Tuesday, July 18, 2006

Carta para Leo

Oi Leo! Gostei do telefonema ontem. Fazia tempo que eu tava pensando diariamente em você, mas a correria, blá blá blá...então... Eu to querendo me aproximar do budismo... Você conhece algum lugar pelas imediações? Algum grupo de estudo? Algo do gênero? Estou mesmo a fim de dar uma transformada na life, sabe? Voltar a cuidar da minha alimentação, tanto corporal como espiritualmente. Isso me tem feito falta. Aqui no trampo, tudo bem. Muita coisa, bem punk, mas é um trampo bem mais humano (apesar de muita coisa burocrática). Cuidar das pessoas, ligar os interesses delas com os interesses da empresa... Essa é a utopia, que só é utopia ainda devido aos séculos de mentalidade limitante escravagista. Mas isso se transforma com o tempo e, como mais de 100 anos já se passaram, acho que não demora muito pra mudar de vez, levando em conta a rapidez com que as teorias, paradigmas, costumes e coisas têm se transformado dos últimos 100 anos pra cá.
Minha mãe mandava Telex.
Portanto, graças ao Telex, tenho fé de que surgirá uma nova filosofia política que transformará todas as relações humanas, inclusive as de trabalho. Algo como capitalismo humanista, ou socialismo liberal, sei lá. Tudo isso pra um dia alcançarmos a tão almejada (por nós) anarquia. Enfim... Dá-lhe Telex até lá.
Contudo, ainda acho que nasci na época certa. Só queria ter caminhado pelas ruas de Nova York com Henry Miller e frequentado o beco dos malditos em Paris.

Eu quero leveza na minha vida. Esses ataques todos... Eu fico olhando a TV e achando que a qualquer momento vou ver um cabeludo (e careca ao mesmo tempo), barrigudo de óculos saindo correndo depois de tacar uma bomba caseira em alguma delegacia... Leo, se comporta, hein! Ideologias cegas são lindas, bem sei. Mas também são limitantes. Sei que pareço uma dessas desistentes conformadas e passivas... uma merda, né. Mas acredito na evolução do ser humano, sou otimista, acredito que a educação e o amor possam transformar o mundo. John Lennon é o cara! Manja?? Qualquer ato de violência é, pra mim, o fundamento de se perder a razão. E ponto. Ambulância, Leo? Ônibus de deficientes? Os caras tacaram fogo nisso! E se isso for uma revolução social, é a revolução mais burra e desorganizada que já vi, já que coloca o povo contra ela. Enfim, quando vejo notícia dessas na TV, mudo de canal.
Eu estava no ponto de ônibus outro dia, e vi uma mina com um jornal que falava sobre budismo. Acho que foi um sinal...Eu quero me descobrir, ou me reencontrar. Com leveza, suavidade, amor e fluidez. Mais nada.
E que se fodam Bush, PCC e a Princesa Isabel. Aquela hipócrita.
Beijos, com um sentimento gostoso e confortante do que um dia fomos um para o outro. Simplicidade linda, tão difícil de fazer a maioria das pessoas compreender ser possível.
Sem explicações, nossas estórias nos bastam.
Você me faz olhar pra trás e sorrir.

Thursday, July 13, 2006

Essência





Essa essência que sempre a levou para as formas, para a pele, o branco da pele.
Suave e sutil. Como se a pele retratada pudesse tocar quem a olha, pudesse suar, delicadamente deslizar do papel e penetrar na essência do outro. Exprimir e explodir sua verdade, utilizando-se não apenas do olhar, mas de todos os sentidos de quem a observa.
Toque, cheiros, texturas e sabores.
Esse pode ser considerado um dos motivos de Alessandra Cestac. Sua fragilidade expressa em arte a partir da cor, do movimento e pulsação humanos.
Em Voltas, uma de suas experiências com o corpo, Alessandra se aproxima dos detalhes, marcas, extremidades que se fundem para dar forma e vida a um ser único, como um ritual de nascimento e eternidade. A certeza da vida que pulsa e que corre, quente, nas veias do mundo.
Surge, então, sua visão deste mundo que nos cerca. E a interação do corpo com o espaço revela que a fragilidade de uma pele nua torna-se brilhante, forte e livre. O frio e vazio do espaço coletivo, as luzes soltas e solitárias de ruas sem identidade se enchem de esperança com a força da forma, do gesto.
Se por vezes sentimos a inquietude e o incomodo da intensa exposição com tal espaço, como se esse todo opressor e cinza pudesse anular o sopro, Alessandra nos mostra que é possível seduzi-lo. E então o ambiente cede e transfere sua força para o brilho do olhar, a delicadeza da curva, a suavidade do toque.
O corpo, enfim, torna-se dono de si mesmo e do espaço que o cerca, certo de sua sutil e, no entanto, marcante e eterna presença.
E assim, Alessandra Cestac se mostra. Nua e inteira. Completa em essência, encontrando em si mesma suas respostas e expondo sua verdade.
E nesta rica e penetrante mensagem, toca com sua textura os expectadores de sua arte.


www.flickr.com/photos/alessandracestac