Saturday, November 08, 2008

É preciso acreditar (sempre)

Sem dúvida, entrará para a história.
Um presidente americano negro, quem diria...

Sua ideologia, seus objetivos conquistaram e seduziram a todos. O mundo foi conquistado por esta figura carismática e as expectativas são enormes.
O mundo sorri, todas as nações o apóiam.
Prova de que não é mais aceitável a conduta dos Estados Unidos, que se posicionam como Centro Onipontente do mundo. É preciso redefinir este posicionamento e entender que são mais um entre outros. Diferentes em política e cultura, porém iguais em importância. No mundo pós moderno não há espaço para unilateralismo.

Este novo mundo é plural, multicultural, convergente.

Espero que o mundo seja realmente beneficiado por esta nova figura. Que não seja sonho. Que não sejam apenas palavras.

Que o olhar americano sobre o mundo seja de paz, inteligência e humildade.












Escultura de areia em praia na Espanha









Festa na Indonésia, após vitória de Obama.










Comemoração no Quênia, pela vitória de Obama.

Friday, November 07, 2008

Obama, o círculo completo

"O círculo completo"
Demétrio Magnoli

Pouco depois da meia noite (duas da madrugada de Brasília), ontem, a CNN proclamou a vitória de Barack Obama na Virgínia, um resultado tão extraordinário quanto previsto pelas pesquisas. Richmond, na Virgínia, foi a capital da Confederação e, após a Guerra Civil, o laboratório das Leis Jim Crow, a legislação de segregação racial nos EUA. Desde 1968, invariavelmente, uma Virgínia ofendida pela Lei dos Direitos Civis, passada pelo democrata Lyndon Johnson, ajudava a eleger presidentes republicanos.
O voto da Virgínia representa, na história dos EUA, o que a queda do Muro de Berlim representou na história da humanidade: um julgamento sobre o mal.
Fora dos EUA, anti-americanos de esquerda e de direita – há os dois tipos, que se abraçam na hostilidade compartilhada à democracia – asseguram não existir nada em jogo nas eleições americanas. Os cidadãos americanos não concordam, evidentemente, e por isso entregaram-se como há muito não se via ao jogo político que terminou ontem. Eles imaginaram estar fazendo história – e estavam certos.
Barack Obama encara três desafios e será julgado pelo que fizer com eles. O primeiro é de política externa: adaptar os EUA a uma ordem mundial que não se parece com a “Nova Ordem” da hegemonia americana proclamada por George H. Bush, o pai, no discurso de 11 de setembro de 1990 sobre o fim da Guerra Fria. George W. Bush, o filho, a partir de um outro 11 de setembro, o de 2001, engajou-se na aventura neoconservadora da “reforma do mundo” pela força das armas. O fracasso dessa aventura, junto com o colapso financeiro atual, descerram o cenário de uma ordem multipolar, na qual os EUA não são a “Nova Roma”, mas o primeiro entre pares. Há quatro anos, Obama alçou-se ao centro do palco político americano em virtude do conteúdo do discurso que pronunciou na Convenção Democrata de consagração da candidatura de John Kerry. Naquele discurso, ele delineou um programa de conciliação entre o “famoso individualismo” americano e o imperativo da coesão social, que exige não deixar ninguém para trás. Toda a sua campanha presidencial estava prefigurada ali. Obama sabe que os EUA são tanto Franklin Roosevelt quanto Ronald Reagan – e que o sonho americano depende do cuidado com o vaso de porcelana no qual convivem os dois princípios opostos mas complementares.
O segundo desafio de sua presidência é restaurar o motor do sonho americano, emperrado há sete anos, ao longo de um ciclo de expansão acelerada do PIB no qual a renda do trabalho estagnou ou retrocedeu. Ele terá que fazer isso em meio à pior crise econômica desde a Grande Depressão dos anos 30.
O terceiro desafio começou a ser cumprido na madrugada de ontem, quando os cidadãos americanos o escolheram para presidir a nação. A mensagem emanada das urnas, que a imprensa tem certa dificuldade para interpretar, foi: raça não existe. O povo dos EUA mirou-se no espelho e revisitou seu próprio passado. Com a atitude de um professor que risca um parágrafo errado e o corrige na margem do caderno, os eleitores produziram o esboço de um futuro pós-racial para o país. Como a crença em bruxas, fonte de tantos crimes na Idade Média, a crença em raças oriunda da ciência e da política do século 19 pode ser vencida.“Como todo mundo, eu gostaria de viver uma longa vida. A longevidade tem sua importância. Mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus. E Ele me permitiu subir a montanha. E eu vi lá de cima. E enxerguei a terra prometida. Posso não chegar lá com vocês. Mas quero que saibam que nós, como um povo, chegaremos à terra prometida.” Martin Luther King pronunciou essas palavras há 40 anos, no 3 de abril de 1968, um dia antes de ser assassinado em Memphis, no Tennessee. “Nós, como um povo” não eram os negros americanos, mas todos os que acreditam na promessa de “uma união mais perfeita” inscrita na Constituição. O triunfo de Obama forma um círculo completo. A terra que King conseguiu ver está agora ao alcance da nação americana.

Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana, é colunista de O Globo.