conversas psicodélicas, que um dia iríamos juntas a Londres. Londres. Londres!