Tuesday, December 30, 2014

2015

2014 começou triste
buraco no peito eu tinha
tristeza no coração
sem saber se queria fugir e ficar sozinha
mas sozinha não sou
e os anos de solitude me mostraram que bom mesmo é coração cheio de gente e alegria

fiquei
com medo fiquei
e segui em frente olhando para os lados e para trás – como de costume
olhando ao redor, me procurando e não me vendo em lugar nenhum

mas a vida tem dessas
me esvaziou pra eu aprender a me preencher
de sei lá o quê, pensava
o que é que quer essa tal de eu?

e meu olhar foi mudando
artigo feminino com letra maiúscula me tornei
A mulher nasceu – ou tem nascido um pouco a cada dia?
olhos abertos para as dores da vida, para as injustiças, para a luta.

foram 3 anos de trabalho de parto pra Eu nascer
achei que tivessem sido aquelas 20 horas até ele sair de meu ventre e trazer consigo o choro entalado dos último 34 anos
mas não

(a vida também tem dessas de deixar a gente pensar que sabe de alguma coisa)

me agarrei a sonhos bons
quis fugir menos

assisti à minha vida como num filme, observando cada cena
cada momento, cada porquê
pausando para observar os detalhes, o fundo, os figurantes e personagens principais

até que a primavera chegou em mim – tem chegado, num lento e intenso processo
as decepções, as tristezas, as faltas, as dúvidas
os medos
caminham (e caminharão) comigo através das estações e estações da vida
mas sem o peso de antes
como companheiros queridos que me lembram a todo o instante de que a jornada não é sempre doce e leve
nunca desejei ser doce e leve

o tempero da minha vida está em meu jardim
minhas mãos, sujas de terra
contemplo com orgulho aqueles que foram mais difíceis de encontrar
agradeço aos que vieram de brinde cravados em meu espírito há tantas eras

o mundo é bom
o mundo é belo
eu sou de verdade

2015 não começará triste
tenho ao meu lado um companheiro de vida
em minhas asas, minha cria
caminharemos e aprenderemos
juntos
com os pés descalços
e as mãos vazias







Tuesday, June 10, 2014

Minha hora

Eu descobri. Finalmente e sofridamente descobri.
Não foi com a gestação nem com a catarse do parto, como eu queria.
Não foi no puerpério, mergulhada no âmago do meu ser, envolta na névoa do meu luto, do amor nascido, da vida nova em minhas mãos.
Eu li, pesquisei, eu busquei todo tipo de informação para entender o que era esse novo momento, esta nova vida e este novo caminho que havia escolhido para mim e que, agora, me fazia sentir tão sozinha e tão vazia.
(Eu, que tenho nas mãos a maior preciosidade dessa vida. Eu, cujas mãos nunca mais ficaram vazias)
Fotos de mães e famílias felizes. Eu mãe e feliz também. No entanto triste.
Relatos de encontros e descobertas, Laura Gutman de cabeceira. Mulheres que encontraram suas sombras como quem encontra um antigo amigo na rua e para pra um café: pra bater um papo e resolver aquelas velhas desavenças entre uma xícara e uma risada, se divertindo com um passado que parecia tão importante, mas que agora é até simpático, aos olhos de quem, finalmente, amadureceu.
Eu não amadureci.
Eu não encontrei minha sombra nem no dia mais ensolarado da minha existência.
Eu estava lá, admirando essas tantas mulheres fortes e inteiras e completas.
Eu quebrada.
E então, finalmente, percebi.
Minha hora chegou.
Posso ter tentado fugir, posso ter tentado mascarar, posso ter dito o famoso mantra “vai passar, vai passar” todas as vezes que me senti perdida, achando que era só o cansaço pela falta de sono.
A maternidade, depois de dois anos e meio, me mostrou a que veio.
A verdade é que ela me despiu.
Estou nua e frágil e com tudo aquilo que antes era tão bem guardado no cantinho da alma, intocável pra não cheirar mal... fedento!
O corpo em carne viva. Minha alma em alma viva.
Dói e arde e incomoda e não deixa meu filho dormir, porque ele quer ficar ao meu lado, me fazendo carinho, falando em gestos que “vai passar, vai passar”.
Meu filho, meu amor. Vai passar e não depende de você.
Durma o sono dos anjos, encontre-se com seus amigos lá de onde você veio.
Eu estarei bem.
Estarei, finalmente, limpando minhas feridas.
Acariciando meu corpo e minha alma porque preciso me perdoar.
Porque preciso limpar essa carcaça machucada de passado, de erros, desencontros e tristezas.
Preciso ser.
Eu. Inteira e inundada de verdade.
Mãe. Mulher. Filha.
Exposta.
Inteira e cheia de curativos que, com o tempo, vão cair.
Como as folhas secas que caem das árvores no outono, deixando-as lindas, lisas, fortes e, no entanto, explicitando sua fragilidade, seus finos galhos tortos e flexíveis.
Vou deixar todos os meus curativos caírem no chão.
Vou me deixar nua e linda e torta e frágil.
Vou deixar a tempestade bater no meu rosto, molhar meu corpo, tremer de frio. 
Vem, pode vir. 
Vem, que desse parto eu entendo.
Boa hora pra mim.

(e quando você acordar, João, a gente vai brincar)


Thursday, April 03, 2014

To be continued...

E quando bate esse vazio e essa vontade de se preencher de passado?
Não posso pedir desculpas nem lamentar pelo que sinto. Só sinto.
E não acho que deva me privar desse sentimento.
Oposto: deixo sair.
Porque se não sai, se esconde no mais profundo íntimo da minha alma, aquele lugar onde as emoções navegam esperando por um encontro, uma chance, uma forma de realizar seu desejo: o de viver.
Em mim, elas gritam. Geralmente de noite, quando estou sozinha.
Escuto seus gritos e não sei bem como acalmá-los.
Os gritos dos meus sentimentos são vermelhos e quentes e curvos.
Vivem da minha história e se apropriaram dela como sua. Já não os controlo.

E por que esse vazio?

Wednesday, March 26, 2014

O pássaro azul


Você não sabe e nem me viu.
Eu estava ali quando você passou.
Eu te vi.
Te vi passando distraído, olhando um pássaro azul que passava também distraído, por causa das nuvens do céu. Pelo menos eu achei.
Será que os pássaros veem as nuvens no céu? Eu vi.
Eram altocumulus. Eram gotículas de água no céu e talvez o pássaro estivesse pressentindo a frente fria que possivelmente se aproximava.
Acho que você não viu porque estava olhando o pássaro que era muito bonito, como o tapete de nuvens sobre nós.
Eu vi tudo bonito.
E você distraído, passando por mim.



Sunday, March 23, 2014

Dança

Dancei.
Tentei me lembrar da última vez em que dancei desse jeito, solto.
Quadris soltos, braços, pés, pescoço.
O sorriso largo no rosto e os olhos fechados.
Desatando nós do destino. Lavando a rotina da alma.
Lembrei da Lelê porque com ela eu dançava assim. Era ela quem começava e eu a seguia, segura pela âncora de sua companhia.
Na maioria das vezes com blues.
Porque o blues tem essa coisa de arrancar a alma das profundezas e trazê-la à superfície.
Na frente de qualquer um ou em qualquer lugar: o quadril começa a mexer, dá aquela rebolada e um sorriso sacana se destaca no rosto.
É mais forte do que eu, não tem jeito.
Mas ontem eu estava sozinha.
Sozinha na noite, ouvindo um blues.
Pois que, como descrito acima, meus quadris começaram a mexer, dei uma rebolada pra cá, outra pra lá, pezinho levantou, pescoço girou e... me joguei na pista que nem sequer existia naquele lugar.
E, de olhos fechados, visualizei uma cena inédita e constatei uma realidade incrível: sou mãe!
Sou mãe!
Essa constatação, aparentemente sem propósito e deslocada, foi das mais reveladoras. Explico: Descobri que sendo mãe sou mais livre, mais mulher, mais foda-se-todo-mundo do que jamais fui em toda minha vida de pseudo-revoltadinha-libertária.
Fechei os olhos e sorri um sorriso tão largo e tão intenso de certeza de que finalmente nasci.
Me reencontrei.
Sou mãe!
Como se um ciclo tivesse se fechado e uma verdade tivesse saltado à minha frente: sou mãe e tenho uma família.
Tive a força e o grito pra parir meu filho, alimento-o com o líquido quente do meu seio.
Sou forte o bastante para educá-lo, acordar todas as noites, cantar músicas infantis com a mais empolgação e ter cocô embaixo da unha.
Noites em claro, peitos machucados, cólicas intermináveis, rupturas, afastamentos, reencontros. Cansaço físico, esgotamento emocional, tentativas, descobertas, súplicas.
Silêncios, sorrisos cúmplices, abraços.
Soluços, brinquedos, dias de chuva.
Medos, certezas e falhas.
Frustrações.
Amor.
Uma filho, uma família.
E, depois disso, por que eu precisaria de muleta pra dançar solta na noite?
Por que precisaria de companhia pra ter coragem de ser boba, infantil, imatura?
Por que teria vergonha de parecer ter 13 anos, dançando descabelada?
Dancei descabelada.
E esse foi o texto mais infantil que já escrevi.

Saturday, March 22, 2014

A mensagem

Essa madrugada acordei pensando nela e não consegui mais dormir. Rolava na cama enquanto tantas palavras e sentimentos se formavam em uma tentativa de recriar aquele tempo, aquele momento da vida que definiu tudo o que viria depois.
A mensagem falava de liberdade e redenção.
Falava de perdão, talvez.
Talvez pudéssemos nos perdoar e recomeçar o que havíamos abandonado. Talvez pudéssemos tentar sentir novamente aquela brisa de vida que carregávamos em nosso ventre a cada nova manhã.
A brisa era sua.
A brisa e o calor e a selvageria e a liberdade eram seus.
Através de você eu caminhava pelo mundo e pelas trilhas da noite. Através de você eu vagava, quase que transparente, através de seres etéreos, brilhantes que conhecíamos por onde passávamos.
Você era meu escudo e minha voz. Com você eu estava em todos os lugares ao mesmo tempo, cercada de pessoas, de festas, em meio à arte, ao álcool, à filosofia e ao amor.
E me despia de mim mesma a cada nova estação.
Você que na mensagem falou em libertação e que, no entanto, sempre me conduziu a ela, que sempre andou nua pelas ruas e mundos, finalmente conseguiu me libertar? Ou se libertar de mim? Ou nos libertar do cordão de ouro que nos uniu até hoje, mesmo através dos tantos anos e tantos milhares de quilômetros que nos separam?
Talvez você não saiba e talvez até te faça bem saber que sem você eu sou meio chata, careta, travada e assustada. Tenho medo da vida, sim. Tenho pudores.
Não queria, mas sou assim.
Você disfarçava e engolia meus pudores com sua enorme boca de dentes cerrados. Mastigava meus medos como mastigava aquelas balinhas de menta: dilacerando-as uma a uma até terminar todo o pacote.
E eu, confortável e sedutora, me lançava no mundo, nua também, porque protegida por suas rosnadas e latidos e pontapés que adorava dar no mundo.
E não sei o que aconteceu depois.
Talvez tenha me encontrado. Talvez tenha preferido me vestir de mim mesma, finalmente. Talvez tenha encontrado outro esconderijo.
Talvez tenha preferido a covardia do encontro fácil, do conforto das relações superficiais, da tranquilidade, da pseudo segurança que imprimi em mim, como um carimbo de “felicidade, enfim”.
Enfim. Sempre te amei.
E fim.




Thursday, January 02, 2014

Novo Ano

Quatro anos atrás, hoje, eu estava em Lisboa. Tomando todas, andando pela rua, fazendo amizade com taxista às 5 da manhã. 
Daí, em Março, estava no Chile, me despedindo da vida de solteira, crazy crazy...
Daí, em Abril, estava em São Paulo, com o Danilo Pisaneschi.
E a gente fez o João.
Simples assim, como a vida deve ser.
Outros dezembros e abris e marços passaram...
E, assim como a vida costuma ser, fomos tomados de encontros e desencontros. Acertos e erros. Dores e alegrias.
E aqui estamos eu, Danilo, João e nossa cama compartilhada, nossas vidas compartilhadas.
Nosso amor às vezes vacilante, às vezes certeiro.
Às vezes forte, às vezes frágil.
Mas somos nós. E nos dedicamos um ao outro.
E daqui uns dias, nosso bebê completará 2 anos.
Mas essa é outra história pra ser contada...

Que todos tenhamos vidas vividas, sentidas.
Que todos sejamos.