Wednesday, March 24, 2010

Malhação - capítulo 1

Paixão platônica pelo instrutor da academia faz um bem danado à saúde.
Literalmente.

Friday, March 19, 2010

Mecanismo

Eu não sei se quero fazer parte disso
Esse mecanismo está prestes a parar
É tanto desespero que o passo é impreciso
Esse mecanismo ainda vai degringolar

As ruas que eu caminhava mudaram de direção
me sinto perdido, andando em círculos sociais
entrando em contramão
confundindo sinais

Ser o que se espera sem ser previsível
Vai ficar díficil pro navio navegar
Se for só por vaidade peço pra anular o visto
Fogos de artifício também podem te queimar



Sunday, March 14, 2010

Um lugar no mundo

Essa vegetação típica, que me remete a lembranças tão doces e puras.
Meu coração fica mais puro e minha alma destacada de meu corpo.
Danço a dança da vida, do suor, do sorriso, dos músculos contraídos.
Cheiro de mato, terra sob meus pés.
Meu caminhar se encaixa com o chão onde piso e o R do povo Paranaense me dá vontade de café com leite. Manteiga derretida num pão quentinho, recém saído do forno. Esta cidade poderia ser minha mãe.
Talvez porque aqui tenha morrido minha família. Talvez para manter viva em meu coração aquela época em que eu vivia em um lar feliz, por mais farsante que tenha sido. Eu não via. Eu era feliz e doce, muito doce.
Eu e minhas bonecas. Eu e minha bicicleta, juntas pelas ruas pegando fruta do pé.
Talvez seja isso.
Mas não. Esta cidade é realmente linda. É verde.
É chuva – água doce – em meu rosto triste.

Um adeus

Perdoe-me. Ame-me para sempre, meu querido.
Sou frágil demais para seu subterrâneo. Meu pequeno corpo burguês não agüentaria e adoeceria.
Não se orgulhe tanto de mim. Eu não suportaria decepcioná-lo com a verdade, meu querido, essa verdade inteira que sou, fragmentada em medos, sonhos abandonados e espírito castrado.
Você bem sabe o que escrevo, pois já o disse em nossas conversas estrelares.
Ame-me para sempre porque preciso que minha alma seja nutrida de alimentos crus e límpida água do céu.
E este é o real motivo de eu ter vindo aqui: vim em busca de uma certeza. Em busca de um adeus.
E este saber chegou tão potente em meu coração que, Deus, me faz sorrir e me coloca em estado de graça.
Você sabe que a certeza não é minha companheira de vida. Ela é uma criança que brinca de se esconder e, de tempos em tempos, aparece correndo sorrindo pra mim, enquanto busca novo e protetor abrigo.
Você me presenteou com esta tão bela certeza de adeus que tenho vontade de chorar. Meu coração de repente entende.
Vê, sou mulher e preciso encerrar meus passados.
Você diz que sou mulher das mais maduras e belas. Isto a mim soa como música, como vento no cabelo e carícias românticas ao amanhecer. Vindo de você.
Adorei o vinho, o mel das suas palavras, sua acolhida. Seu esforço. Seu coração cheio de carinho. Conheço seus mecanismos e sei que para você também não é fácil.
Mas, meu amor, o que poderia ser de diferente?
Meu coração pensava em fim e você pensava em recomeço!
Confesso que também flertei com um recomeço cheio de aventuras, já que sua energia em mim era ainda vibrante. Nosso divertido segredo.
Mas, por mais triste que possa parecer, este cerrar de portas é feliz, sincero e entregue, falado em toques, gestos, com meu inteiro coração.
A frase proferida por ti naquele dia em que a vida nos apresentou - Tudo tem um prazo de validade - enfim se realizou.
E não é lindo quando isso acontece? Hoje durmo sorrindo. Sorrindo para o futuro.

Novos amigos e mais adeus

Para Larissa

Menina faceira, bata seus pés contra o mundo. Você tem o brilho, o tempo, o viço da vida todo pra ti.
Não se apresse, dance. Dance de mãos dadas com a vida, sorrindo e cantando essa doce melodia que dos seus olhos transborda.
Ande de bicicleta. Ela vai te ensinar a olhar por si e pelos outros e, de presente, ganhará um beijo de vento em seu rosto.
Sorria, doce menina. Dê seus encontrões com o mundo.
Eu também sempre dei os meus, mas não tive a idéia de fazê-los com os pés. Você é sábia.
Estude.
Entender a mente humana é alimento.
É grão germinante de estrela que cresce infinitamente em seu peito.
Não tenha medo do mundo, moça faceira. Não acelere o passo. Aprecie a paisagem.
A vida espera por ti para, em comunhão, se enlaçarem em sua mágica dança celestial.
E então você, invariavelmente, nascerá uma linda mulher.


Para Lucas

Ao longo deste ano que moro em São Paulo não fiz um único novo amigo.
E em um fim de semana longe, fiz vários.
Pessoas simples, entregues, abertas.
Pessoas pensantes.
Lucas, obrigada por estudar tanto. Leia todos aqueles livros de Nietzsche, sim.
Nós precisamos de você.
O mundo precisa de pessoas como você. Entende?
Eu seria sua amiga pra sempre e pediria para você me contar todas essas histórias e me ensinar sobre os filósofos e suas influências no mundo.
Perto de você me senti pequena. Não sou tão inteligente assim.
Tive medo e não percorri esse caminho.
Mas vá você, querido novo amigo. Siga adiante.
Realmente uma tristeza que não nos veremos mais.

Chão de madeira

Pelo caminho fui pensando qual seria o impulso que me trazia aqui.
No começo e durante a trajetória foi um impulso vital de sobriedade, necessidade de sair da rota.
Navegar naqueles mares longínquos por onde eu antes flutuava e que me distanciei por necessidade e vontade.
Sim, tive vontade de me distanciar desse oceano sublime e calmo.
Porque ele não era calmo.
Era turbulento e intenso. Era denso e fluido.
Mas tinha necessidade de foco, de pulso.
Eu tenho necessidade de pulso. Eu tenho necessidade de pulso.
E depois de tantos anos...
Aqui vim eu novamente, com meu barquinho frágil.
Meu barco é frágil. Sem mantimentos ou bússola. Sou péssima de direção.
Aqui vim passear, no oceano de mim mesma, somente com meu olhar e meu impulso a me guiarem por esses nebulosos e alcoólicos caminhos, a me deixar, a me soltar, a me permitir leve sem pés no chão.
Minha tentativa de tirar os pés do chão.
Porque eu gosto de brincar. Eu gosto de brincar.
O impulso é de carne, de nervos e líquidos. Um impulso de essência, de necessidade de mim mesma.
Como preciso de mim mesma!
E senti o barulho da madeira estalando sob meus pés.
E senti o céu que, mesmo sem tantas estrelas, estava tão limpo e tão frágil que parecia água. Parecia se liquefazer sobre minha pele, escorrendo por minhas veias até a ponta dos meus pés.
E o ar era limpo e seco. Secou minhas entranhas e meu ventre.
E, ainda assim, me senti tão viva, tão entregue quanto a tantos anos atrás. Renasci.
E entendi que o que buscava era um pouco de humanidade.
Eu grito: HUMANIDADE!!!
Respiro fundo quando falo, e puxo o ar limpo pra dentro dos meus pulmões.
HUMANIDADE!
É leve e intenso.
É meu movimento preciso, meu desejo.
De ter escolhido estar aqui.
Exatamente aqui, onde o chão é de terra e onde circulo com cautela e medo.
Quando eu ando, o chão de madeira faz barulho. E a música toca ao fundo.
E poderia estar em tantos outros lugares.

12 de março 2010

Monday, March 08, 2010

Uma prece para o mundo

Difícil aprender as coisas da vida...
Do jeito que ele diz parece tão fácil. Ele capta minha dinâmica tão bem, que sabe usar as palavras certas, o jeito certo de se fazer entender.
Não se sabe se é uma técnica de abordagem bem desenvolvida ou se é realmente uma compreensão genuína. Mas dá certo.
E eu entendo.
E qual é a solução? Não confiar em ninguém? Viver esgueirada esperando pelo pior das pessoas?
Não, não, não.
Meu mundo é bom. Esse mundo onde vivo é bom e é verdadeiro e as pessoas vivem por valores profundos, humanitários, libertários.
Não se perde tempo com coisas pequenas.
Mas eu entendo.
Entendo que esta foi minha escolha.
Entendo que tenho que aprender. Tenho que me atentar aos detalhes.
Quando foi que deixei de ser detalhista?
Como foi que perdi a atenção nas suaves nuances do convívio humano?
Preocupante isso...
Às vezes acho que não tenho a mente pra isso, às vezes acho que está tão longe, tão longe... E às vezes parece ser a única certeza que tenho.
Preciso aprender a me ensinar as coisas da vida.
Preciso me aprender.
Quero ser aquilo que olho do futuro e me dá vontade de sorrir.
Me sinto ridícula por fazer coisas idiotas. E dói ainda mais por causa daquela sensação de decepção que causa. O tal balde de água fria. É um pesadelo o balde e a água fria, tudo caindo na minha cabeça oca.
Mas caminhemos, pois. Caminhemos.
Os custos jamais serão maiores do que os tesouros encontrados. E o mundo jamais perderá seu brilho e sua mágica. E as pessoas... elas sempre terão uma estrela no peito, mesmo que não saibam. Elas serão sempre boas. Somente um pouco perdidas, às vezes, talvez.
Mas eu perdôo todos os erros do mundo “ Assim como sei que preciso ser perdoada” (acho que tem uma oração que fala disso...)
Os custos que a mim proponho estão em equilíbrio e consonância com o que acredito ser invariavelmente necessário quando se trilha esse caminho.
Dói, mas passa.
Fere e cicatriza.
Fortalece.

Então aí vai a nova prece do mundo:

“Consciência querida, esteja atenta nos momentos em que eu devanear e esquecer das coisas.
Ajuda-me a viver o aqui e agora e carregar de energia todos os meus movimentos.
Ensina-me a perceber o que há ao meu redor, com um pouco menos de romantismo e um pouco mais de praticidade.
Que as pessoas captem um pouco do espírito do meu universo.
E, por fim, que o fim de semana seja de sol!”.

Boa noite.

Sunday, March 07, 2010

Sofá

Foi assim uma conversa simples.
Ele lá sentado com seu coração forte e eu lá parada, com meu sangue grosso.
Parecia uma assombração.
De repente sabe-se tanto da vida de alguém pelos textos, peças, música, pelos blogs, matérias e entrevistas e, de repente, esse alguém está ali na sua frente, sentado, entregue. Simples.
O que se faz?
Chega-se falando:
"e aí, cara, beleza?"
"e aí, meu amigo, e essa força?"
" e aí, camarada, renasceu, hein?"
Eu nem conseguia olhar pra ele, porque parecia uma assombração, quando na verdade queria dar um abraço sincero de longo alívio.
Fiquei realmente aliviada por ele ter sobrevivido. De verdade, ele é do tipo de gente que tem que ficar por aqui pra chutar nossa canela e nos fazer lembrar de coisas que ... vergonhosamente nos permitimos esquecer.
Ele e seu coturno. Sua capa mágica protetora. Será que ele a usava no fatídico dia?
Pois então fui chegando perto, feito um bicho chegando aos poucos, tentando reconhecer o território e o quanto se pode confiar naquele outro bicho que estende um pedaço de carne na mão.
Bicho que sou, não resisto a uma carninha suculenta, um sangue vibrante e uma estrela no peito.
Fui chegando até ter coragem de sentar a seu lado.
Palavras soltas.
Dividimos uma taça de vinho.
E eu sorria por dentro.


Eu admiro muito esse cara.
Admiro sua verdade. Seu desprendimento. Sua essência.
Admiro a entrega, a canalhice, a blasfêmia e a sujeira de seu mundo subterrâneo.
Sua fragilidade explícita.
Seu blues rasgado.
Ele é blues e isso já diz tudo, quase tudo sobre ele.
Sugante de vida, de palavras. Áspera poesia. Suave ser humano.
Leve, limpo.
Eu adoro esses caras tortos.
E nem ao menos o conheço...



Não consegui falar nada disso pra ele, mas...


Será que ele viu o sorriso da minha alma?

Wednesday, March 03, 2010

Passeio

Eu caminho pela rua. Ela tem cheiro e gosto.
Os olhares me atravessam e nem sei se são tão interessados ou tão genuínos.
São apenas olhares.
Por trás de seus óculos, de seus carros do ano.
Em seus caminhares descalsos, sujeira da vida.
Sugo os olhares de vida, de barbas e cabelos.
Brincos e coxas bonitas.
Minotauros e ciclones.
Simpatizo com cabelos esticados por ferros e calor.
"Faça uma escova e ganhe uma hidratação tailandesa".
Não, não simpatizo. Apenas comungo com as súplicas dos olhares ofuscados pelas luzes, pelos motores da minha cidade.
Eles não sabem que vão precisar de lentes intraoculares para ver o que finjem não ver hoje.
Aquilo que camuflam em seu caminhar solto, torto.
Chamas da noite que parecem não se esgotar nunca.
Caminho pela rua e sorrio com os olhares interessados.
Não, não simpatizo com os olhares interessados.
Eles são fugazes. Intensos e fugazes como um sonho bom.
Mas sorrio, com meus sonhos e meu caminhar desajustado.
Minha pele que é leve e grossa.
Meus ossos cansados.
Caminho sorridente por espaços que pertenço, essa sujeira que abomino e essa ignorância que me torna irremediavelmente inconformada.
Mas simpatizo, com certa piedade, com o caminhar e as luzes e a sujeira e as súplicas de prazer imediato.
Simpatizo com os cabelos esticados e os olhares mendigos.
Somos todos mendigos nessa noite suja.
Mendigos de olhos e de sentidos.
Intensos e fugazes, como um sonho bom.