Saturday, April 04, 2015

Chuva



Em dia de chuva, bota no pé.

Sonhos e fantasias na cabeça, que movimentam todo seu delicado - e não menos potente - corpo de criança.


Ele voa.



Parto não é obsceno




Parir é amor vertendo em vida, sangue e lágrimas.




Contrários

A tinta é melhor na pele do que no papel.
No pé não aceita chinelo.
Da manga come a casca.
O cabelo só lava vez ou outra.
Macarrão frio é desjejum.

Algumas de suas incursões ao mundo dos contrários.
Porque a vida é bem mais rica e divertida com transgressões.
Quebrando regras, buscando o improvável, rebelando-se contra o que "deve ser".
Que assim siga e seja.

Ouvir

De minha mesa de trabalho, ouço passarinhos.
São tantos!
Uns mais agudos, outros mais intensos. 
Tenho exercitado o escutar: com um pouco de treino, outros sons aparecem, parecem saltitantes. 
Sempre estiveram lá e eu não conseguia mais ouvi-los.
Um avião passou.

As teclas do computador.
Uma abelha.
Daqui, de minha mesa de trabalho, sinto a natureza tão próxima, que faço uma breve pausa, alguns minutos, pra respirar. Pra ouvir.
E pra agradecer (ainda mais) por esse encontro.
Porque, de presente, ganhei a chuva.

A poesia fugiu de mim




Certa noite a insônia me encheu de poesia. 
Quando acordei, percebi: nada!
Nada havia sobrado de minha viagem, aquela que fiz por entre as vidas e vidas e ondas em tons claros e brilhantes da beleza que habitou em mim, por uns instantes.
Pensei que não queria perder a poesia na minha vida.
Não queria perder o brilho do sorriso do olhar.
Aquele de quando se vê passarinho solto ou vagalume ou filho pulando a brincar.
Ou quando se ouve Aretha Franklin numa tarde chuvosa.
Tem gente que oferece poesia de graça. Abre o olho, fala oi e a poesia lá está, a exalar do peito em assovio rimado.

As frases vinham e eram lindas e pensei que queria todas elas eternizadas no papel.
Eu mentalizava e memorizava cada estrofe e rima e ficava feliz a cada nova frase que chegava do infinito, como um presente de uma deusa que me olhava e sorria, me inundando de universo.


Pra mim a poesia vem de fora.
Como uma fonte potente de energia que me carrega, me leva pra um lugar dentro de mim - veja só! - onde a poesia encontra ninho.
Acho, verdadeiramente, que todo mundo tem poesia no peito.
Mas entendo: no peito a poesia apenas habita. Ela é do mundo.
Por isso ela me escapou.
Porque voltou em preto e branco para sua morada, carregada de mim.
E, em mim, deixou a leveza de sua sutil presença.