Sunday, August 21, 2011

uma observação

Ela não sabia exatamente o que estava sentindo. Era um misto de alegria e tristeza e dúvida e descrença.
A única certeza que tinha era de que não sentia raiva. Nunca havia conseguido sentir raiva por aquele cara, mesmo com todo o esforço que ele havia feito, durante tantos anos, para ser detestado.
Talvez fosse ilusão sua. Ela, no fundo, sabia que ele nunca fizera nada de errado (e nem de certo) e que as idealizações e projeções e desejos eram nada além de seu imaginário poético e romântico que persistia em acompanhá-la ao longo de sua trajetória de amor.
Ela realmente acreditava que ninguém jamais a completaria se não fosse aquele cara. Exatamente aquele, cujo perfil não era nada condizente com as características que ela tanto prezava e julgava fundamentais para sua felicidade.
(Acontece que ele tinha, sim, o perfil perfeito. Mas usava uma máscara de monstro que lhe caía muito bem).
Ela chegou(entre tantos outros atos impensados)a escrever uma piegas carta de amor: coisa brega nos tempos de hoje. Nunca se arrependeu e se enche de orgulho ao lê-la, ainda guardada em seus arquivos secretos.
Ela jurou obediência à sua verdade e a seus sentimentos. Viveu suas histórias de amor como quem sabe que o tempo passa e não pode ser desperdiçado. Pessoas não podem ser desperdiçadas. O amor não pode ser desperdiçado.
Mas em seu íntimo, lamentava a falta daquela história que a transformaria na mulher mais feliz e completa deste planeta ou - e possivelmente a opção mais realista - a faria finalmente enxergar a realidade como ela é e desmistificar de vez aquele ídolo já em frangalhos.
Ela ouviu atenta àquelas palavras. Viu seu sorriso e sentiu seu abraço. Quis, como ao longo de todos aqueles anos, que o momento parasse. Que tudo fosse diferente, que o passado retornasse, que pudesse mudar todo o curso do destino...
Mas passou.
Essa angústia, antes constante, passou e deixou um sorriso em seu rosto.
Ela não mais desejava saber ou ouvir ou entender ou, até mesmo, criticar.
Sorriu, aliviada, por entender que aquela grande paixão será sempre sua grande paixão. E sempre será lembrada com tristeza.
E por que não aceitar o curso da vida, com suas tristezas e desencontros?
Simplesmente aceitar uma paixão não correspondida?
Já que sabe que um grande homem é aquele que se apresenta, que se posiciona.
Aquele que oferece seu amor, seu braço, sua mente.
Pensamentos em forma de planos.
Calor em forma de parceria e amizade.
Olhar em forma de desejo e conforto.
Assim é o homem de sua vida. Aquele que a encontrou um dia e não a deixou partir. Aquele que ela observou atentamente e para quem se permitiu.
Foi para ele que, naquele momento, ela estendeu sua mão e sorriu.