Sunday, March 14, 2010

Chão de madeira

Pelo caminho fui pensando qual seria o impulso que me trazia aqui.
No começo e durante a trajetória foi um impulso vital de sobriedade, necessidade de sair da rota.
Navegar naqueles mares longínquos por onde eu antes flutuava e que me distanciei por necessidade e vontade.
Sim, tive vontade de me distanciar desse oceano sublime e calmo.
Porque ele não era calmo.
Era turbulento e intenso. Era denso e fluido.
Mas tinha necessidade de foco, de pulso.
Eu tenho necessidade de pulso. Eu tenho necessidade de pulso.
E depois de tantos anos...
Aqui vim eu novamente, com meu barquinho frágil.
Meu barco é frágil. Sem mantimentos ou bússola. Sou péssima de direção.
Aqui vim passear, no oceano de mim mesma, somente com meu olhar e meu impulso a me guiarem por esses nebulosos e alcoólicos caminhos, a me deixar, a me soltar, a me permitir leve sem pés no chão.
Minha tentativa de tirar os pés do chão.
Porque eu gosto de brincar. Eu gosto de brincar.
O impulso é de carne, de nervos e líquidos. Um impulso de essência, de necessidade de mim mesma.
Como preciso de mim mesma!
E senti o barulho da madeira estalando sob meus pés.
E senti o céu que, mesmo sem tantas estrelas, estava tão limpo e tão frágil que parecia água. Parecia se liquefazer sobre minha pele, escorrendo por minhas veias até a ponta dos meus pés.
E o ar era limpo e seco. Secou minhas entranhas e meu ventre.
E, ainda assim, me senti tão viva, tão entregue quanto a tantos anos atrás. Renasci.
E entendi que o que buscava era um pouco de humanidade.
Eu grito: HUMANIDADE!!!
Respiro fundo quando falo, e puxo o ar limpo pra dentro dos meus pulmões.
HUMANIDADE!
É leve e intenso.
É meu movimento preciso, meu desejo.
De ter escolhido estar aqui.
Exatamente aqui, onde o chão é de terra e onde circulo com cautela e medo.
Quando eu ando, o chão de madeira faz barulho. E a música toca ao fundo.
E poderia estar em tantos outros lugares.

12 de março 2010

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