Wednesday, December 16, 2009

Meu pai

Meu pai escreveu sobre meu blog:

"Demais o seu blog. Só me choca um pouco as sinceridades fortes e as pequenas agressividades. Mas acho que o blog é isso mesmo né? O reflexo da pessoa. E onde vc pode por tudo pra fora, comunicar... Mas mesmo assim, não se esqueça de colocar sempre algum conteúdo espiritual, bem positivo... uma frase do Dalai Lama... do Krishnamurti... sua mesmo... sei lá... Ah, é piegas, parece coisa de auto-ajuda... Foda-se quem não gostar! O que interessa é que funciona e as pessoas estão precisando mesmo. PAZ E AMOR, bicho! E falando em pensar demais, aprenda também a dar um tempo nos pensamentos. A folha em branco na verdade é que é a assência. Nos é que a rabiscamos o tempo todo. E evite falar palavrão, que é muito feio. Beijo."

Daí que penso várias coisas desse comentário. Vamos a alguns pensamentos:

Primeiro que o cara é foda (ops... palavrão não). O cara é demais. Tenho aquele lance de querer agradá-lo e querer que ele goste de tudo o que faço. E já sei faz tempo que todos os passos que dou, minhas escolhas, meus verbos, minhas perguntas, absolutamente tudo o que faço, faço para que ele me ame mais.
Emprego novo? Promoção? Ele certamente será o primeiro a saber. Viagem, estudos, idéias? É pra ele que digo, mesmo que seja ainda só um planejamento ou suposição.
Porque quero que ele me ame mais, né?
Porque quero valer a pena pra ele.
Porque meu irmão é músico, herdou o talento dele e conversa sobre acordes e harmonias e histórias do rock n' roll que eu não sei.
Porque minha irmã tem 15 anos e é linda. E sabe dizer "eu te amo" com muito mais facilidade que eu.
E eu sou essa coisa torta, inglesa demais, agressiva demais, travada demais.
E acho que ele já teve referências inglesas demais na vida dele pra saber que dessa gente é melhor manter distância.
Acho que ele vê minha mãe em mim. E daí acho que deve dar um treco nele. Tipo um arrepio mesmo.
Deve ser coisa de irmã do meio.

Mas o que eu diria a ele, se eu fosse menos torta, menos inglesa e menos travada, seria algo assim:

Sentimento e talento lançados de maneira tão sublime no universo da música, esse universo infinito e complexo que toca as pessoas com sensibilidade forte e suave, com alma limpa e liberta.
Sempre em busca da sua verdade, sua felicidade, disposto a abdicar de sentimentos tão intensos e verdadeiros, capaz de abrir mão de mundos construídos e estáveis.
O dom da transformação te pertence.
O orgulho que sinto por você é tão forte e uniforme e intenso que agora, olhando pra esse texto, me sinto limitada e até ridícula, tentando transformar em palavras sentimentos tão contínuos e permanentes. Mas prossigo, tentando me expressar.
Essa vida, cheia de segredos e surpresas, que nos colocou tantos obstáculos, vitórias e derrotas, acabou por nos mostrar nossa força e nosso poder em conduzir nosso destino.
Você me ensinou a conduzir meu destino.
Você construiu uma mulher.
De uma coisa informe, indistinta e vazia, vc me transformou numa mulher forte, com argumentação consistente e pensamento inteligente.
É verdade que me lancei no mundo sem limites, que quis experimentar todas as verdades do mundo e que me tornei um tanto agressiva.
Mas isso também aprendi com vc.
Porque aprendi que verdades só são verdades quando sentidas na pele, quando vivenciadas pelo espírito e sentidas com todos os nossos sentidos.
Eu te amo justamente pela educação que me deu.
Por ter aberto meus olhos para um mundo diferente, para ter uma concepção totalmente diferenciada, por me ter dado a capacidade de ser consciente e vivente da realidade (ou ilusão) que é esse mundo que vivemos.
Porque dentro dessa realidade, eu me enxerguei diferente.
Porque sinto que minha parcela de contribuição pode ser infinitamente maior do que é esperada de mim, como simples grão de areia no universo.
O que quero é justamente lançar um olhar amoroso a tudo ao meu redor e me certificar (e a todos que passarem pela minha vida) de que o mundo é mesmo bom.
Você é minha referência, meu impacto, meu primeiro pensamento a cada novo passo que a vida me proporciona.
Seu papel, seu peso, vão repercutir por todo o infinito, para mim e meus filhos, netos e bisnetos.
Sua essência permanece e permanecerá viva e dela necessito para continuar sendo a mulher que me tornei.
Porque ela é você.
Eu sou você.
E essa retórica não é musica, mas são palavras.
Também poesia, também amor e fluxo, paixão e movimento.
Captações do coração. Arte.
Minha singela tentativa. De chegar a seus pés.




(e a partir de hoje, no more palavrões! Porque, cá entre nós... é muito feio mesmo!)

Friday, December 11, 2009

Venha

Essa tua tentativa de encontrar em mim aquele tempo em que o tempo parava e as palavras não eram necessárias, já se foi.
O tempo se foi, aquele quando minha carne era dura e meu corpo te envolvia e fazia tudo acontecer sem um mínimo de esforço teu.
Quando minha boca te sorria um sorriso forçado, quase que desesperado, e você fingia não perceber.
Foi-se o tempo em que eu fingia não saber.
Vou arrancar tua essência do teu peito.
Te fazer sangrar essa verdade fraca que compõe tua frágil e insincera argumentação.
Vou te fazer sorrir forçado. Cansar tua boca de vontade de falar algo que se escute.
Te escutar com sorriso largo e genuíno interesse.
Vou querer saber mais e te confundir.
Vou te enfrentar.
Vou te fazer se arrepender de ter aberto novamente a porta pra mim.
Achou que eu fosse entrar quieta, né?
Achou que eu tomaria cuidado pra não fazer barulho.
Vou te fazer pagar a conta, contar os minutos pra me ver de novo.
Te deixar frágil e febril.
Te deixar menino e te cobrar tua mais viva masculinidade.
Vou te fazer carinho pra te enganar.
E desprezar tua fragilidade.
Vou viver da alegria da tua presença, mas só depois que você fechar a porta.
Só quando a porta fechar, sorrir.

Ou simplesmente te ver de longe, te sorrir num doce aceno e te deixar passar.

Sunday, December 06, 2009

Mario e o centro de São Paulo na UTI


Está rolando agora, na praça Roosevelt, ato de apoio a Mario Bortolotto que foi baleado ontem à noite.


O centro de São Paulo está na UTI também, um morto-vivo imundo, fedendo a mijo, intoxicado de crack.




Enquanto isso...

O descaso de Kassab com moradores de rua e ações policiais sem continuidade: a cracolândia continua cracolândia.

Já faz cinco anos que o programa de revitalização do Centro, com verbas do BID, está quase parado. A prefeitura de Kassab paga multa ao banco por não utilizar os recursos. Os albergues no Centro são desativados e o número de moradores de rua aumenta. O projeto Boracea foi enviado para o lixo e os planos para a região da Luz não foram adiante, como no resto do Centro.

Enquanto isso, Kassab inaugurou várias vezes a Nova Luz e proclamou várias vezes o fim da cracolândia.

A realidade desmente Kassab, mas o mundo virtual da classe média, alimentada pelos factoides, conforta Kassab.

Essa classe média, alimentada por boa parte da mídia, não quer saber de realidade. Prefere ela travestida.

Hoje o tema da cracolândia está em todos os jornais, mas só AGORA mostrou o descaso da prefeitura e a falta de vagas nos albergues. O Estadão e JT já tinham alertado sobre o abandono do programa de revitalização do Centro e também sobre o fechamento das vagas nos albergues.

A Folha dedicou editorial a exigir mão firme contra os usuários de drogas e Serra fez uma blitz espetacular.

O espetáculo vai continuar, afinal o que interessa é o faz de conta… e as pesquisas. LF


Saturday, December 05, 2009

Qualquer coisa pra sexta-feira

Tem uma taça de vinho aqui na minha mão, você sabe.
E era pra ser compartilhada, você sabe.
Mas essas coisas são escolhidas, você bem sabe.

Só que mais uma vez escolhi estar aqui sozinha, bem antisocial, bem esquisita.
Sem querer saber do que se passa com o mundo lá fora.

Porque fiquei resfriada, meu corpo me pediu arrego.
Cansado da tensão e pressão do mundo.
Cansando das dúvidas, da insegurança. Desse medo besta e dúvida de se estar fazendo a coisa certa, para as pessoas certas, na hora certa, com as palavras certas.
Meu corpo está cansado dos movimentos certos.
Minha garganta cansada das pausas e silêncios forçados, pelo medo da palavra errada.
Meu cérebro cansado de analisar posturas e palavras e jogos e expectativas.
Meu espírito cansado de tentar adivinhar expectativas alheias.

Por isso o vinho aqui.
Por isso a música alta e a falta de vontade de ver qualquer ser desta cidade.

Na verdade, até queria.

Queria me lançar na noite suja, entrar num lugar escuro e denso. Com pessoas escuras e tensas.
Maquiagem nos olhos pra mascarar a solidão.

Mas sou pobre. Comprei um vinho de 24 reais e isso já é o bastante para uma sexta-feira. Porque já não gosto de vinhos muito baratos e com muito corante.
Sou tipicamente um personagem da classe média brasileira.
Aquele que é pobre, tem salário só pra pagar as contas, mas assiste a filmes franceses e se imagina, um dia, caminhando pelas ruas de Montmatre, já que lá viveram Picasso, Salvador Dali e Van Gogh. Só pra rolar uma sinergia.

Mas volto aqui pra minha cidade, São Paulo.
De onde moro, ouço a música, os carros, as motos aceleradas, as vozes aflitivas das garotas alteradas. E aquele típico som de máquinas, um eco constante de movimento, de vida.
Falta descanso aqui.

Me esforço pra ouvir o silêncio, que não vem nunca. Já me acostumei. Dou risada dos bêbados que falam do fim do mundo e das pessoas que os perseguem, coitados, sem deixá-los em paz.

Mas estou sem vontade. Resfriada e cansada.
Tomando esse delicioso vinho, coloco novamente um som que me agrade. Que me faça escutar o silêncio do caos. Ao menos aqui, o caos não entra.

Doce ilusão minha.

Porque chega um mosquito que fica zumbindo na minha orelha.

Daí lembro do convite que recusei de companhia pro vinho.

Recusei mesmo, por motivos tão existenciais quando todas as minhas indagações de ser ou não ser nesse mundo de conflitos existenciais. Sou uma mulher de regras mesmo. Nunca vi mulher com tantas regras como eu.
Tem que ser assim e assado. Tem que falar assim e assado.
Tem que querer assim. E não assado.
Tem que querer.
Feelings are intense. Words are trivial.

Thursday, November 26, 2009

I did it!


Porque meu mundo...

é do lado de lá!


Nerd ou o que?


Tenho certeza de que daqui a uns anos vou lembrar deste dia e pensar:
Meu Deus, por que não atravessei a rua?






Sunday, November 22, 2009

Dissolved

O pé na terra me fez um bem danado. Sentir o gelado, úmido da terra e me envolver como numa dança. Relaxar todos os músculos, enquanto sujava meu corpo.
Foi bom.
E ainda tenho frio na barriga quando lembro do que aconteceu. Quando me sinto sozinha e percebo que a vida está caminhando, tudo indo. Não pude parar o tempo pra me acalmar.
Mas preciso seguir íntegra, inteira. Verdadeira e entregue.
A esta vida que tanto me assombra, me conquista, me intimida e intriga.
Essa, que me faz querer sorrir, sempre. Aprender, tentar.
Quero muito a plenitude da minha alma em todos os passos que eu der. Quero minha essência refletida em meu olhar.
Minha verdade em minhas escolhas.
Quero perder o medo da vida.

Foto: Fernanda Preto

Wednesday, November 18, 2009

Dor

Era um quê de esperança, era sim. Uma vontade de final feliz daqueles que a gente acredita que exista ainda, depois de tantas lições e visões e entendimentos claros e não tão românticos. Tão claros como um soco no estomago.
Mas ainda assim, ela tinha essa vontade de relaxar nos braços de seu homem. Carinhoso e delicado homem cheio de desejos de felicidade e amor puro.
Mas ele errou.
Ela errou também.
E de incontáveis erros e insistências e tentativas e erros...
O interessante da história é que ela sempre tentou poupá-lo. Sempre quis evitar seu sofrimento. Sentia-se responsável por sua alegria e queria preenchê-lo com aquela felicidade que na verdade não era dela. Mas que com esforço tentava transformar na felicidade dos dois, para o mundo.
Ela tentava poupá-lo de palavras duras. Queria que ele entendesse a vida, suas idiossincrasias. Suas verdades. Seus desejos e vazios.
Sim, ela tinha seus vazios e angústias. Ela sofria a falta de algo que nem mesmo acreditava ser necessário, já que tinha consigo a pureza e a beleza do amor.
Alimentava essa pureza e gostava de ser vista desta forma. Depois de tantos anos, tantas tentativas, tanta vontade de viver um amor de verdade sem bloqueios, sem amarras ou impedimentos.
Mas, tadinha, ela era meio torta.
Como muitas mulheres são.
Culpa dos tempo hipermodernos. Essas dúvidas e desejos de sei lá o que, de se completar mais, de querer mais, querer aquilo que não se tem. Querer que o outro saiba exatamente o que falta e haja com força e assertividade masculina.
Que tola ela foi.
Ela que tinha.
Se culpava por querer mais. Por querer aquilo que imaginava que queria. Aquilo que preencheria aquele vazio que aumentava e aumentava.
Mas ela foi forte e foi diferente.
Quis que fosse de verdade. Quis que fosse doloroso, potente, sofrido.
Quis arrancar daquele coração sensível toda possibilidade de evolução, todo desejo de mudança, toda vontade de mais.
Quis que ele desejasse mais também.
Ele, obviamente se desequilibrou.
Nunca antes havia sido tão estimulado ao novo, ao olhar diferenciado e à dor.
Sim, à dor.
Ela o conduziu à dor e à insegurança. Ao medo de não ser. Aquilo que ele com tanta verdade desejava ser.
Ele a teve tão inteira, tão entregue.
E então, desmistificou-se.
Sua tristeza nem foi tanto pelo que fez, já que havia justificativa.
Brincadeiras e desejos são perdoáveis.
Todos têm os seus, por mais obscuros que pareçam.
De tanta verdade que quis, perdeu-se em sua busca.
E se machucou ao ver a dor causada no ser amado.
Quase como uma mãe que sofre pela queda de sua criança indefesa.
E aí?
Lá no fundo da dor, o que se sente?
Medo e alívio.
Alívio por lançar a máscara ao espaço, pois é na verdade dos fatos que encontra-se a resposta buscada.
É na consciência plena e pura que se vê o chão onde se pisa.
É na dor que se opta pelo ser. Pelo querer. Pelo findar.
A dor mostra os limites, mostra as extremidades do corpo, ali onde os átomos se fundem com o mundo.
É ali, naquele preciso instante que se encontra a liberdade.
O recomeço.

Sunday, October 25, 2009

Uma noite dos meus 31 anos

Hoje me senti desorientada. No sentido de não saber pra onde ir, como interagir, como me aproximar. Antes isso era tão simples. Uma piada, uma brincadeira pra quebrar o gelo e lá estava eu, no meio da roda, protagonizando um rápido momento na vida de algumas pessoas.
Agora me sinto mais vulnerável, mais frágil.
Postulei tal comportamento como antisocial e careta, simplesmente para mascarar minha insegurança e fragilidade, como sempre.
Ainda aguardo a visita daquele que encontre isso em mim.
Com o passar dos tempos, agora com meus 31 anos, sinto o chamar do mundo. A necessidade latente de um posicionamento puro, verdadeiro para o mundo.
Ainda não o tenho, me desculpem.
Continuo me questionando e questionando.
O que acontece agora é que sinto e vejo muito mais claramente minha forma de agir e interagir com o mundo.
E me pareço agressiva, sim.
Faz tempo que me sinto assim e - juro - tento muito relaxar, oferecer mobilidade e flexibilidade a meu espírito. Realmente quero.
E cada vez mais sinto que posso ser ajudada pela presença de pessoas a meu redor que discutem, argumentam, posicionam-se de forma a me oferecer, involuntariamente,respostas tão difíceis de se obter sozinha, dada minha sólida e sóbria visão de mundo.
Hoje reencontrei a Beth, depois de três anos.
Três anos de meias conversas por MSN.
Apesar de suas dores, seus disabores, seu cansaço, ela continua leve. Seu viço é o mesmo e seu sorriso largo ainda brinda o mundo com leveza e - solta - ainda sorri.
De um amigo ouvi que sou marcante.
Passo e compasso marcantes. Mensagens fortes.
Ainda assim, quero recompor-me. Reencontrar-me com o suave da vida, com a brisa da noite e a leveza de simplesmente estar. Estar presente e envolta em uma realidade.
Realidade que mascaro, a qual me protejo, já não tão solta ou entregue quanto antes.
Não acredito que seja natural da idade. Nem da realidade vivida.
Minha realidade é aquela que construo para mim mesma, a partir de meus conceitos pré-concebidos.
Tenho medo de estar me fechando,construindo travas e mecanismos de defesa cada vez mais consistentes.
Preciso da presença desses amigos para massagearem minha alma.
Dori e Beth.
Me proporcionam um respiro profundo.
Que naturalmente me conduzem a um sorriso bom e tranquilo.
Às 04h da manhã de um dia dos meus 31 anos.

Friday, October 23, 2009

The world is pink!!




Não dá pra deixar de acreditar na beleza da vida e na delícia que é ser gente.

Wednesday, October 21, 2009

Mania de video

Que mania que estou de video, né?

Pois não resisto, achei mais um...

Esse tipo de coisa me faz ver como tem gente pensando coisas boas e simples. Coisas possíveis. Sempre ligadas ao simples, ao voltar ao que éramos, à inocência e à essência do humano.
Você não acha? As campanhas e ações na web são muito mais verdadeiras, mais reais, mais próximas. Esse video é uma ação de uma empresa de automóveis. Se em princípio pode-se pensar que é uma baita coisa estranha, pra mim é sinal de novos tempos que me deixam muito feliz.
Grandes empresas pensando no simples, no toque de humanidade que há tanto tempo se esqueceu. Daí que falo que o que se faz na web deve ser pensado, planejado. Pra causar o impacto que se quer.
A gente não quer deixar algo de bom para o mundo?
Pois então... aqui é o espaço ideal. Acho que a gente tem que ler o livro A era do vazio, sim. E fazer muita terapia... pra evitar cair no efêmero e na vaidade. Para que o que se faça, seja feito para o mundo e não pra nós mesmos.
Para que um sopro de coisa boa seja lançado ao vento, ao invés de simples alimento para a auto-estima.


Free Hugs Campaign

Uma idéia simples, um abraço e uma câmera na mão.


Saturday, October 17, 2009

Tarantino's Mind

A cada nova pesquisa, novo passeio pela web, algo de fantástico aparece pelo caminho...


Monday, September 28, 2009

Papai

som legal, com gente legal.
amadorismo do meu irmão na filmagem... rs... mas o som tá demais

Saturday, September 26, 2009

Cada mosca na sua sopa

Video extraído do blog do Luli Radfahrer, que tanto tem me inspirado a ler mais e pensar mais e questionar mais tudo aquilo que eu pensava.
Acho que minhas dúvidas e argumentos sobre a comunicação digital estão tomando um rumo mais sociológico do que midiático ou corporativo. Ainda não encontrei o fio condutor, mas de qualquer forma, o lance é mesmo 2.0. E tá todo mundo meio mosca morta nessa sopa.

Thursday, September 24, 2009

Ensaio Pitanga

Uma mulher.

Uma nova percepção. Deliciosamente inteira e entregue a si mesma, como se pela primeira vez realmente se olhasse.

Sente suas curvas, doces curvas iluminadas e captadas num delicado momento de arte e ousadia.

Posado corpo que se entrega à câmera com simplicidade. Para que capte o movimento de sua alma, de seu mais íntimo desejo de libertação.

Sua sensualidade naturalmente se aflora, pois é.

É mulher em essência, é mulher que sente... sente e

sorri.

Sorri, pois seus estímulos são seus próprios desejos, suas fantasias e seu perfume.

Onde está a sensualidade da mulher senão em seu próprio ventre? Em suas histórias inventadas, suas fantasias, no sangue em suas veias?

Em pose para a câmera, expondo seu corpo em retratos de intimidade, ela não usa máscaras. Não representa um personagem fictício.

Neste momento em que brinda à alma feminina, sente-se viva e real.

É viva.

Uma viva mulher.

Com alma e sonhos.


http://www.ensaiopitanga.com/

A idéia deste blog é falar sobre a essência feminina, sua natural sensualidade. Seus mistérios e sonhos. Expor a alma feminina através de fotos, contos, poesia. Enfim, com arte. A mesma arte com que tentamos nos descobrir, nos reinventar e nos amar. A cada dia, através do olhar e toque que lançamos ao mundo e a nós mesmas.

Sunday, August 30, 2009

Respostas

Minhas incertezas e desacertos acompanham meus passos, compoem este todo que sou eu. Meu inteiro. Meu contexto. Meu caminho.

Quando conseguirei transitar firme pelo caminho das emoções? Quando permitirei a meu ego ser apenas um instrumento de meu destino? Rico e poderoso destino conduzido pelo caminhar de meu espírito alimentado. Nutrido por minhas ações.

Até que ponto a passividade é fio condutor para a evolução do espírito? Não. Eu veementemente acredito que a nutrição do espírito é feita pela ação. Pela força dos atos, pela coragem das escolhas e pela respiração forte... Respiro profundo quando em dor.

Quando permitirei a meu corpo sentir a dor de um coração partido, de um desejo abandonado? Permitir que se vá, realmente, aquilo que pede para partir.

Quantas perguntas precisarei ainda fazer e quantas serão as respostas encontradas? Neste momento não mais me preocupo com quais serão elas, mas quantas.

Minha dúvida não são as respostas em si mesmas, posto que delas uma ação brotará. A questão é quando surgirão. Quando brotarão em meu ser e quando verei aquele lampejo de luz, aquele brilho intenso de um encontro desejado a tanto tempo, com tanta intensidade. Como um encontro de dois amantes, após longa e dolorosa espera.

Vê que o que busco é aquele sorriso? Inundada, devolvo ao mundo as mesmas perguntas, como tentativa de aliviar o peso que carrego em meu ventre.

Não aguardarei. Decidi sorrir.

Saturday, July 18, 2009

Diz a lenda que a raridade do trevo de quatro folhas o transformou em um poderoso amuleto. Os antigos magos druidas, que habitavam a Inglaterra por volta do ano 300 a.C., acreditavam que quem possuísse um desses trevos poderia absorver os poderes da floresta e a sorte dos Deuses. Ainda segundo a lenda, é preciso ganhá-lo de presente e depois presentear três pessoas.
Quando se ganha um trevo de 4 folhas, diz a tradição, a pessoa recebe votos de prosperidade, saúde e fortuna. Ainda segundo a tradição, a cada trevo que se colhe, brotam seis novos, multiplicando a sorte para todos.
O número de folhas representa um ciclo completo, como as 4 estações, as 4 fases da lua ou os 4 elementos da natureza.



No meio de tanto concreto, me faz um bem danado cultivar algumas plantinhas. Especialmente esta, com uma história tão bonita.



Friday, July 10, 2009

O que temos para hoje?

Ah, veja só!
Vamos sorrir juntos!
As estradas estão boas hoje, o caminho é curvo, mas constante.
Seu corpo se movimenta em minha direção e fica leve com a brisa que bate e te empurra para o desconhecido.
Veja, as luzes estão se apagando. O filme vai começar.
Coadjuvante de minha estória ou quer o papel principal?
Podemos negociar.
Toda minha vida é negociável, flexível. Contanto que intensa e livre. Voando por aí.
Eu vôo, sabia?
Vôo pelos cantos da minha casa, entre as músicas que vejo no ar. Elas voam comigo e cantam pra mim.
Quer cantar também?
Veja! O dia já é noite!
Agora as luzes se acendem e os monstros saem às ruas.
Porque a noite é bela e até os monstros podem ser seduzidos pela beleza.
Eu quero a noite aqui dentro. A lua toda pra mim.
Você já olhou a lua por um bom tempo? Já viu que ela olha pra você também?
Que roupa vou usar? Meu batom preferido?
Lá vou eu de novo, brincar de levar o mundo a sério. Prestar atenção às pessoas como se fosse seu último discurso. Olhar a todos nos olhos, intensamente. Até que se amedrontem de mim.
E com um doce abraço, estamos todos perdoados.

Hoje chove

Te imaginava chegando, todos os dias.
Te via ouvindo minhas músicas.
Te sentia percebendo meus movimentos e se aproximando, com delicadeza e medo.
Te escutava. Captando minhas palavras e compreendendo as entrelinhas.
Tudo isso em meus constantes poéticos delírios de amor.
Quem sabe eu finalmente perceba que o destino opera, sim, em cada movimento e pensamento meu.
Que minhas estórias e ilusões e esperanças são mentiras. Confortantes mentiras minhas.
Quem sabe eu viva o presente e ame, e fale, e grite, e aprenda que o orgulho é inútil e o ego...
Ah, o ego... tão... pequeno, tão limitador.
Quem sabe isso me fortaleça ainda mais, me faça aprender um pouco mais e me faça viver o que é real e não apenas o que é imaginação e desejo.
Porque até então, teimosa, não abria mão do que desejava, mesmo que sozinha, em pensamento.
O que quero dizer é que sentirei saudades e meu coração dói...
Porque não falei o suficiente. Não falei.
Em nossos encontros fugazes, nossos momentos de paz. Era o silêncio que reinava entre nós. Prazer e silêncio.
Fui orgulhosa. Eu, em meu trono de prepotente segurança.
Queria que você se orgulhasse de meus passos. Admirasse meu mundo. E quisesse fazer parte dele.
E agora me despeço sozinha, sem você pra abraçar e falar “boa viagem”.
Talvez essa seja a forma de me e te libertar, de dizer o adeus legítimo, após tantos outros que já disse sem querer dizer, sem sentir. Sem dizer.
Porque sempre te quis perto. Sempre te quis.
E não recebi nenhum telefonema.
E me afastei em todas as suas cruéis tentativas de aproximação.
Não nos encontramos, por algum motivo.
E vai ser triste não te imaginar chegando. Triste não te procurar pelas ruas. Triste não perguntar por você.
No entanto, você sempre esteve longe. No entanto, sempre ausente.
Eram minhas estórias imaginadas que te mantinham ligado a mim.
Ainda te acho lindo.
E caminho para a felicidade, como sempre.
E liberto meu coração, finalmente.
E hoje, ironicamente, chove.
Yes, it's time. Usually this perfect time of the night. When everybody's out, looking for something, for someone to find.
At this specific time, I just turn the lights low and play some nice music... to relax and to smile.
Because I really smile alone, you see?

And to smile with me, you should listen to this: Baby it's cold outside

I just love being here with my soul, playing with my time and my fantasies. Where I lay calmly and breath deeply, just doing all these things I like. I live to fantasize.

Looking for myself instead of looking for something else. Have so much to find within me. So much to find.

The music, the incense, the low light and myself, we fulfill the scene. Almost magic.

I love the fantasy I make of myself.

Tuesday, July 07, 2009

Se tiver coragem...

Sei que parece triste e pareço inconstante. Sei que tudo o que olho se altera. Meu olhar altera a realidade.
É a percepção diferente de tudo o que vejo que transforma o que sinto, o que quero.
A música termina e deixa no ar aquilo que não foi exposto.
Mas eu exponho.
Exponho com marcas e olhares. Exponho com lucidez e força.
Quero ver seu mundo. Observá-lo de longe e senti-lo. Não deve ser tão diferente nem tão interessante. Mas ainda assim, quero transitá-lo com liberdade e sutileza.
Só que preciso de muito. Preciso da necessidade em me querer por perto, preciso do pedido: Venha...
Porque eu vou. Eu vou porque a vida me empurra. Me leva pelos caminhos que escolho com o instinto, com a alma e com o olhar.
Meu olhar é muito mais intenso e muito menos doce do que possa imaginar.
Ele carrega uma estória densa, cheia de contra-sensos e discordâncias.
Você sabe sair do seu ritmo? Mudar de cadência?
Pois eu sei...
Eu transformo a fala, o sentido, a lógica da maneira que me convém.
Isso tudo se encontro espaço, se encontro o caminho, se o chão for de terra.
Eu vou.

Carinho da alma

Te confesso que por mais que eu queira, não te encontro nas minhas lembranças…
Não posso te tocar, não te vejo.
Não sei em que momento decidimos, ou eu decidi, quebrar o feitiço. E ele se rompeu, ou eu o rompi.
Tão pouco tempo, tão pouco de você, tão pouco de nós. Tudo tão pouco…
Você não me parece uma pessoa excepcional da qual eu me apaixonaria sem esforçar-me e não encontro nas tuas palavras, pelo menos nas que eu escutei até agora, nada que valha a pena de verdade. Mas mesmo assim você esta aí, nas nevoas desse minúsculo momento feliz, intentando ser, intentado fugir, aparecendo e desaparecendo em mensagens eletrônicas, em momentos fugazes. Que ridículo, grita minha mente, meu corpo e meus sentidos. Ridículo não poder te ocultar nesse emaranhado de novas e saudáveis e bonitas sensações que encontro agora que sou livre, que pude me livrar desses beijos tão escuros, desse polvo gigante, dessa ansiedade, de toda essa estúpida intensa loucura. Agora que sou livre dele. Desse estúpido vampiro que deixei entrar na minha vida. Quero esquecer tua sombra mas, talvez, seja ela justamente o que me mantém fiel ao meu sentido de auto preservação. Tua sombra, teu minúsculo presente, tua minúscula presença, teus minúsculos gestos, esses que não te comprometem. Não quero que você se comprometa. Eu me livrei! E isso é o mais engraçado e o que mais confunde. Porque gostaria de ter você a uma distancia fácil, algo entre o estirar dos meus braços e o fechar das minhas mãos, um segundo antes de que eu possa te aprisionar. Não quero te aprisionar, nem que você se aproxime tanto aos meus longos dedos, mas gostaria de ter você aí, onde eu possa te ver, te falar, como estou fazendo agora, sem que você se acovarde, ou se arrependa, ou se surpreenda, ou ria. Eu não sei muito bem quando foi que te mostrei meu espanto, minha vertigem a tudo o que seja estar muito perto de alguém, essa minha terrível vertigem e espanto de estar doente de amor. Talvez eu saiba... Acontece que eu não quero ficar doente outra vez, não quero me contagiar. Não posso. Será possível amar sem ficar doente? Será verdade que a gente só ama quando fica doente do outro? Eu gostaria de provar outra forma de amar. Talvez menos intensa, talvez menos dolorosa, talvez menos doente. E estou procurando. Não será com você essa nova forma, acho que já sei, mas a tua distante presença é o que me mantém fiel ao meu sentido desta busca. Me livrei!!!! Então preciso desse pouco de você, dessas tontas mensagens eletrônicas, dessas estranhas visitas insólitas, desses encontros rápidos, incoerentes e inférteis que não vão levar a nada, só a que eu me cure sozinha as feridas. Essas que eu consegui quando me entreguei, quando me deixei contagiar de loucura, possessão, ciúme e amor. Não será o mais saudável, estou de acordo, mas sei, sem lugar a dúvidas, que era amor, um amor primário, livre de filosofias e intelectualidades, um amor precário, egoísta, feito de animalidade. Essa que sempre esta aí, encurralada. Mesmo que a gente lute por escondê-la, reprimi-la, ela sempre esta aí. Eu a soltei. Quantos tiveram coragem? Eu tive. Vivi esse amor como um instinto, como uma necessidade, como uma resposta violenta a esse falso sentido comum, barato e fédido que sempre está por todos lados e em todas as pessoas, inclusive em mim. È estranho que eu tenha me deixado contagiar assim, é verdade, mas é assim, me deixei contagiar. E não me arrependo de nada, o que pode ser muito triste ou muito feliz de acordo de onde você olhar. Agora que eu sou livre e que me estou curando dessa terrível gripe. Obrigada por estar aí, absurdamente aí, completamente sem sentido aí, nesse canto da minha alma que eu não entendo, que eu quase nunca olho, que me invade de medos, de incompreensão, de solidão, de vazios, de timidez e de vergonhas. É com certeza o lugar mais frágil que tenho e você esta aí. Sabe, tudo isso é só meu e é melhor que seja assim, que você não saiba mais, que não entenda mais, que não me dê mais do que está disposto a me dar. Eu não poderia neste momento com mais. Nunca é uma palavra muito grande, tanto como sempre e já não me atrevo, como antes, a pronunciá-la tão impunemente.

(Veronica Cestac, um intenso relance de mim)

Friday, July 03, 2009

Texto que se encaixa


Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um sorriso gentil, acreditando resolver aí 500 anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. “Ô Betão, traz mais uma pra gente”, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins, que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.
Se bem que nós, meio intelectuais, quando saimos com alguém pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol. Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó, além dos garotos de cabelo bagunçado e All Star velho imundo. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico.
E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil!



(idéia de um desconhecido chamado Luciano)

Thursday, July 02, 2009

Michael Jackson e a fabricação de si mesmo

Paulo Costa Lima
De Salvador (BA)

"Homens promovidos ao estado de produto"

Mais do que qualquer característica pontual - voz, repertório, gênero - a construção de Michael é o personagem. Seus clips provam isso. E que personagem seria esse? Por que exerce um tal magnetismo?
Podemos evocá-lo facilmente através do estilo de movimento, uma cinética toda especial, uma dança eletrizante mas aparentemente disforme, dança sem lei que faz o corpo andar para trás, amolecer que nem borracha, deslizar sem gravidade. As crianças piram: seria um Chaplin trans-figurado pela pós-modernidade?
Esse personagem que canta e dança, atrai para si os adereços mais incríveis. Na verdade ele configura o corpo como adereços - e naquele famoso sacolejo de quadris que sempre emoldura uma pegadinha radical, parece nos dizer que o próprio pênis é um adereço -, existiria irreverência maior?
Com isso, personifica a rebeldia e a 'aventura' na terra do sem-limite, sua never-land interior, seu rancho permanente, de onde nunca pôde sair. Preso a um intrincado processo de fabricação artificial de si mesmo - impedido de seguir o caminho da identificação com um pai violento - transforma essa auto-fabricação (misérias e delícias) no foco de atenção midiática.
Repete compulsivamente esse fantasma de que não há pai, de que ele se inventa sozinho - tal como seu personagem.
Isso vale tanto para a dimensão ficcional como para o MJ real, que apresenta seu filho ao mundo de maneira esdrúxula, do alto de um hotel. Aparentemente não há registro do que é um filho. Como poderia haver?
Preso nessa condição, enxerga-se/ama-se em todos os meninos, no quase delirio dessa horizontalidade fabricada, onde ele também é um deles. Mas a onipotência da fama bate de frente com o sintoma - no final das contas ele realizou o desejo do pai, tornando-se o J. mais famoso. Esse conflito deve ter exigido medidas drásticas.
Ignora a genética e fabrica-se branco - não há limite. Envolve-se, portanto, numa intricada desconstrução impossível de sua negritude, que grita por todos os seus poros, em cada jeito de corpo, em cada foto de família. Dolorosa travessia ao nada da impossibilidade de identificação.
Imaginem um MJ futuro, já no auge das manipulações genéticas... O que aprontaria? Não é justamente isso que aquele famoso clip 'black and white' anuncia, fundindo dezenas de faces?
Ora, MJ não é apenas o corpo que morreu anteontem, mas também o conjunto bilionário de todas as representações que dele fazemos. Representações vivas que se materializam em covers espalhados pelo mundo afora. Quem não gostaria de deslizar eternamente com aquele gingado?
E ao oferecer ao mundo seu processo de fabricação artificial de si mesmo como objeto de adoração, está absolutamente alinhado com a necessidade pós-moderna de desvinculação da instância terceira de um Outro - pai, pátria, religião, instituição, causas sociais e políticas, moral etc.
E está também alinhado com as boas práticas do mercado. Um mercado para o qual a auto-referência representa o caminho da maior lucratividade, pela via da globalização, que se entranha nesse declínio do Outro através da flexibilização econômica - atores sem nada acima deles que impeça a maximização das trocas.
Como sinal dos tempos, o percurso de MJ absorve diversos traços característicos da vã tentativa de remediar a carência do Outro:

a) o discurso para o bando, para a gangue (esse é o ambiente dos clips), onde se distribui a responsabilidade da 'auto-fundação';

b) o impulso para a adição (mesmo que pela via da medicalização ou do consumo), um recurso imprescindível para enfrentar depressão e dor;

c) os signos da onipotência tão comuns ao estrelato;

d) um implacável enfraquecimento do espírito crítico (não há a quem prestar contas), daí para o endividamento, um passo;

e) as novas formas sacrificiais e a manipulação do corpo

f) a negação da diferença sexual e geracional;

g) a exposição da vida íntima como artifício de mercado (prenuncia os blogs).

Do ponto de vista das mercadorias, MJ representa um ponto culminante no processo de fetichização. Foi aí que ouvi do meu amigo João Carlos Salles a famosa tirada do velho Marx sobre o futuro do capitalismo, na direção do fetiche: as mesas vão dançar...
E nós, o que faremos sem essa pirueta fantástica fingindo ser coisa nossa?

1 - Flexão pós-moderna de uma famosa crítica ao capitalismo: "homens reduzidos ao estado de produtos"
2 - Cf. Dufour, A arte de reduzir as cabeças. Editora Companhia de Freud.


Paulo Costa Lima é compositor. Pesquisador pelo CNPq. Professor de composição da Universidade Federal da Bahia.www.myspace.com/paulocostalima - http://www.paulolima.ufba.br/ Fale com Paulo Costa Lima: paulocostalima@terra.com.br

Monday, June 22, 2009

Carta a um amigo radical

Qual é o problema com o trabalho? Porque esta luta tão ferrenha? Paga-se um preço por todas as escolhas. Todas têm seu preço.
E o preço que você paga pela sua não é menos amargo do que aquele pago pelo trabalhador.
Sua escolha é respeitada. Você vive à sua maneira, da forma que lhe convém, à maneira que sua verdade define como correta.
Mas como é possível ser "artista", "livre" com todo esse preconceito no peito?
Como levantar a bandeira da anarquia sem respeitar seu irmão, que anda por outro caminho, um que ele considera correto?
Como gritar por liberdade, se você vive em amarras, em crenças inflexíveis que não te permitem aceitar as diferenças?
Como, anarquista que diz ser, você não usa as palavras TOLERÂNCIA, PERDÃO, ACEITAÇÃO, FRATERNIDADE em seu vocabulário?
Você me deixa triste.
Consigo com muita facilidade transitar por entre mundos e mundos, entendendo, me apaixonando, avaliando, interagindo com universos diferentes do meu. E de repente, me vejo cobrada, ridicularizada, repudiada por minhas escolhas.
Isso é triste, é pequeno, é dilacerante, é castrador.
É triste que "artistas" sejam tão cárceres de si mesmos.
Eu, como "proletária" que sou, uso a arte em seu estado mais puro. Na interpretação subjetiva dos espaços que vejo, nas músicas que apresento e difundo entre aqueles que amo, nos textos que escrevo às três da manhã que falam sobre minhas sensações e interações com o mundo, sem pretenções. No amor, no sorriso, no verbo doce, na entrega.
Isso pra mim é arte, isso pra mim é livre.
E meu trabalho me possibilita caminhar por mundos, mares, lugares, fazer planos, levar comigo aqueles que amo, AJUDAR aqueles cujo potencial é latente e o desejo genuíno.
Já me enganei bastante, mas não me canso de olhar a vida com delicadeza de artista, leveza no olhar e força de caráter.

Um dia um amigo me disse:
"A good way of enjoying life as in an adventure trip is:
To have a dinamic, interesting, none routine, challenging professional life”

That’s my life. Looking for pleasure and excitement in everything I do. Aware of my choice’s limitations. But still delighted will all possibilities I am offering myself.

Saturday, June 13, 2009

Banho de água fria... quer mais o quê?

Ir à praia no inverno é assim... nada óbvio. Nada de biquini e marquinha sexy. Nada de pele grudenta de óleo, queimadura ou desfile de gatas malhadas.



O lance é esse aqui... silêncio, frio e chuva. Passarinhos encolhidos (e ainda cantarolantes), montanha escondida (e ainda com sua forte e intensa presença) e o mar... e as ondas ... e o barulho ininterrupto que fazem que não cansa, não cansa.



Nesse contexto, combinam os livros, a rede, a boa companhia e o descanso. Dormir bastante. Vinhos, queijos, música. Combinam a calma, a dúvida: "E agora? O que fazer?"



Nada... agora é hora de fazer nada e desfrutar com alegria como é que se faz isso.


Saturday, May 09, 2009

A janela


Vem cá.
Chega mais perto
Sente essa cidade.
Eu caminho e não consigo deixar de sorrir.
Ouve a música
Que é mais calma. Mais lenta do que os passos daqueles que por mim passam.
Eles não me vêem.
Não vêem meus anseios e minha alegria
Alegria em vê-los. Vê-los a distancia.
Eu compreendo, vendo-os pela janela.
Olho pela janela. Aquela que me permite sentir a brisa e o cheiro do asfalto.
Me permite inalar o cheiro de urina e suor. Veneno de gente
Que caminha inquieta a procura de si, a procura de algo, qualquer coisa
Que alimente o espírito, que aquiete a alma. Que aqueça o coração.
Pela janela eu olho e sorrio. Admiro o mundo que pra mim se apresenta
Rápido, sujo. Inquieto. Barulho e luzes.
E eu da janela, lenta. Com música lenta que me faz ver tudo diferente.
Que me faz entender que aqui estou, plena, para observar
Sou uma espectadora.
E esse olhar distante, e no entanto intenso e presente, me faz compreender
Compreender que tudo é rio, tudo é água
Tudo é fluido sob meus pés.
Passa.
Amanhã serão outros e a janela será a mesma
E a brisa será a mesma
Alimentando e fazendo sorrir meu espírito
Desejoso por alguém que pare, por um instante, e olhe para dentro
E me enxergue
E sorria pra mim.



02/05/2009 01h22

Wednesday, April 15, 2009

Quadradinhos da capital

O mundo deliciosamente de cabeça para baixo. O presidente negro dos Estados Unidos falando que o ex-operário-presidente Lula é o Cara.
E eu em Brasília, o epicentro dos acontecimentos políticos de meu país.
Estive em um centro cirúrgico, tentando entender sobre olhos e equipamentos, lentes intraoculares e política também, em sua forma mais viva. Pessoas.
Deitado, um paciente ansioso e tenso. Um personagem que, na minha história, é apenas um coadjuvante mas, ao mesmo tempo, a razão fundamental por eu estar lá. Interessante isso, não?
O paciente lá estava, ávido por reencontrar-se com o brilho de seu olhar, ver sua alma novamente diante do espelho. A alma faz falta.
E eu em Brasília, nesta terra que Kafka adoraria, ao ver seu imaginário transformado em realidade.
Também Aldous Huxley adoraria. Ficaria orgulhoso em ver seu Admirável Mundo Novo representado por prédios quadradinhos e quadras quadradinhas que formam quadradinhos de hotéis e outros quadradinhos para o que quer que se precise. Tem até o quadradinho da diversão. Fiquei com vontade de me divertir por lá.
Tudo friamente organizado. A praça da cidade tem árvores organizadas em fileirinhas simétricas cheias de tédio. Tudo perfeitinho.
Nas ruas não há gente. Não há lixo. Não há vida. O movimento é motorizado e quadrado.
O céu é azul e largo, me mostrando que está lá o calor do mundo. Democrático e intenso, como se tentasse oferecer a esta cidade a alma que lhe faltou ganhar.
De tão raras que são as pessoas nas ruas, os motoristas se mostram educados e respeitosos com os poucos pedestres. Notei isso porque, ao chegar na guia, o carro que vinha já foi parando, como que por caridade, ao ver a estranha cena. Alguém, na rua.
Na segunda vez que aconteceu, fiquei bastante intrigada e, para tirar a prova, fui atravessar outra rua, sem nenhuma necessidade, só pela análise e validação de minha tese.
Pois digo, meus amigos, que o motorista parou (e nem havia farol!) sem buzinar, sem cara feia.
Sorri, em agradecimento ao meu cobaia. Não um sorriso largo. Apenas um jovial e sereno sorriso que dizia: “Eu sabia...”

Wednesday, April 01, 2009

Pra sempre



É sim uma homenagem.

Uma coisa boba talvez.

Mas pra mim, que é recheada de boas lembranças (só boas!), vem carregada de alegria e leveza.

É uma amizade que existe há 16 anos. Bem estranho quantificar o tempo desta forma, pois nos sentimos ainda com aqueles 15 anos que tínhamos quando nos conhecemos e andávamos na chuva, e falávamos da água, das estrelas, de música e arte.
Tínhamos ainda o olhar inocente que a vida mantém nas meninas que sonham, apenas sonham.
E nós sonhávamos.
Sonhávamos com viagens, príncipes encantados, meninos de óculos. Nos apaixonávamos e chorávamos. Ouvíamos blues pra sorrir. E sorríamos.
E sorríamos com a mesma facilidade com que sabíamos, a cada dia que passava, que nossa amizade era plena e segura. Estávamos lá. Sempre.
E sobrevivemos!
À tempestades, desilusões, abandonos e morte.
Sobrevivemos à todas as surpresas da vida. Até ao casamento. Até à distância.
E agora, com o olhar menos inocente, mas não menos intenso, ainda falamos de sonhos, de viagens, das estrelas, música e arte.
Ainda caminhamos pelas ruas, sorrindo, com aquele mesmo sorriso largo de alegria gratuita.
Porque é a alma quem fala, minha querida amiga.
É a alma.



On my Way


Era pra ter uma taça de vinho agora, que arranca de mim com muito mais facilidade aquelas palavras que nem eu sei de onde vêm e como tão perfeitamente expressam aquilo que sinto ao ver o mundo diante de mim.
É mágico, bem sei. E de tanto falar em magia, pareço um tanto piegas ou infantil.
Infantilidade que se funde com minha inocência (sim, ainda sou inocente) e minha deliciosa maneira de ver minha vida como um presente bom.
Veja só, como presentes nos são ofertados.
Olhe, você também vê?
Vê os carros, o caos, o barulho?
Vê silêncio e lágrimas?
E, ainda assim, consegue observar, mesmo que por um pequeno instante, o sorriso do mundo mirado em seu ventre? Ele aquece, de baixo pra cima. Sente?
Nada mais me resta, além de sorrir pra ele também.
Dentro da névoa de incertezas que permeia meus dias, das dúvidas sobre meu espaço, meu lugar, minha missão. Quando aflita em meus mais íntimos questionamentos, eis que surge uma brisa morna em meu rosto.
É mágica!
Responde às minhas perguntas com simplicidade, uma obviedade assustadora. Como foi que não pensei nisso?
Querendo ou não, temendo ou não, a vida me presenteia. E fico pasma, observando meus próprios passos me guiando por minha trilha. Eles sabem onde estão me levando.
E pra me ajudar a entender (porque sou meio lenta para esse tipo de entendimento) encontro palavras, ouço estórias. Simples comentários que tiram as reticências de qualquer frase mal terminada.
Agora, minhas frases têm ponto final. Agora sei pra onde vou. E quero ir pra lá. Ponto.

Tuesday, January 20, 2009

Um momento de leveza

Se vc fala em pré-natal, pré-cozimento ou pré-concepção está falando de uma AÇÃO que antecede outra AÇÃO. E que é natural, necessária e muitas vezes benéfica.
Quando fala de um pré-conceito, estabalece que tem uma IDÉIA antecedendo uma ANÁLISE CRÍTICA.
Isso significa que uma IDÉIA foi estabelecida, e não uma AÇÃO.
Você pode não querer andar com quem não gosta, pode não querer ouvir gêneros musicais que não gosta. Mas isso se trata de um gosto pessoal, e não de um pré-conceito. Pré-conceito seria dizer que jamais ouviria a música tradicional do Uzbequistão porque não gosta.
A IDÉIA de não gostar de uma música sem antes tê-la escutado é que torna o fato limitante e bloqueador.
Criar IDÉIAS a respeito de coisas, fatos, culturas, ideologias, raças, músicas, lugares e crenças sem antes analisá-las, tentar compreendê-las com o coração aberto é que torna o PRECONCEITO tão obscuro e triste.
O BLOQUEIO que as pessoas criam em si mesmas, que as impedem de ver o mundo e as diferenças tão ricas que nele existem, os pré-conceitos que criam a respeito do que imaginam e, principalmente, a falta de flexibilidade para compreender a existência de outras possibilidades é que torna o ser humano tão pequeno.
Eu não gosto de samba. Não gosto de pagode. Eu não sei sambar. Mas semana passada, durante um ensaio de escola de samba em minha cidade, me joguei no meio da galera do morro e saí pulando, ao som daquela bateria. Fiquei suada. Não de cansada, mas de FELICIDADE.
Pois, pela primeira vez em minha vida, consegui abandonar meus pré-conceitos, que geraram tantos bloqueios e travas e que me impediam de curtir coisas simples, mesmo que elas não fizessem parte integrante da minha vida. E me senti verdadeiramente livre, como uma criança.
E passei umas boas horas sorrindo.