Sunday, February 21, 2010

Silêncio

Não quero nada disso.
Isso dói e não faz sentido.
Não faz sentido ouvir essa mesma música que ouço há séculos e insisto em repeti-la, ouvindo alto e cantando aos berros no meu apartamento, meu pequeno e frágil mundo de palavras cortadas.
Meu pequeno mundo de clichês e pretensões falsas.
Meu mundo de construções tortas. Meu alicerce de madeira podre.
O mato que cresce, a praga que devora o que ainda há de belo.
E ouço a mesma música e insisto em ouvi-la alto e cantá-la aos berros pra não esquecer a letra, pra manter no coração os versos e rimas obsoletos e vulgares que despertam em mim aquele sonho que, bem sei, não existe.
O céu está azul. Meu coração apertado.
Vai embora daqui. Leva essa música ridícula contigo.
Volte, sorria mais uma vez. Vem ouvir a música comigo.
Eu odeio como me deixa frágil.
Odeio como joga na minha cara a menina sensível que sou.
Esse aperto no coração que uma mulher como eu não pode ter.
Essa mulher que construí tijolo por tijolo.
Essa fortaleza de sensatez e racionalidade.
Essa fútil postura.
Minha máscara que já faz parte de minha pele, entranhada em meus músculos e olhar.
Inabalável.
Minha fragilidade é para poucos e você não poderia estar aqui. Não poderia.
Jogo as roupas fora, corto meu cabelo. Mudo de música. De casa.
Mudo o jogo.
Odeio o café que tomo e o céu está azul lá fora.
Lá fora.
E tudo isso é uma grande bobagem. Grande bobagem minha.
Vai logo. Some daqui.
Some das minhas histórias, das minhas fantasias, do meu sorriso.
Fuja do meu olhar que te seduz.
Ou então venha logo, pelo amor de deus, que te espero.
Que não canso.
Que a música está alta aqui em casa. Essa porcaria de música que não tiro do repeat.

1 comment:

Unknown said...

me hipnotizou, hipnotizada estou