Thursday, December 04, 2008

Les fenêtres sont grands

Grandes, largas e o vento sopra forte. Bagunça tudo aquilo que com tanto esforço coloquei em seu devido lugar.
Mas onde foi que guardei?
Por que tem tanta sujeira e pedaços e restos de mim escondidos em frestas, arestas, buracos? Sob as roupas e atrás dos livros.
Peças quebradas do meu jogo preferido.
E pra onde vai tudo isso?
Por que não desapareceu? Por que não voou e foi embora com aquele vento forte que bateu?
Minha energia parece diluída por esses cantos, atrás de todas as portas que fechei.

E nem é tão novidade nem tamanha a surpresa.
Somente a verdade ainda sem tomar corpo a ponto de personificar um desejo.
De zerar.
E começar tudo de novo.

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Olho para a cadeira vazia em minha frente e realmente não tem ninguém lá.

Saturday, November 08, 2008

É preciso acreditar (sempre)

Sem dúvida, entrará para a história.
Um presidente americano negro, quem diria...

Sua ideologia, seus objetivos conquistaram e seduziram a todos. O mundo foi conquistado por esta figura carismática e as expectativas são enormes.
O mundo sorri, todas as nações o apóiam.
Prova de que não é mais aceitável a conduta dos Estados Unidos, que se posicionam como Centro Onipontente do mundo. É preciso redefinir este posicionamento e entender que são mais um entre outros. Diferentes em política e cultura, porém iguais em importância. No mundo pós moderno não há espaço para unilateralismo.

Este novo mundo é plural, multicultural, convergente.

Espero que o mundo seja realmente beneficiado por esta nova figura. Que não seja sonho. Que não sejam apenas palavras.

Que o olhar americano sobre o mundo seja de paz, inteligência e humildade.












Escultura de areia em praia na Espanha









Festa na Indonésia, após vitória de Obama.










Comemoração no Quênia, pela vitória de Obama.

Friday, November 07, 2008

Obama, o círculo completo

"O círculo completo"
Demétrio Magnoli

Pouco depois da meia noite (duas da madrugada de Brasília), ontem, a CNN proclamou a vitória de Barack Obama na Virgínia, um resultado tão extraordinário quanto previsto pelas pesquisas. Richmond, na Virgínia, foi a capital da Confederação e, após a Guerra Civil, o laboratório das Leis Jim Crow, a legislação de segregação racial nos EUA. Desde 1968, invariavelmente, uma Virgínia ofendida pela Lei dos Direitos Civis, passada pelo democrata Lyndon Johnson, ajudava a eleger presidentes republicanos.
O voto da Virgínia representa, na história dos EUA, o que a queda do Muro de Berlim representou na história da humanidade: um julgamento sobre o mal.
Fora dos EUA, anti-americanos de esquerda e de direita – há os dois tipos, que se abraçam na hostilidade compartilhada à democracia – asseguram não existir nada em jogo nas eleições americanas. Os cidadãos americanos não concordam, evidentemente, e por isso entregaram-se como há muito não se via ao jogo político que terminou ontem. Eles imaginaram estar fazendo história – e estavam certos.
Barack Obama encara três desafios e será julgado pelo que fizer com eles. O primeiro é de política externa: adaptar os EUA a uma ordem mundial que não se parece com a “Nova Ordem” da hegemonia americana proclamada por George H. Bush, o pai, no discurso de 11 de setembro de 1990 sobre o fim da Guerra Fria. George W. Bush, o filho, a partir de um outro 11 de setembro, o de 2001, engajou-se na aventura neoconservadora da “reforma do mundo” pela força das armas. O fracasso dessa aventura, junto com o colapso financeiro atual, descerram o cenário de uma ordem multipolar, na qual os EUA não são a “Nova Roma”, mas o primeiro entre pares. Há quatro anos, Obama alçou-se ao centro do palco político americano em virtude do conteúdo do discurso que pronunciou na Convenção Democrata de consagração da candidatura de John Kerry. Naquele discurso, ele delineou um programa de conciliação entre o “famoso individualismo” americano e o imperativo da coesão social, que exige não deixar ninguém para trás. Toda a sua campanha presidencial estava prefigurada ali. Obama sabe que os EUA são tanto Franklin Roosevelt quanto Ronald Reagan – e que o sonho americano depende do cuidado com o vaso de porcelana no qual convivem os dois princípios opostos mas complementares.
O segundo desafio de sua presidência é restaurar o motor do sonho americano, emperrado há sete anos, ao longo de um ciclo de expansão acelerada do PIB no qual a renda do trabalho estagnou ou retrocedeu. Ele terá que fazer isso em meio à pior crise econômica desde a Grande Depressão dos anos 30.
O terceiro desafio começou a ser cumprido na madrugada de ontem, quando os cidadãos americanos o escolheram para presidir a nação. A mensagem emanada das urnas, que a imprensa tem certa dificuldade para interpretar, foi: raça não existe. O povo dos EUA mirou-se no espelho e revisitou seu próprio passado. Com a atitude de um professor que risca um parágrafo errado e o corrige na margem do caderno, os eleitores produziram o esboço de um futuro pós-racial para o país. Como a crença em bruxas, fonte de tantos crimes na Idade Média, a crença em raças oriunda da ciência e da política do século 19 pode ser vencida.“Como todo mundo, eu gostaria de viver uma longa vida. A longevidade tem sua importância. Mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus. E Ele me permitiu subir a montanha. E eu vi lá de cima. E enxerguei a terra prometida. Posso não chegar lá com vocês. Mas quero que saibam que nós, como um povo, chegaremos à terra prometida.” Martin Luther King pronunciou essas palavras há 40 anos, no 3 de abril de 1968, um dia antes de ser assassinado em Memphis, no Tennessee. “Nós, como um povo” não eram os negros americanos, mas todos os que acreditam na promessa de “uma união mais perfeita” inscrita na Constituição. O triunfo de Obama forma um círculo completo. A terra que King conseguiu ver está agora ao alcance da nação americana.

Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana, é colunista de O Globo.

Sunday, October 05, 2008

O medo causado pela inteligência

Não há nada tão eqüitativamente distribuído no mundo como a inteligência: todos estão convencidos de que têm o suficiente
René Descartes


Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:
"Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo uns trinta inimigos. O talento assusta".
E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava numa carreira difícil.

Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:
"Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma Ciência."

Quem não conhece uma pessoa medíocre, aquela que possui poucas qualidades, pouco valor, pouco merecimento e que vive a margem da razão. Apesar de parecer fácil identificá-las, não as confunda com pessoas burras ou pobres, pois existem diversos graus de mediocridade e cada um de nós já passou por alguns deles, mas existem pessoas que se perderam nesta viagem, e não evoluíram para a fase seguinte.
A prova disto está por todo o lado: Governos, empresas que não entendem de gestão de pessoas, estudantes que compram provas e trabalhos escolares, pessoas que lêem resenhas de livros e dizem tê-lo lido todo, analfabetos funcionais, aqueles que preferem assistir uma novela a ler um livro, enfim todos aqueles que direta ou indiretamente atrasam o desenvolvimento humano, seja por ignorância, seja por preguiça, seja por suas crenças, seja por teimosia, seja por dinheiro, ou seja, até mesmo por burrice.
O contato com a mediocridade gera mais mediocridade. Eles são um perigo que anda a solta, espalhando mais mediocridade, impunemente. Se afaste deles, mas se por acaso você for um deles, se esforce e evolua para o próximo estágio da vida. A única dificuldade é que geralmente medíocres não se reconhecem no espelho, por isso nunca deixam de ser medíocres.
Mas existe um teste muito simples para saber se você está evoluindo para o próximo estágio da vida: basta olhar no espelho. Se você reconhecer uma pessoa medíocre bem na sua frente, já estará a apenas um passo de transcender para a próxima fase. Agora basta querer, a escolha é sua.
Eu faço o teste freqüentemente, e algumas vezes não gosto do reflexo que o espelho me mostra.

Na sua obra "A Divina Comédia" de 1321, Dante Alighieri já apresentava um destino bem interessante para as almas das pessoas medíocres: Mal passavam pela porta do inferno, já eram barrados, não podendo nem cruzar o rio Aqueronte:"'Mestre, que ouço agora? Que gente é essa que a dor está prostrando?'".'Queixa-se dessa maneira', tornou-me, 'quem viveu com indiferença a vida, sem ter nunca merecido nem louvor nem censura ignominiosa. Faz-lhes companhia um grupo de anjos mesquinhos, que a Deus não manifestaram nem fidelidade nem rebeldia, pensando apenas em si mesmos. Foram, com desdouro, expulsos dos céus; nem o inferno profundo os acolhera, pois os anjos rebeldes se jactariam de lhes serem superiores em algo.'
'Que dor tão cruel se apodera deles e os faz gritar, urrar tão fortemente?', eu perguntei. 'A razão disso é simples', respondeu-me ele.' Não lhes é permitido esperar o descanso da morte, e, com sina tão vil e abjeta, passam a invejar qualquer outra sorte. Seus nomes passaram no mundo sem deixar marca; o perdão e a justiça divina os desdenharam. Mas não desperdicemos mais tempo com eles; olha-os e segue em frente.' "".
Fico meditando e analisando quantas e quantas pessoas tem algum conhecimento diferencial aos que a humanidade convencionou em chamar de "normal", um talento especial e estão enclausurados em sua casca de ovo, por toda uma vida, não confiam em si mesmos, em suas qualidades ou por não terem oportunidade de serem vistos. Quaisquer que sejam os motivos, nunca poderão demonstrar ao mundo o seu brilhantismo.Quantos campeões olímpicos estão adormecidos por falta de incentivo, quantos cantores (as) fantásticos estão sucateando o seu talento no lugar errado por não terem uma oportunidade, quantos executivos estão com as carreiras estagnadas por estarem na função errada, quantas obras literárias maravilhosas estão engavetadas por seus autores e nunca poderão ser apreciadas pela Humanidade, quantas pessoas estão cursando a Universidade errada, quantas pessoas têm idéias brilhantes que não são aproveitadas.
Entretanto, encontramos inúmeros exemplos de pessoas medíocres e sem talento sendo bem sucedidas. Basta ouvir um pouco de música, ver um pouco de televisão, circular pelos corredores de algumas empresas, olhar nas prateleiras das livrarias, que você as encontrará.
Quanto talento estará sendo desperdiçado diariamente por falta de autoconfiança ou incentivo.

Não sou um poço de auto-confiança e muitas vezes duvido de minhas capacidades. Mas assumo minha mediocridade com olhar otimista de quem sabe que pode, e deve, deixar uma marca por onde passa.
Não almejo ser melhor que os outros. Mas desejo profundamente que meu talento não seja desperdiçado. E assim vivo.

Wednesday, September 17, 2008

Pra conhecer o Seu Lourival

Estou em Porto Alegre. As pessoas não parecem tão alegres aqui.

Nas ruas, comércios o sorriso é tímido e o olhar distante.
Alguns segundos de foco e só.

Eu nesta cidade desconhecida: Caminho pelas ruas. Encontro um beco. Nele, homens fumando e um característico aroma no ar... Por que não aqui?

Ainda caminhando, cruzo olhares com um homem. Um rapaz. A energia é boa e sorrio. Ele sorri de volta. Por poucos segundos nossos olhos se encontram e toda a cidade perde o foco.
Ele se vai, eu também.
Meu espírito se enche de alegria quando encontra estrelas pelas ruas. E continuo sorrindo.

Procuro lugar para jantar, mas não estou no lugar certo.
Quero música, cheiro de madeira. Luz baixa e uma cerveja pra relaxar.

Um restaurante indiano me chama a atenção. Lindo.
Dentro, nada inferior a R$ 70,00.
Fora, mendigos com frio. A noite é fria.
Saio em busca de outro lugar, mais meu.

"Lourival, desde 1953".

Devo admitir que pedi uma Erdinger devido a minha ignorância quanto às dezenas de diferentes tipos de cervejas que havia no cardápio (setenta, para ser precisa). Muitas, dos mais variados países.

Nas paredes quadros e fotos de uma cidade que não mais existe. Ela mudou muito, da porta pra fora. Aqui dentro, nada tem pressa de mudar.

De certa forma me encontrei e coloco no papel algumas impressões deste lugar.
Marcado em minha memória. Por um leve toque em meu coração.

15/09/2008





Monday, September 08, 2008

O ar que respiramos

Lá de cima dá pra ver o céu. Ele é azul, pasmem!


Estava eu lá nas alturas quando vi esta imagem. E ela é bem mais feia ao vivo.


Uma placa de fumaça, sujeira e fuligem cobrindo toda a cidade. É triste, bem sei. Todos sabemos. E a respiramos diariamente.

Também lá de cima dá pra ver nosso tamanho real. Pequeno, insignificante. Somos realmente aquele grão de areia da praia. We fill it, and yet almost don't seem to be there at all.

É bom pra acalmar a alma. Esta "realidade" a que nos entregamos é demais irreal, engrandecida por nossos desejos, preocupações e referências. Engrandecemos problemas e necessidades.
Sei que é da natureza, do espítito humano elevar-se além do horizonte e buscar mais.

Na verdade, a vida é bem mais simplezinha...


Monday, August 18, 2008

Pin-ups

Elas foram usadas. Transformadas em representações do imaginário erótico masculino.
No século 20 surgiram, quando imagens de mulheres em poses sensuais passaram a ser apresentadas em calendários, pôsteres e o teatro de revista transformava mulheres em estrelas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, encontraram seu auge, estampadas em paredes de dormitórios, portas de armários e até na fuselagem de aviões, prontas para alimentar carentes soldados americanos, sedentos por um corpo de mulher.
Nada mais eficiente do que uma mulher gostosa pra apagar da mente de jovens soldados todos os horrores da guerra.
Explica-se porque, num país retrógrado e conservador como os Estados Unidos, este tipo de arte foi tão incentivado pelas autoridades militares.
De 1942 a 1946, 9 milhões de exemplares da revista Esquire são enviados gratuitamente para as tropas.
Só mesmo a Guerra para gerar preciosidades como esta.
Punhetagem política, típica do Tio Sam.

E então ela surgiu. Marilyn Monroe. A personificação do ideal da Pin-up. Nenhuma outra mulher caracterizou com tanta perfeição a realidade de uma pin-up: linda, sensual... e triste. Vista como uma peça moldada, sem personalidade e facilmente descartável.
E assim seguiu por toda a sua curta vida. Tentando ser levada a sério. E já sabemos no que deu.















Mas há que se admitir a beleza deste trabalho. Alberto Vargas era o artista da revista Esquire, nos tempos de guerra, e ficou famoso por suas “Vargas Girls” em aquarela.
Artistas como Gil Elvgren, Earl Moran, Zoe Mozert e tantos outros, deixaram uma extensa obra, digna de apreciação.
É o misterioso e fascinante universo feminino. E é arte. Lindos de se apreciar em todas as suas formas.


Friday, August 15, 2008

Marie MacGillis and the Jazzabilly Blues


Acabei de conhecer esse som. Coisas de amigos (crédito ao Jé) + MySpace. Fantástico.

O MySpace dela parece um túnel do tempo. Fotos, som, tudo lindo.

Aliás, essa coisa de pesquisa na web é muito louca. Cada vez que encontro coisa legais, encontro mais coisas mais legais.









Wednesday, August 13, 2008

Uploaded

É... faz tempo. Tempo demais. Ultrapassei todos os limites e me provei que, se a gente pára o cérebro, ele pára mesmo.

Certo, já aprendi.

E agora recomeço. Com novo foco, nova idéia e novo direcionamento para o blog.

Menos subjetividade, talvez.

Ainda não sei bem ao certo o que vai acontecer... vamos esperar pra ver no que vai dar.

Wednesday, February 06, 2008

Um pouco de lucidez

É que estou mesmo vivendo um conflito existencial pós-moderno. É essa fuligem, esse tudo que vejo e sinto, que sinto em minha pele, essa sujeira que sinto em minha pele.
Tenho tido vontade de chorar e ainda não encontrei o motivo. Não há motivo e todos os motivos do meu mundo se concentram em minha tristeza, no olhar pedindo socorro com a voz embargada.
Minha voz se calou. Tenho vivido o silêncio. Silêncio das perguntas, dos eternos questionamentos e incansáveis inconformismos.
Eu não me conformo. Não me conformo.
Eu dentro do todo e o todo me consumindo e eu me sentindo consumida e lutando contra e indo contra a maré. Mas a maré está em toda parte, corre para todos os lados, ela não é ascendente ou descendente. É fragmentada. Como tudo ao meu redor. Fragmentos de toque, fragmentos de paixão, de verdade.
Nessa maré sem ida ou vinda eu flutuo, percebendo todos os movimentos do mundo e implorando por um descanso, um alívio, um amparo.
Um simples sopro de verdade em meus ouvidos.
É que vejo tudo raso. Tudo raso. E sinto vontade de chorar e ainda não descobri por que.
Quando acordo, peço por uma gota de sentimento puro em meu café. E peço também uma pouco de entrega, uma porção de intensidade. Peço paixão.
Porque sem isso não vivo. Porque a maré me leva, nela vejo tudo e dentro do todo eu tento.
Tento entender esses fragmentos, tento juntar cacos do que sobrou da humanidade. Tento quebrar a geleira, entregando minha alma por todos os lugares onde passo. Quero minha alma escancarada e brilhante, solta e intensa, alegre e apaixonada.
Mas é frio. Lá fora é frio e raso. Pós-moderno no ar. Fragmentos, partículas, desmembrações, espetáculos, ambientes digitais, cibernética, desestetização, desdefinição, performances, Nietzsche, niilismo. Isso tudo tem me confundido.
Ainda sinto a voz embargada e os olhos meio úmidos, ainda vivos, mas não mais tão lúcidos. Ou talvez mais do que deveriam.
Talvez a tristeza não seja tristeza. Talvez seja medo.
Não, eu não tenho medo.
Inconformismo somado à dura constatação de que é assim mesmo e ponto. Pronto.
Me confundo porque nessa sopa em pedaços eu ainda busco um todo, mas mesmo o todo tem seu lado vazio. Ainda busco o humano quando deveria pensar em Megabytes. Busco o intenso quando deveria aceitar que as ideologias não servem pra mais nada. Busco o profundo quando deveria me divertir com o bizarro, me alegrar com o pink da noite paulistana.
Eu me alegro com a lua.
Mas a arte me seduz, me aponta uma resposta. Ela, que retrata tudo isso que não entendo, me seduz e me faz sorrir. Me faz sentir em casa, no lugar e tempo certos. Me tira da margem, me puxa para o centro e diz: Vem! E eu vou! Sorriso no rosto, interagindo e compreendendo, buscando e encontrando respostas não-verbais. Audíveis. Visuais. Virtuais!

Thursday, January 17, 2008

Multiplique-se

Marina Pedrosa é meu nome. Poderia ter Craddock no meio, mas devido a um rancor familiar, ficou só Pedrosa. E só. Bem simples.
Prezo pela simplicidade de ações, atitudes e posturas. Eu e meu nome estamos muito bem alinhados. E somos grandes amigos. Gosto de ser Marina.
Há quem diga que é um nome russo, o que me remete a uma lembrança nunca vivida de uma mulher loira, alta, muito magra e de cabelos curtos.
Ou a clássica "do mar". Também simples e óbvio.
Justo eu, que não sou nada óbvia.
Do mar trago em mim a fluidez, a inconstância.
Volume e silêncio.
Tormenta.
No entanto, há que se conviver com um mundo de diferenças, sem verdades absolutas. Há que se respeitar diferentes interpretações de uma mesma realidade.
E então, com muito menos paciência do que indignação, aceito em minha casa correspondências para Marina Pedroso ou Mariana Pedrosa. Ou um, ou outro.
Raramente recebo correspondências para mim mesma, o que poderia ser usado convenientemente a meu favor:
- Mariana? Não, não é pra mim, não. Deve ser a inquilina anterior. Vai pro lixo.
Mas infelizmente minha educação britânica me condicionou a acreditar que o trabalho enobrece o homem e que minha imagem perante a sociedade vale mais do que minha essência e verdade.
A verdade é que sei que sou todas elas e mais diversas cujos nomes são para mim incertos e até desconhecidos.
Recebo a todas, quase com carinho, cuidando para que sequem as que chegam em dias de chuva. E sigo, múltipla, pelos meses e caminhos de minha vida.

Saturday, January 05, 2008

Sangue

Era notório seu gosto pelo que é negro. Pelo árido e sinistro. Por onde passava, deixava sombra. Suas correntes, cruzes e roupas pretas anunciavam seu estilo. Ele não queria amigos. Não queria alegria nem sorrisos. Ele era denso, intenso. Profundo.
Seu gosto pela música se acentuava. Horas trancado em seu quarto, envolto pela inebriante fumaça de um baseado, seus cigarros. Drogas.
Buscava nela o encontro com seus desejos, que de belos não tinham nada. Eram músicas que falavam de raiva, cinzas. Ele tinha o inferno nas veias e gostava. Seus poucos amigos certamente compartilhavam do mesmo anseio e buscavam em instrumentos musicais uma forma de gritar ao mundo.
Gritar sobre o podre, sobre a hipocrisia, sobre o medo e o caos. Sobre tudo que é mascarado. Instintos animais, angústia, dor e lágrimas.
Paradoxalmente, seu amor crescia a cada dia, na mesma proporção em que sua música tomava corpo e suas composições surgiam mais profundas e assustadoras. Aquela menina de cabelos negros e longos sabia como amá-lo. Oferecia seu corpo quase como em sacrifício. Era inteira, era entregue. Não tinha vergonha de mostrar seu sangue. Sangue morto que de suas pernas escorria. Ele gemia de prazer ao sentir o sangue quente escorrendo entre seus dedos.
E os anos se passaram.
E, de alguma forma, ele teve que buscar seu sustento. A música tocada não provia aquilo de que necessitava. Era preciso ter um ofício.
E foi então que ele teve uma grande idéia: Alimentar o mundo!
Alimentaria o mundo com sua verdade. Daria às pessoas o sangue que a ele dava tanto prazer. Brilho em seus olhos! Excitação e alegria! Ele sabia! Havia encontrado uma forma de inserir sua verdade dentro das pessoas do mundo. Em suas veias, em seu ventre estaria ele. Em seus orgãos, excrementos. Lá ele viveria.
E foi quando abateu sua primeira pequena vítima, que andava sozinha pelas ruas escuras no retorno à casa após uma cansativa noite de aulas.
Não teve forças para reagir.
E, após cortá-la com delicadeza e exatidão, eliminando suas gorduras e fibras, a ofereceu ao público no açougue onde trabalhava.