Wednesday, December 27, 2006

Primeira pessoa

É preciso coragem e desprendimento pra escrever em primeira pessoa.
E humildade pra admitir que tudo (ou quase) o que se escreveu foi um grande engano.
É preciso uma boa dose de ousadia para iniciar novos versos.
É preciso delicadeza pra se acariciar
E olhos vivos pra enxergar
E perceber com clareza
A morte
Que anuncia a chegada de um novo ser
Que, no entanto, sempre esteve ali.





22/12/2006

Noite de verão II

Gosto da música em meus ouvidos. Misturados a um delicado som de violão, ouço os grilos na noite, o som que fazem de felizes com a noite de verão.
O som que fazem se encaixa no ritmo da música e ambos se misturam, se entrelaçam. Me fazem sorrir.
Fico com vontade de fazer algum som com meu corpo, pra que eu possa entrelaçar meus braços e pernas deles também.
Quero fazer parte desse canto.
Então escrevo com compasso e movimento – sem esforço - e meus pensamentos são curvos e extensos. Meu corpo respira e se estica. Danço a formação das palavras.
A noite é de verão e estou sozinha.
Lá fora, uma brisa morna. Às vezes faz curvas pra se encontrar com meus pensamentos e toca meu corpo como que dizendo: “Eu sei...”
Arrepia os pêlos do meu corpo.
Aprendo aos poucos a sentir minha fragilidade. Meus olhos suaves como a brisa, como a música.
Nós três unidas, nessa noite de verão.


20/12/2006

Tuesday, December 12, 2006

Dois diálogos

Fragmentos perdidos de um diálogo qualquer (que de qualquer não tem nada), mas que acabou:


“Sinto-me tão acolhido por ti que sou capaz de dormir”

“Motivada pela doçura de suas palavras, mas também pelo seu crédito em meus empreendimentos, não posso deixar de dizer que seus cílios me encantam”. Sinto-me compelida a acreditar que eles estão aí para (me?) seduzir, mas confesso que fico confusa entre as idéias de sedução ou feitiço...”


“Informo-te que fiquei surpreso com teus dizeres em relação aos meus cílios. A meu ver, apenas uma mulher com o grau de sensibilidade como o teu, seria capaz de atribuir valor a algo tão singelo como os pequenos pêlos que crescem nas extremidades das pálpebras e que possuem a importante função de evitar que partículas sólidas suspensas no ar entrem em contato com os olhos.”
... sedução, sinto em discordar na sua utilização. Sedução, a meu ver, envolve certo grau de dominação, característica ligada às pulsões sádicas. O termo que eu utilizaria seria conquista...”

“Em relação à sedução, tenho uma pergunta: juras, que em suas conquistas, não há sempre um pingo de sedução? Se não houver, quando amamos devemos deixar o amado livre?”


“Granjear é cultivar (a terra). É nesse sentido que utilizo a palavra conquistar! O granjeador não está preso a sua plantação. Ele faz isso por que lhe traz satisfação! E o melhor: ele pode vivenciar a gratidão em relação a sua terra quando, após um período de dedicação, ela lhe traz belos frutos. Isso aumenta a interação entre os dois e me leva a fantasiar que a terra também o ama.”
___________________________________________________________________
Considerações, romance e utopia.

“Difícil aceitar a igualdade. Difícil perceber que o que se quer pra si, deve ser permitido ao outro. Que o afago recebido deve ser proporcional ao que se dá. Assim como o silêncio ou a distância.”

“Porque toda estória de amor se escreve com, no mínimo, dois personagens. São dois mundos que se cruzam, são dois universos em constante expansão. Milhões de moléculas se quebrando, se rompendo, se comprimindo, morrendo, expandindo, nascendo. Tudo ao mesmo tempo. Somos, naturalmente, um buraco negro de confusão existencial.”

“Ele tem os próprios acentos e vírgulas e possibilidades de frasear o mesmo parágrafo.”
”O que somos obrigados a fazer é cultivar o respeito ao próprio coração.”

“Se sou eu a representante da palavra SEDUÇÃO nesta história, como pude deixá-lo livre? E ele, sendo o representante da palavra conquista como pôde querer me dominar?... Incoerentes estas idéias deste povo monogâmico, não?”

“Mas aí a gente tem que transcender essas idéias tolas porque isso é ego. Pra mim é puro ego.”

“Entenda ou não, saiba ou não, enxergue ou não, aqui dentro tem um coração poderoso e brilhante que pulsa, pulsa por aí tentando se encontrar. E um dia, natural e tranquilamente, um olhar vai se cruzar com outro. E tudo vai se entender sozinho. Ahhhh... o que seria da minha vida se não fosse romanceada?”


“Bingo! É isso que eu queria que ele entendesse. Sabe, talvez numa próxima encarnação, poderiamos nos encontrar?! Melhor ainda se não tivessemos egos!... mas aí nasceríamos como fada e "fado", por que somente estes seres fantásticos, se é que eles existem, não o teriam - este maldito.”

Ah! E nossa vida, bendita seja, será sempre romanceada! Ainda bem que vc existe na minha vida amiga, senão estaria perdida, no meio de dragões, carruagens e castelos que (olhe a sua volta!) quase ninguem está vendo!

eu amo minha mãe

eu amo minha mãe.

ela fala: "deus te abençoe e te guarde, minha filha"

(o que ela ainda não sabe é que Deus sou Eu)

O nascimento do prazer

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.

Thursday, November 30, 2006

um sonho

essa noite tive um sonho...
e a força do olhar, e a alegria de cada gesto...
nós sorríamos e sorríamos...
inundados pela simples alegria de estarmos juntos...

fazia tempo que não lembrava tão vivamente de um sonho...

como quando se acorda e ainda se tem nas veias e no coração aquele momento.

era tanta alegria... alegria compartilhada...

sorríamos e nos beijávamos, andando pelas ruas... corpos unidos como se deles fluísse a energia da vida. vida de um para o outro.

acordei ainda inundada... ainda sentindo aquele olhar tão profundo e tão carregado de sentimento...

hoje, levo essa alegria comigo...

apesar da certeza de que foi apenas um sonho... que se sonha só...

Thursday, November 23, 2006

Cada vez mais

Esses dias, quando recebi emails de amigos perguntando como estou, o que tenho feito, como vai a vida, tive sempre o mesmo impulso de resposta mal educado e seco (que não é necessariamente impulsiva, pois a resposta é elaborada em pensamentos e análises e conclusões bem fundamentados).
“Tenho vivido a reclusão em companhia de um bom vinho e meus sons, porque é o que há de melhor a se fazer nesse mundo de idiotas”.
Como esse tema tem povoado meu pensamento, resolvi dar uma elaborada no raciocínio.
Não que eu tenha dúvidas de que o mundo está, realmente, povoado de idiotas, mas porque sou flexível e adaptável e me proponho analisar se o erro é meu, do mundo ou de nenhum dos dois.
Pode ser, por exemplo, um equívoco.
Posso estar sendo injusta, má, anti-social. Uma bruxa, enfim.
E se sou realmente uma bruxa, quero ter certeza que o sou com argumento e fundamentação.
No entanto, de repente, posso concluir que não sou bruxa nenhuma.

Eu me irrito.
Veja bem, não estou constantemente irritada, não xingo ninguém, não mando ninguém à merda e tal. Tive educação britânica e, mesmo que o desejo seja enorme, não consigo mandar ninguém tomar no cú.
“Ah! Me deixa! Vai tomar no cú!”
Adoraria, com todas as minhas forças, fazer isso um dia.
“Cara, não to a fim de falar, nem de te escutar, nem de sorrir pra você. Então vai pra lá que eu vou pra cá e ficamos bem”.
Me sinto uma cobaia do “Laranja Mecânica”, pois quando penso em falar essas coisas parece que vou cair, rolar no chão e me debater em sofrimento profundo.
Tá, não consigo e pronto. Parabéns papai e mamãe que me educaram direitinho. Sou um doce de menina.
Deixemos claro: isto não é uma prece de revoltada. Nem uma ode à eterna adolescência inconseqüente.
Pelo contrário. Quando eu era mais nova, queria agradar e convencer o mundo de que eu era legal e interessante e “in” e descolada e super gente fina.
E acho que eu era tudo isso mesmo. Talvez até continue sendo.
Só que eu canso.
To com preguiça.
E então, sutilmente (já que não fui educada pra ser explícita) largo minhas tiradinhas pelo mundo. Entendam o que quiserem, compreendam se conseguirem. Mas deixo meus recados de indignação.
Porque as pessoas estão idiotas,sim, meu Deus!
Primeira conclusão: sou uma bruxa inteligente porque sei xingar nas entrelinhas. Sei vomitar sorrindo.
Ponto pra mim.
E cada vez me certifico mais de que um bom vinho, meus sons e minha casa são bem melhores do que qualquer companhia previsível, qualquer baladinha fútil ou porre sem sentido.
É triste, bem sei. A solidão me incomoda.
Mas já tenho subterfúgios pra isso também.
Coloco um blues que me suba pelas veias, que me aqueça o sangue, que me eleve o espírito. Meus pêlos se arrepiam e um sorriso de prazer vaza, involuntário, por meus lábios. E então danço nua, sozinha, sorrindo pela casa. Taça de vinho na mão, luz baixa, som alto. Desejo, movimento, ritmo, curvas. Me abasteço com meus prazeres. Vou me curtindo, me estudando e me fortalecendo em mim mesmo.
“Pra se ter firmeza de vontade moral é necessária certa força física”, diz meu atual companheiro Henri Charrière.
E não estou disposta a abrir meu mundo pra qualquer idiota. Nem em carne, nem em mente.
(e há quem saiba que existem espaço e disposição de sobra para doçura em mim)
(e há aqueles, sem dúvida, que me fariam abandonar minha reclusão em segundos, pelo simples prazer da companhia ou apenas meia dúzia de palavras reticentes... você sabe, você sabe...)
O fato é que minhas noites, o que tenho de Meu depois de um dia cheio de contatos e relações profissionais, são felizes e divertidas. Seja fazendo um jantar bem feito, dançando, lendo, ouvindo música ou, simplesmente, não fazendo nada. Dormir é uma delícia.
Estou de bem com o mundo e as pessoas dele. Sem mágoas, traumas ou desilusões. Apenas vejo-o puramente como é. Não o mascaro, não me deslumbro.
E fico, cada vez mais, de bem comigo.


Monday, November 20, 2006

Saiba quanto já pagamos em 2007. Clique aqui!

Achocolatado - 37,84%
Açúcar - 40,4%
Água mineral - 45,11%
Água - 29,83%
Água sanitária - 37,84%
Álcool - 43,28%
Aparelho de barbear - 41,98%
Aparelho de som - 38,00%
Armário de madeira - 30,57%
Arroz - 18%
Automóvel - 43,63%
Batedeira - 43,64%
Bicicleta - 34,50%
Biscoito - 38,5%
Brinquedos - 41,98%
Cachaça - 83,07%
Cadeira de madeira - 30,57%
Café - 36,52%
Cama de madeira - 30,57%
Caneta - 48,69%
Carne bovina - 18,63%
CD - 47,25% (depois reclamam dos piratas!)
Cerveja - 56%
Chocolate em barra - 32%
Cigarro - 81,68%
Cobertor - 37,42%
Computador - 38,00%
Condicionador de cabelo - 47,01%
Copos - 45,60%
Desinfetante - 37,84%
Desodorante - 47,25%
Detergente - 40,50%
DVD - 51,59%
Energia elétrica - 45,81%
Ervilha - 35,86%
Esponja de aço - 44,35%
Farinha de Trigo - 34,47%
Feijão - 18%
Ferro de Passar - 44,35%
Fertilizantes - 27,07%
Fogão - 39,50%
Frango - 17,91%
Frutas - 22,98%
Garrafa térmica - 43,16%
Gasolina - 57,03%
Lápis - 36,19%
Leite - 33,63%
Lençol - 37,51%
Liquidificador - 43,64%
Livros - 13,18% (nos países civilizados o imposto é ZERO)
Macarrão - 35,20%
Margarina - 37,18%
Mensalidade Escolar - 37,68%
Mesa de madeira - 30,57%
Microondas - 56,99%
Milho verde - 37,37%
Molho de tomate - 36,66%
Motocicleta acima de 125 cc - 49,78%
Motocicleta de até 125 cc - 44,40%
Móveis - 37,56%
Óleo de soja - 37,18%
Ônibus interestadual - 16,65%
Ônibus metropolitano - 22,98%
Ovos - 21,79%
Panelas - 44,47%
Papel Higiênico - 40,50% (ATÉ PRA CAGAR!!)
Papel sulfite - 38,97%
Passagens aéreas - 8,65%
Pasta de Dente - 42,00%
Peixe - 18,02%
Pratos - 44,76%
Refresco em pó - 38,32%
Refrigerador - 47,06%
Refrigerante - 47%
Remédios - 36% (porque passagem aérea cobra só 8,65%??)
Roupas - 37,84%
Sabão em barra - 40,50%
Sabão em pó - 42,27%
Sabonete - 42%
Sal - 29,48%
Sapatos - 37,37%
Saponáceo - 40,50%
Shampoo - 52,35%
Sofá de madeira/plástico - 34,50%
Suco concentrado - 37,84%
Talheres - 42,70%
Tapete - 34,50%
Telefone - 47,87%
Telefone Celular - 41,00%
Telha - 34,47%
Tijolo - 34,23%
Tinta - 45,77%
Toalhas de mesa e banho - 36,33%
Transporte Aéreo de Cargas - 8,65%
Travesseiro - 36%
Vassoura - 26,25%
Ventilador - 43,16%
Vídeo-cassete - 52,06%

(mas o que aconteceu na novela ontem, mesmo?)

Tuesday, November 07, 2006

Ode à dentadura

Sei lá o que sou. Vai saber. Vou saber um dia. No dia em que eu souber, provavelmente contarei ao mundo, gritando, cheia de orgulho. Não que o mundo precisará saber, mas vou querer me convencer e é possível que eu esteja com uns 70 anos e meus ouvidos não estejam colaborando com meu cérebro com tanta eficiência.

Sei lá o que quero. Vai saber. Talvez saiba um dia. E nesse dia vou ficar bem quietinha porque é possível que eu esteja com uns 80 anos e perceba que o que eu queria era fácil demais pra se conseguir e que perdi muito tempo pensando que, além de não saber o que queria, acreditava que seria difícil demais conseguir, quando soubesse.

Sei lá do meu destino. Vai saber. Quero saber um dia. Quando estiver com 90 anos e vir que meu destino foi o que fiz de mim todos os dias, todas as horas, em cada oportunidade que surgiu em meu mundo. Nessa hora vou olhar pra trás. Quero poder sorrir.

Sei lá porque tenho tanta paranóia. Paranóia de tudo. Vai saber. Devo saber um dia. Espero que nesse dia eu me sinta a mais ridícula de todos os seres da Terra por perceber que eram simples paranóias. Mas espero que haja tempo para viver a vida sem elas. E pare de querer agradar a todos. E balance os ombros. E saia rindo. Rindo, mostrando a dentadura pro mundo.

E que um dia não me sinta a mais ridícula de todos os seres da Terra. Por finalmente saber quem sou, o que quero, saber o que fiz do meu destino, sem paranóias. Nesse dia, vou me abraçar e me beijar. E me achar o ser mais lindo de todos os seres da Terra.


E hoje não sou menos feliz por isso.

Monday, October 30, 2006

pisca-pisca existencial

Tem uma luz que fica piscando na minha cabeça. É só a lâmpada da minha sala que tá quase queimando... mas de repente tenho a sensação de que essa luz pisca na minha cabeça há anos...




And I feel good about it.

Monday, October 16, 2006

A esperança que vive em mim

Sempre me questionei. Sinto-me, de fato, um sopro do universo. Um nada. (obviamente, um nada que, graças a Einstein, pode ser um todo, pleno e completo - mas justamente aí se encontra meu erro de análise).
A questão fundamental é: minha retórica, essas construções rebuscadas e palavras floridas... essa merda toda que falo sobre "verdade", "beleza", "arte" e "vida"... são palavras... nada mais do que palavras. Incoerentes e vazias.
Se não ações, se não vividas ao seu próprio custo até que saiam pelos poros, olhos e, bloqueadas pelo medo e pela suposta impossibilidade de opções, não transmutadas em uma Verdade Viva... as palavras são mentiras das mais cruéis, posto que hipócritas e carregadas de covardia e prepotência.
Covarde e prepotente.
É como me sinto hoje.
E só quem encontra uma Verdade Viva pela frente, sabe do que falo. E, se tiver um mínimo de decência, sente-se covarde e prepotente também.
Não faço questão que alguém me entenda.

Sábias as palavras de quem hoje me disse que os encontros não são casuais quando se está em busca da verdade. Talvez isto me conforte um pouco. Talvez seja uma indicação de que, ao menos, há um caminho. Uma tentativa. Uma idéia. Um desejo sincero. Que seja realmente parte de meu coração.

Mas esta constatação não diminui em nada a sensação de pequenez de espírito, fragilidade de valores, incoerência de idéias.
Minha alma não se esquiva (e nisso posso, finalmente, encontrar nela algum valor). Ela se permite assumir sua dor. Transborda em si mesma, ávida por novos horizontes. Ela sofre. E de sua vergonha brota uma gota de esperança.
Que eu viva minha vergonha, então!
Pois somente ela me faz acreditar. Crer que justamente por sentí-la, ainda tenho chances de não me tornar aquilo que jamais suportaria ser.
Que minha vergonha seja o princípio de minha real libertação.

Wednesday, October 11, 2006

Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Tuesday, September 12, 2006

Música com abraços

Quis escrever umas palavras pra você.
Aqui em casa, hoje. Ouvindo alguns dos sons, que a mim você presenteou.
O fato é que você me presenteou com outras coisas, bem mais valiosas.
Músicas são fios, linhas, sopros flutuantes no universo. Que um artista sensível conseguiu captar e trazer compreensível aos nossos ouvidos.
Seu presente pra mim foi ter traduzido de seu universo, formas e composições vibrantes e verdadeiras.
Ouvi seu mundo, muito atenta. E tais formas, tais composições, me fizeram muito bem.
Pois renovaram, em mim, pensamentos e idéias. Sentimentos e desejos. Me abriram os olhos, me tiraram amarras que eu mesmo havia criado. Me expuseram a fatos antes muito bem mascarados por meu inteligente, cruel e pessoal congelamento.
Espero ter te presenteado com um mínimo de alguma coisa também. Seja lá o que for. Pois um dia é possível que a carne macia não faça mais sentido ou não encontre mais espaço num mundo modificado por contextos e outros encaixes.
E é justamente isso que me move a viver minhas estórias.
Um dia, dois ou quatro.
Estórias suficientemente intensas para que sejam guardadas em meu coração com muito cuidado e carinho.
Pessoas com estrelas no ventre que passam a fazer parte da minha vida, injetando em mim porções de beleza, força e verdade.
Como um abraço sincero.
Pra sempre.

Meus abraços foram todos sinceros.


11/09/2006

Que seja...


Hoje percebi a solidão...
Uma sensação exata. Fria.
Não é sofrimento. Não é tristeza.
É só a casa vazia, eu, a música.


Sei que passa.
Que passe, então. Mas que, ao menos, eu não me acostume.
Que eu não substitua o calor por minhas idiossincrasias.
O sorriso compartilhado por minhas estórias inventadas e armazenadas em palavras, pedaços de papel.
Sim, que meu mundo continue sendo meu, meu jeito, minhas estrelas brilhando em meu peito.
Que a alegria me acompanhe fácil, suave e constante.
Mas que eu seja solta. Seja leve e aberta ao que se passa lá fora.
Pois lá fora ainda há boas almas (incrível!).
E as diferenças são necessárias para que meu espírito aprenda e evolua.
E a mágica dos encontros inesperados ainda se apresenta em meu caminho.
Que eu ame. Que eu grite. Que de mim continue brotando apenas verdade. Minhas verdades.
Mas que nasça em mim o ímpeto para compartilhar.
O desejo de aceitar e doar flores.
E, por hora, que meu sono continue tranqüilo.



11/09/2006

Wednesday, August 23, 2006

Você sabe?


Sabe assim...

Sabe quando é uma delícia não racionalizar e deixar que a poesia tome seu curso?
Sabe? Você sabe ficar sozinho?
E se permitir um banho de poesia...
Com a poesia da música penetrando nos poros e a poesia do espelho, leve... e no entanto intenso e obscuro, inundando as veias de prazer... e a poesia da imaginação creando absurdos... pois, realmente, é preciso crer em alguma coisa, de alguma forma, por mais fugaz que seja.
E a música, com o vinho (combinação perfeita) fazem com que a loucura diária se realize, aquela loucura diária necessária pra que a rotina seja ao menos suportável, pra transformar o usual em belo... de alguma forma...
É... há o que se fazer amanhã... e haverá o que se fazer sempre...
Mas a luz, essa pouca luz, misturada à música suave e à vontade de algo que nem mesmo se sabe se existe... e à poesia que é possível crear...
É belo.

Pensamentos convergentes III

Por não estarem distraídos





Havia a levíssima embriagues de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter essa sede era a própria água deles. Andavam pelas ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque
--- a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras --- e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, e ela não via que ele não vira, ela que estava ali no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só por que tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo por que quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

Pensamentos convergentes II

Romântica pra cacete
Nem toda relação homem e mulher é romance
Nem todo dia tem Sol, nem toda sobremesa é cheese cake e nem toda relação homem e mulher é romance.
E você vai fazer o quê?
Vai se matar por causa do cinza acima da sua cabeça? Vai tremer hipoglicêmica e carente porque só sobrou torta holandesa? Vai se manter virgem e intacta até aparecer o homem que vai te dar uma casa com cerquinhas brancas, cachorrinhos e bebês?Claro que não, você vai viver a vida, curtindo o que ela tem de melhor. E o que um bonitão que só quer te comer pode ter de melhor? Bom, eu poderia fazer uma lista. Mas a droga do romance estraga tudo isso, a droga dos filmes românticos nos enganam como as propagandas de cerveja que enchem de gostosas os babacas segurando um copinho.Por que raios a gente tem de romantizar qualquer demonstração de carinho de um homem se na maioria dos casos eles só querem nos comer?E por que ficamos tão putas se eles apenas nos comem e caem fora?Quem disse que eles são obrigados a nos amar eternamente só porque conheceram de perto a nossa beleza interior? E, finalmente: que mal há em sermos gostosas e os homens quererem nos comer?Por que isso parece ofensivo? Por que nos sentimos usadas se ambos estão lá de livre e espontânea vontade?
Isso é herança das mulheres pudicas, sonhadoras e donas de casa do século passado ou a célula do romance vai eternamente se multipilcar e passar de geração em geração através das mulheres?Eu tento, juro que tento. Mas a droga do romance não me deixa em paz.Eu não tenho mais idade para ficar morrendo de vontade de dar para um cara e ficar enrolando até ouvir juras de amor eterno (que podem ser só para me comer), francamente isso não é coisa de mulher!Mas depois passo anos pensando se não fui muito fácil.Eu vou lá, mato minha vontade, tomo um belo banho, volto independente e resolvida pra casa e acordo no dia seguinte morrendo de vontade de ganhar flores, receber ligações românticas e promessas eternas.É uma praga.
Conscientemente eu sei que nem todos os caras querem namorar comigo, e mais conscientemente ainda eu sei que eu também não quero namorar com a maioria deles. Mas lá dentro fica a dúvida: será que fui usada?Da onde vem esse sentimento fraco, submisso, antigo, arcaico, pobre e idiota de que numa relação sexual o homem é o dominante que come e a mulher a coitada que é comida?
Claro que tem os babacas que nos fazem sentir assim, não se preocupam com o nosso prazer e agem na velocidade do prazer deles.Mas tirando esses babacas (e depois que você experimenta um quase sempre fica descolada para afugentar os outros) por que um homem que te trata bem, te come direito, com carinho, com respeito e depois não quer namorar com você, te ofende?
E por que se ele te tratou tão bem, com tanto carinho e respeito, só quis te comer e caiu fora? Precisava se dar tanto trabalho?A vida é complicada. E a vida é complicada porque nós mulheres romantizamos tudo, ou quase tudo. Ou justamente o que não deveríamos.A gente faz planos mesmo em cima dos silêncios deles. A gente vê beleza em cada sumiço. A gente vê olhares de amor no mais puro olhar de tesão. A gente acaba de trepar e é batata: deita no peito deles!Ah, o romance! Mulher que é mulher não consegue fugir de um.Você pode até levantar apressada, fumar um cigarro, olhar a janela. Você pode disfarçar. Mas lá no fundo, bem escondido, estão seus sonhos de entrar de branco numa igreja e ver lá na frente aquele homem para quem você acabou de dar.
Você vai para o banho super senhora de si, mas enquanto a água escorre levando restos de células esfregadas e sêmens, você fica na dúvida entre se ele vai ligar no dia seguinte e o nome dos filhos.Será que ele vai ter os olhos do pai?
Eu cansei de ser assim, por que não consigo ver os homens como diversão se eles conseguem tão facilmente nos ver assim?Por que não posso aceitar que nem tudo é romance?
Por que a droga da chuva me lembra todas as vezes que eu voltei para casasonhando e no dia seguinte me deparei com a frieza do dia seguinte?Por que a droga do jazz me lembra a vida perfeita que eu sonho a cada ombro cheiroso que me cega os problemas e me ensurdece a espera?Por que a droga da noite me lembra os corpos amados que ainda que cansados e tombados nunca caíram por mim?
Aonde está você pelo amor de Deus! Aonde está você? Não vê que estou cansada de pertencer a todos e não ser de ninguém? Não vê que minha devolução me enfraquece cada vez mais em me entregar?Não vê que na loucura de te encontrar não meço as entregas? E elas nunca são entregas porque eles nunca são você.Porque comecei este texto tão bem e mais uma vez esqueci de ser a mulher moderna que eu tanto gostaria de ser para lembrar a mulher romântica que espera por você a cada esquina, a cada decote, a cada riso nervoso que solto em forma de grito à espera do seu socorro.
Eu vou continuar vendo você em todos esses crápulas que fingem ser você para vulgarizar o meu amor. Eu vou continuar cheirando você em todos esses suores fugazes que me querem num conto pequeno. Eu vou continuar lendo a nossa história em contos pequenos.Cadê você que some a cada som que não me procura?
Cadê você que parece ser e nunca é porque desaparece no cansaço das relações?O meu amor acaba por todos, a minha espera cansa por todos, a minha raiva ameniza por todos. Mas a minha fé por você cresce a cada dia.Eu posso transar no primeiro encontro, eu posso transar por transar. Eu posso trepar. Eu posso te encontrar num flat na hora do almoço para uma rapidinha. Eu posso reclinar o banco do meu carro e mandar ver. Eu posso deixar você não me beijar na boca. Eu posso aceitar que você nunca me leve de mãos dadas a um cinema. Eu posso ser uma noite e nada demais. Eu posso ser um banheiro e nada mais. Eu posso ser nada mais.Mas eu nunca, em nenhum momento, deixo de romantizar a vida, cada segundo, por mais podre que seja, dela. Eu nunca deixo de procurar você. Eu nunca deixo de acreditar que você exista, e eu nunca deixo de acreditar que você faz o mesmo a minha espera.

Tatiane Bernardi

Pensamentos convergentes I

Quero dizer que te amo só de amor. Sem idéias, palavras, pensamentos. Quero fazer que te amo só de amor. Com sentimentos, sentidos, emoções. Quero curtir que te amo só de amor. Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo. Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel. Claro-escuros projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer. Apenas sombras as palavras no papel.
Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos dos amantes. Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor te escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen. São versos que pulsam, gemem e fecundam. Meu poema se encanta feito o amor dos bichos livres às urgências dos cios e que jogam, brincam, cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.
Quero da vida as claras superfícies onde terminam e começam meus amores. Eu te sinto na pele, não no coração. Quero do amor as tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica, onde sou épico porque ébrio e lúbrico. Quero genitais todas as superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempre antes, não depois da excitação. Meu grande amor, o infinito é um recomeço. Não há limites para se viver um grande amor. Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo. Não há limites para o fim de um grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornam quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas. A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo do outro, para inventar deuses na solidão do nós. Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto.

Roberto Freire

Wednesday, August 16, 2006

Ilha


Ah! E como voltei diferente...
Em um momento, eu estava no topo de uma montanha, era a montanha errada. Eu devia ter ido para a direita, mas ventos me levaram para a esquerda. E à esquerda não havia trilha, não havia trilha.
E lá em cima, da montanha agora certa, fechei os olhos. Parei. Lá em cima. Vendo deus em forma de água e pássaros, verde, muito verde e brisa suave no rosto.
Naquele momento, momento certo, sozinha, em algum dia de agosto dos meus 28 anos, agradeci pelo presente que me dei.
Eu, sozinha, me presenteei.
Me presenteei com terra e água e luz no corpo, com leveza no movimento e com um suspiro profundo de simples alegria. Alegria simples.
A montanha me engolia e eu me permitia nela penetrar, com pés cansados e corpo suado.
Me entreguei a meu presente.
E vi que ninguém poderia me agradar tanto quanto eu mesma.
Vi também como estava presa e tensa dentro do mundo que criei pra mim. Condicionada e com os braços atados. Resignada a movimentos curtos e palavras vagas. A presenças superficiais e abraços pouco verdadeiros.
Não, não.
O que preciso é de olhares que me atravessem. Toques que em meu corpo permaneçam como uma lembrança boa. Prazer que corra em minhas veias a cada instante de lembrança.
E a entrega foi tanta, e o peso sugado pela terra, e a tristeza arrancada pelo vento, e o medo dissipado pelo longo caminhar que o sorriso voltou leve e natural. Solto.
E, por tão verdadeira, fui ainda presenteada por uma descoberta.
Um encontro, uma estória e alguns dias.
Encontro daqueles em que o toque fica no corpo e o prazer nas veias.
Lembrança boa.
Agora volto ao meu caminho. Procurando a trilha errada.


15/08/2006

Tuesday, July 18, 2006

Carta para Leo

Oi Leo! Gostei do telefonema ontem. Fazia tempo que eu tava pensando diariamente em você, mas a correria, blá blá blá...então... Eu to querendo me aproximar do budismo... Você conhece algum lugar pelas imediações? Algum grupo de estudo? Algo do gênero? Estou mesmo a fim de dar uma transformada na life, sabe? Voltar a cuidar da minha alimentação, tanto corporal como espiritualmente. Isso me tem feito falta. Aqui no trampo, tudo bem. Muita coisa, bem punk, mas é um trampo bem mais humano (apesar de muita coisa burocrática). Cuidar das pessoas, ligar os interesses delas com os interesses da empresa... Essa é a utopia, que só é utopia ainda devido aos séculos de mentalidade limitante escravagista. Mas isso se transforma com o tempo e, como mais de 100 anos já se passaram, acho que não demora muito pra mudar de vez, levando em conta a rapidez com que as teorias, paradigmas, costumes e coisas têm se transformado dos últimos 100 anos pra cá.
Minha mãe mandava Telex.
Portanto, graças ao Telex, tenho fé de que surgirá uma nova filosofia política que transformará todas as relações humanas, inclusive as de trabalho. Algo como capitalismo humanista, ou socialismo liberal, sei lá. Tudo isso pra um dia alcançarmos a tão almejada (por nós) anarquia. Enfim... Dá-lhe Telex até lá.
Contudo, ainda acho que nasci na época certa. Só queria ter caminhado pelas ruas de Nova York com Henry Miller e frequentado o beco dos malditos em Paris.

Eu quero leveza na minha vida. Esses ataques todos... Eu fico olhando a TV e achando que a qualquer momento vou ver um cabeludo (e careca ao mesmo tempo), barrigudo de óculos saindo correndo depois de tacar uma bomba caseira em alguma delegacia... Leo, se comporta, hein! Ideologias cegas são lindas, bem sei. Mas também são limitantes. Sei que pareço uma dessas desistentes conformadas e passivas... uma merda, né. Mas acredito na evolução do ser humano, sou otimista, acredito que a educação e o amor possam transformar o mundo. John Lennon é o cara! Manja?? Qualquer ato de violência é, pra mim, o fundamento de se perder a razão. E ponto. Ambulância, Leo? Ônibus de deficientes? Os caras tacaram fogo nisso! E se isso for uma revolução social, é a revolução mais burra e desorganizada que já vi, já que coloca o povo contra ela. Enfim, quando vejo notícia dessas na TV, mudo de canal.
Eu estava no ponto de ônibus outro dia, e vi uma mina com um jornal que falava sobre budismo. Acho que foi um sinal...Eu quero me descobrir, ou me reencontrar. Com leveza, suavidade, amor e fluidez. Mais nada.
E que se fodam Bush, PCC e a Princesa Isabel. Aquela hipócrita.
Beijos, com um sentimento gostoso e confortante do que um dia fomos um para o outro. Simplicidade linda, tão difícil de fazer a maioria das pessoas compreender ser possível.
Sem explicações, nossas estórias nos bastam.
Você me faz olhar pra trás e sorrir.

Thursday, July 13, 2006

Essência





Essa essência que sempre a levou para as formas, para a pele, o branco da pele.
Suave e sutil. Como se a pele retratada pudesse tocar quem a olha, pudesse suar, delicadamente deslizar do papel e penetrar na essência do outro. Exprimir e explodir sua verdade, utilizando-se não apenas do olhar, mas de todos os sentidos de quem a observa.
Toque, cheiros, texturas e sabores.
Esse pode ser considerado um dos motivos de Alessandra Cestac. Sua fragilidade expressa em arte a partir da cor, do movimento e pulsação humanos.
Em Voltas, uma de suas experiências com o corpo, Alessandra se aproxima dos detalhes, marcas, extremidades que se fundem para dar forma e vida a um ser único, como um ritual de nascimento e eternidade. A certeza da vida que pulsa e que corre, quente, nas veias do mundo.
Surge, então, sua visão deste mundo que nos cerca. E a interação do corpo com o espaço revela que a fragilidade de uma pele nua torna-se brilhante, forte e livre. O frio e vazio do espaço coletivo, as luzes soltas e solitárias de ruas sem identidade se enchem de esperança com a força da forma, do gesto.
Se por vezes sentimos a inquietude e o incomodo da intensa exposição com tal espaço, como se esse todo opressor e cinza pudesse anular o sopro, Alessandra nos mostra que é possível seduzi-lo. E então o ambiente cede e transfere sua força para o brilho do olhar, a delicadeza da curva, a suavidade do toque.
O corpo, enfim, torna-se dono de si mesmo e do espaço que o cerca, certo de sua sutil e, no entanto, marcante e eterna presença.
E assim, Alessandra Cestac se mostra. Nua e inteira. Completa em essência, encontrando em si mesma suas respostas e expondo sua verdade.
E nesta rica e penetrante mensagem, toca com sua textura os expectadores de sua arte.


www.flickr.com/photos/alessandracestac

Wednesday, May 31, 2006

Cecília Meireles

"A vida só é possível reinventada.
Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo... – mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.
Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só – no tempo equilibrada, Desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.
Só – na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada."

Thursday, April 20, 2006

Os Mistérios Erisianos






O Princípio Anerístico é aquele de APARENTE ORDEM; o Princípio Erístico é aquele de APARENTE DESORDEM. Tanto ordem quando desordem são conceitos criados pelo homem e são divisões artificiais do CAOS PURO, que é um nível além do que o nível de criação de distinções. Com nosso aparato de criar conceitos, que chamamos "mente", nós olhamos para a realidade através das idéias-sobre-a-realidade que nossas culturas nos dão. As idéias-sobre-a-realidade são erroneamente rotuladas de "realidade", e pessoas não iluminadas sempre ficam perplexas pelo fato de que outras pessoas, especialmente outras culturas, vêem a "realidade" de uma maneira diferente. São somente as idéias-sobre-a-realidade que diferem. A realidade Real (Verdadeira com V maiúsculo) é um nível além do nível de conceito. Nós olhamos para o mundo através de janelas nas quais foram desenhadas grades (conceitos). Filosofias diferentes usam grades diferentes. Uma cultura é um grupo de pessoas com grades bastante similares. Através de uma janela nós vemos caos, e relacionamos ele aos pontos na nossa grade, e assim entendemos ele. A ORDEM está na GRADE. Este é o Princípio Anerístico. A Filosofia Ocidental preocupa-se tradicionalmente em contrastar uma grade com outra grade, e juntar grades na esperança de encontrar uma perfeita, que vai retratar toda a realidade, e vai, portanto, (dizem os ocidentais não-iluminados) ser Verdadeira. Isto é ilusório, é o que nós Erisianos chamamos de ILUSÃO ANERÍSTICA. Algumas grades podem ser mais úteis do que outras, algumas mais agradáveis do que outras, etc., mas nenhuma pode ser mais Verdadeira do que nenhuma outra. DESORDEM é simplesmente informação não relacionada vista através de alguma grade particular. Mas, como "relação", não-relação é um conceito. Macho, como fêmea, é uma idéia sobre sexo. Dizer que macheza é "ausência de feminilidade", ou vice-versa, é uma questão de definição e metafisicamente arbitrária. O conceito artificial de não-relação é o PRINCÍPIO ERISIANO. A crença de que "ordem é verdadeira" e desordem é falsa, ou de alguma outra forma errada, é a Ilusão Anerística. Dizer o mesmo da desordem é a ILUSÃO ERÍSTICA. O ponto é que a verdade (v-minúsculo) é uma questão de definição relativa à grade que uma pessoa está usando no momento, e a Verdade (V-maiúsculo), realidade metafísica, é totalmente irrelevante para as grades. Pegue uma grade, e através dela algum caos parece desordenado e outro aparenta desordem. Pegue uma outra grade, e o mesmo caos vai aparecer ordenado e desordenado de forma diferente.

Thursday, April 13, 2006

Um texto meio sem fundamento

Quando penso no Japão na idade média, imagino um monte de guerreiros de rabicó esfaquiando a própria barriga branca.
Por que todo mundo na idade média se matava?
No Japão havia a cidade de Edo, hoje Tokyo. E também tinha Kyoto, hoje Kyoto.
Várias guerras civis rolaram.
Destruíram Kyoto.
E a arte floresceu!
A idéia é a de que a arte, assim como a cultura, brota após um período politicamente crítico.
A onda chega e tudo destrói. Não resta alternativa senão começar de novo sob outra ótica, com diferentes perspectivas e valores.
O novo abre espaço para quea visão seja diferenciada e, com ela, vem a criação.
Inata, porém amortecida.
É preciso que o mundo se transforme, se renove periodicamente, para que a arte floresça?
Ou será a arte responsável pela renovação do mundo?
No Japão da idade média, os que detinham o poder usavam a arte como instrumento. Permitiam que os artistas retratassem o dia a dia das cidades (e pagavam pelas obras) para que pudessem observar o que ocorria com o povo sob seu domínio.


Puta texto tosco. Parei.

Tuesday, March 28, 2006

Pesadelo




Mas eu não queria ver aquele filme, nem ver novela... então apaguei a luz às 21h30, quando meus olhos não reconheciam mais a sequência das palavras do livro que deviam estar fazendo sentido mas que, para mim, não diziam mais nada.

Meus olhos, pesados, pediam para ser virados do avesso pra poderem olhar, ou ler, as estórias que meu cérebro guarda no universo dos meus sonhos.

Então resolvi dormir.





Mas meu sono das 21h30 não foi pesado o suficiente para me poupar de um impiedoso despertar, às 22h, ao som do KLB.
Eles invadiram minha casa.
Quem manda ser carente e ficar aguardando visitas?
Eles chegaram. Eles e suas musiquinhas.
Eles invadiram minha casa!!
Por estarem em depreciação no mercado musical e, consequentemente, cobrarem um cachê mais baratinho, o querido prefeito os contratou para um show em comemoração ao aniversário da minha cidade.
Pão e circo!! Eba!!
Neste caso, apenas circo, porque o pão deve ser comprado em uma das barraquinhas da festa.
Tudo bem. Respiro fundo. Tá tudo bem, Marina. Se concentra.
Comecei a pensar no que poderia fazer pra evitar um colapso nervoso.
Depois de 40 minutos rolando na cama, pensando se incomodaria Deus com uma súplica desesperada ou se batia a cabeça na parede, resolvi me levantar.
Peguei uma taça de vinho, acendi um cigarro.
Fiquei pensando sobre o sorriso. Esse sorriso que mantemos no rosto.Um sorriso social, inexpressivo, que fica lá, jocoso, pra causar boa impressão ou, em casos mais graves, pra evitar que palavras infames saiam de uma boca que responde a uma alma verdadeira.
Ultimamente tenho lançado vários destes sorrisos. Tenho preferido a complacência. Palavras simples, gestos simples.
Meu cérebro tendo convulsões, meus pensamentos num turbilhão de idéias ainda desconexas e meu coração tentando decifrar emoções novas, tentando encontrar as respostas que possam preencher o vazio que tenho sentido.
Vazio necessário.
Por isso mantenho também vazio o sorriso.
Devo manter a energia presa em meu corpo, me alimentando.
Pois algo está se transformando em mim e quero poupar e respeitar meu momento fetal.

E agora que acabou o show do KLB posso dormir novamente e voltar ao mundo dos meus sonhos e alimentar minha alma de pensamentos etéreos.
Obrigada, meu Deus!!


Wednesday, March 22, 2006

Out


Tenho sentido meu cérebro oco.
Esse é o problema.
Estou me sentindo uma personagem do livro Admirável Mundo Novo. Um ser artificial, mecânico, plástico e sem individualidade.
Tá tudo superficial demais.
Não tem vento forte batendo no rosto.
Preciso de uma cachoeira.

Friday, March 17, 2006

Obra de arte

Ivete:Meninas... Eu tenho uma sugestão:Aqui temos uma Loira, uma morena, e uma quase ruiva que não se decide na cor do cabelo... Vocês deveriam fazer uma pose "Angel's Charlie" e tirar uma foto. Ficaria fabulosa!!!

Marina: Enquanto não podemos reunir as três pra tirar a famosa foto poderosa, coloquei outra, não menos significativa, representando uma outra vertente de nossa tão complexa personalidade. Afinal de contas, também somos moças direitas, de família... e como diz a pantera bunda branca: Somos pra casar!!!

Ivete: Nossa!!!! Que poder eu tenho!!! To me sentindo o próprio deus... Seja feita minha vontade.... Quero um homem que nem a Marina, que faça todas as minhas vontades...A foto está ótima!!! Perfeita como uma luva...Olha que linda!!! 3 anjinhas!!! TUDIBOM, igulazinha nossas amigas legais!!

Denise: biutifu!! bem legal essa foto!! só faltou nossas carinhas!!! hehehe!

Marina: hhuummmm óotima idéiaa!!!


Friday, March 10, 2006

Monday, March 06, 2006

Oscar e pilhas

And the Oscar goes to...

Na TV, jornais do mundo, revistas, internet. Oscar pra todo lado. Fiz umas pesquisas e o que mais encontrei foram fotos do George Clooney, lindo, em roupa de gala. Lindo mesmo.
Fiquei imaginando a quantidade de mulheres que, nesta noite, usaram seus amiguinhos pra dar uma fantasiada... hoje, provavelmente, vai ter récorde mundial de venda de pilhas.


Por isso me inspirei e resolvi fazer uma homenagem especial pra quem eu considero lindo de verdade... em todos os sentidos. Nada melhor pra uma segunda-feira chuvosa.

http://www.janesaddiction.com/janesaddiction.html





What makes a kettle whistle?
What makes gold precious?
How come some people, they'll show you everything?
How come some people, they don't like nothing at all?
Well I know why...
We all want to be
Beautiful too...
Beautiful too...
What makes a baby cry?
What makes a poor baby older than a rich one?
And why do we need to belong to someone else...
Well I know why...
We all want to be...
Beautiful too...
Beautiful too...

Thursday, March 02, 2006

Tempo




Pronto, vamos lá.
Novamente estou aqui, depois de tanto tempo, tantas coisas que aconteceram por aí afora e por aqui dentro também.
Pra começo de conversa, me mudei de casa. Conseqüência de outro fato extraordinário que se passou comigo: concluí a faculdade. Até semana passada era formanda mas, depois de algumas horas vestida de beca, morrendo de calor, fazendo discurso (sim, fui a oradora da turma) e poses para os fotógrafos, me tornei uma formada. Uma profissional do marketing ou marketeira, como alguns preferem. Eu não. Não que isso tenha revolucionado minha vida profissional, que eu tenha recebido um aumento de salário, novo emprego ou férias em algum lugar afrodisíaco, mas o fato de deitar a cabeça no travesseiro e pensar: Eu consegui! Eu agüentei! Eu fui paciente e investi numa estória de conclusão em longo prazo, realmente me fez bem. Já comecei tantas coisas, já tentei tantas possibilidades pra esse serzinho que habita em mim que até perdi a conta. Raríssimas vezes consegui concluir alguma delas. Talvez preguiça, ou simples perda de tesão. Porque eu perco o tesão nas coisas mesmo.
Mas dessa vez foi diferente, segui em frente, agüentei professor chato, português errado e pão de queijo todo dia na cantina. Agüentei ponto de ônibus na chuva (com trânsito, é claro), agüentei mensalidades, banheiro sujo e poucas horas de sono. Tudo isso, na verdade, foi abstraído por mim. Eu cantava lá lá lá quando algum desses fatos rolava porque o saldo era positivo. Como um casamento: tem lá suas chatices mas, enquanto dá vontade de sorrir, vamos em frente. É uma delícia viver estórias.
O saldo era positivo porque fiz amizades, vivi um romance (que durou menos do que o curso, mas teve seu valor), tive professores ótimos, matei aula de sexta-feira, essas coisas. Uma fase que não volta mais, definitivamente. Eu, que me sinto com 17 anos, não poderia ter passado minha pseudo adolescência de forma melhor. Foi ótimo.
E acabou. E com ela acabou o sentido de morar em Guarulhos, simples assim. E por isso, voltando ao primeiro assunto desse texto, me mudei.
Poderia vir com aquele papo de que sou andarilha, nômade, inconstante... mas a verdade é que sou prática. Chega de enfeitar o bolo. Trabalho em Mairiporã e me mudei pra Mairiporã. Faz sentido, né? Prezo por algumas horas a mais de sono.
E aqui tenho amigos, tem montanhas verdes, tem ar puro e família. Aqui tem silêncio também.
Aluguei uma casinha caindo aos pedaços. Lixei, pintei, limpei, fiquei com dor nas costas, mas valeu a pena. Agora ela parece uma casinha de campo, com paredes brancas e batentes e portas azuis. Ganhei de presente a Harolda de Tróia, uma gata que anda na diagonal. Que não tenho coragem de deixar na lavanderia e, por isso, dorme comigo e toma conta da cama toda. E fico encolhida no cantinho, torta e sem dormir, só pra não acorda-la. Ela é um bebê, está em fase de crescimento, precisa de amor e carinho... compreensível.
Na primeira semana fiz festinhas de inauguração. Na segunda semana convidei amigos pra jantar e a casa ficou uma zona. Agora, na terceira, tudo está brilhando, arrumadinho... chego em casa e?
Olho para as paredes. Perambulo sem saber o que fazer.
Cheguei ao absurdo de pensar que preciso de uma tv. Pra ver a que ponto chega o deslocamento de não se saber mais como é que se faz pra ficar consigo mesmo.
Faz tempo, muito tempo, que não tenho esse tempo.
Agora penso no tempo.
Antes era aquela correria, chegava em casa às 23h, acordava às 5h e hoje percebo que todas as vezes que me olhei no espelho pra arrumar meu cabelo, com pressa, não me enxergava de verdade.
Agora tenho tempo pra me enxergar. Tenho tempo pra pensar o que vou fazer com esse tempo livre. Por isso sentei pra escrever (desisti da idéia da tv, graças a Deus) e me lembrei de quanto tempo faz que não escrevo. Há quanto tempo não tinha tempo pra escrever? Agora o tempo é algo novo, um leque de novas possibilidades. Agora tenho que pensar em mim e o que vou fazer por mim enquanto não estiver no trabalho. Não vou pensar em trabalho.
Me bateu solidão também. Mandei mensagens para as amigas, telefonei. Mas não posso gastar tanto com celular e, na verdade, não posso ficar assim gastando meu tempo fugindo de mim. Não é pra isso que ele está em casa agora. O tempo habita minha casa. Ele paira pelos cômodos.
Ginástica? Fazer um jantar pra mim?
Tentei fazer caminhada e quando abri a porta, estava chovendo.
Lavei alface e comi a feijoada que minha amiga trouxe numa marmita. Só tive que esquentar no microondas: 50 segundos.
Brinquei com a Tróia, coloquei cds nos 3 compartimentos do meu som e eis que, Fiat Lux!, lembrei que escrevo, que tenho cerveja na geladeira e cigarros no maço!
E cá estou. Brincando novamente com o tempo, fazendo dele meu companheiro de noites chuvosas.
Tomara que esses tempos durem bastante pois há que se aprender muito com o tempo. Esse cara é realmente um mistério mas, pelo visto, vou deixar de ser um mistério pra mim, já que vou ter tempo suficiente pra me olhar direito no espelho.


30/01/06 21:25

Wednesday, March 01, 2006

How I feel today





That's why I love Dalí

Luzes




Parágrafos soltos - estudo para trabalho site
Luz

Criação. Ao enxergar o mundo pela primeira vez, o novo ser se encontra com um feixe de luz: prenúncio da co-dependência que existirá entre eles por toda a vida. Uma ligação tão
íntima que, por vezes, se torna imperceptível, tamanha sua sutileza.
A luz branca, com sua frieza e intensidade, causa o primeiro medo em uma nova vida. Choro. Lágrimas.
Mas a luz refletida nas gotas de lágrimas que correm no pequeno rosto se transforma em conforto e afago. Calor.
Dualidade infinita.
Fria, quente, de múltiplas cores, a luz banha os seres com sua força e constância. Peça fundamental para a sobrevivência de uma espécie que não mais enxerga sua própria escuridão, que não mais reconhece suas sombras.
Mas também a luz depende do ser. À mercê de seus comandos, de seus chamados contra a escuridão, ela se mantém disponível, passiva, sempre aguardando ao primeiro sinal de necessário auxílio.
Terá ela o mesmo brilho, a mesma vida dentro dos fios que a conduzem?
Asfixiada por seus fios, como uma explosão de energia, um nascimento, ela brota de suas raízes e se expande em luminosidade não linear, no entanto constante. Liberdade. Desconhece suas razões e limites, apenas se liberta, tentando alcançar o máximo de espaço possível, como uma expiração forte e profunda. Um alívio.
Pelas ruas, vendo o movimento das pessoas, ela guia seus passos. Protege. Sinais de pista que comandam decisões. Comporta-se como uma guardiã de segredos dos seres humanos, pois os segredos não habitam a luz. Pensamentos são noturnos, escuros. A luz, em si, mantém a todos acordados, lúcidos e seguros. A luz é uma máscara para o medo.
Por todos os lugares onde passo, eu vejo a luz. Presença constante. Mesmo nos momentos mais sombrios ela está presente, com sua luminosidade abafada, vermelha, quente, densa.
Poderia-se dizer que é coadjuvante, apenas uma ferramenta facilitadora para movimentos e visões. Mas, na verdade, é ela quem comanda sensações e desejos. Suas nuances trazem à tona diferentes anseios e instintos.
Fomos dominados pelo desejo e de tê-la envolta em nossos corpos, como o desejo de um eterno abraço acolhedor.


Existem as luzes presas.
As luzes solitárias que são mais fortes.
As luzes sujas, presas com mosquitos no vidro.
Luzes em conjunto formando uma musicalidade.
Uma luz vermelha que chama toda a atenção só para ela.

Eu preciso de um namorado. To com muito tesão contido.


Existem as luzes presas. Uma aceitação denunciada pelas marcas que ficam nas paredes ou chão, cicatrizes que evidenciam sua limitação, sua tristeza. Surgindo com toda a intensidade que sua natureza proporciona, de repente ela se vê bloqueada por sua própria passividade, por sua necessidade de ser conduzida por mãos humanas. Seu grito não é ouvido. Sua dependência explícita. Na tentativa de se libertar, de mostrar sua real natureza, ela se utiliza da própria estrutura bloqueadora, e com ela desenha figuras geométricas. Utiliza tais elementos para chamar atenção ao seu grito de liberdade.

Tuesday, February 28, 2006

Carnaval




muita, mas muita preguiça.
Pelo menos não ouvi muito samba, consegui fugir pro rock n' roll.
Sampa. Ruas vazias.
Eu prestava atenção nas luzes e movimentos da ruas, enquanto passava rápido.
Espaços coloridos e solitários, são as ruas de São Paulo.
E, no entanto, cheios de vida, cheios de pulso. As ruas pulsam.
Ouvi blues e sorri.
E sonhei que o Bono Vox se sentiu atraído sexualmente por mim. E eu fiz tipinho.
Vou ouvir menos U2.

Wednesday, February 22, 2006

Inspiração

O negócio é o seguinte: não estou inspirada pra escrever. Olho para essa tela branca, essas letras... e não sai nada.
Não que eu não tenha assunto ou que meu cérebro tenha desistido de pensar. Pelo contrário. Penso mais do que nunca, penso demais, canso de pensar. Pensar cansa.
Aí poderia desenvolver uma série de temas que têm passado pela minha mente ultimamente: a dificuldade de abandonar pensamentos e lembranças que me ferem; a feliz descoberta de que tenho em mim um milhão de pessoas, de que sou inúmeras possibilidades ao mesmo tempo e de que isso é natural. Ter a consciência da complexidade da personalidade, suas incríveis possibilidades de transformação e adaptação a diferentes contextos é muito saudável. Ao contrário do que sempre ouvi a meu respeito: um camaleão, inconstante e confuso. Descobri que minha inconstância e diferentes posturas não são, como me fizeram acreditar, falta de personalidade forte. Ela é, sim, a força da certeza de ser qualquer coisa que se queira.
Também poderia falar sobre a dieta que quero fazer e não consigo porque acho fútil demais até pensar nisso. Mas eu penso. E não como mais fritura.
Outro assunto interessante seria minha compulsão por Fiona Apple. Poderia aproveitar a oportunidade para pedir a quem tenha o cd, que me empreste pelo amor de deus. Eu gravo, cuido, devolvo bonitinho, inteiro. Prometo!
Tenho analisado corpos. Meu olhar não traz consigo nenhum sentimento. É apenas curiosidade. Gostaria de compreender quais motivos levam essa ou outra pessoa a ter determinado corpo. Que pensamentos e sentimentos e costumes têm as pessoas para que carreguem consigo as marcas do corpo que possuem? Penso que o corpo reflete aquilo que o espírito é.
Nessa sociedade de pessoas alienadas que não se enxergam, que buscam em seus corpos a satisfação do ego, a busca de um corpo saudável se torna muito mais difícil, pois o cuidado é apenas corporal, voltado para a estética. Uma cobrança social. Uma necessidade de ser amado e apreciado a partir de sua imagem. Não há uma busca mais aprofundada de bem estar, equilíbrio e respeito. Não há a consciência de que um corpo bem disposto, vigoroso, ágil e flexível, influencia na obtenção de bons resultados em todas as esferas da vida. Até mesmo a intelectual. No ser humano não há distinção entre palavras e carne, músculos e pensamentos. São partes de um todo que se complementam e dão suporte ao projeto de vida, ou destino, ou qualquer outra palavra que se encaixe melhor. Palavras se desfazem quando não acompanhadas de ação, são inúteis. Músculos são necessários para que pensamentos se tornem atitudes.
É... acho que vou parar de escrever besteira e fazer uma saladinha...

Bom falar sobre o que se sente

Bom falar sobre o que se sente. Bom sentir e se fazer sentida, presente, afirmando a expressão pessoal da verdade de maneira clara, verdadeira e explícita. Bom ser explícita.
Bom é viver apaixonada. Sentir paixão correndo nas veias. Estar apaixonada pelo simples fato de que a paixão é combustível. A paixão trás consigo a alegria, a alegria trás consigo a liberdade. E a liberdade é o que nos move e nos aproxima do mundo, interagindo com ele de forma genuína.
O amor é a paixão bem vivida. O amor é libertário. Dois mundos que andam paralelos, cada um com seus desejos, ritmo e compasso. Cada mundo em seu lugar. E um terceiro mundo, que não nega, não priva. A sedução propõe troca e não apropriação.
Precisamos aprender a nos deixar apaixonar. A paixão muda o estado do amor, mas não sua natureza, porque o amor é sempre namoro, sedução constante e infinita. São relações que independem do tempo, pois vivem mais da intensidade do que da continuidade.
A paixão alimenta-se de liberdade e representa a expressão urgente e insaciável de nossa originalidade única. Ela dá significado, essência e beleza ao amor. O amor, como o nascer do Sol, é sempre o mesmo, mas jamais será igual. Por isso é bom não perdê-lo a cada dia.
Meu mundo é meu e sempre será e sou tão complexa e tão cheia de coisas para descobrir, que não existe sentido em colocar alguém dentro dele para ser carregado. Não quero carregar ninguém. Não quero alguém que faça do meu, seu mundo.
E alguma pessoa, em algum lugar, tem um mundo. E é tão complexo e tão cheio de coisas para descobrir e quer tanto ir em busca de seus prazeres e paixões, que não existe sentido em me colocar dentro dele para ser carregada. Não quero ser carregada. Não quero fazer de alguém, meu mundo.
Soma.
Ser livre é um ato essencialmente de insubmissão e de afirmação da originalidade única da pessoa. A única liberdade que vale é a conquistada e a busca é incessante. Ela se parece com o amor, que é preciso defender, desenvolver e cuidar. O amor só nos garantirá felicidade e paz quando a liberdade for seu maior prazer.
Nossos sonhos precisam ser vividos agora, pois amanhã serão outros.

Ondas




Sou uma mulher. E as fotos que vejo na parede mostram minhas vidas, a Marina que tantas coisas viveu.
Imagens de momentos tão especiais e mágicos que compõem todo meu passado, cujas experiências me tornaram o que sou hoje.
E o que sou hoje são fragmentos desses erros e acertos mal calculados, nada planejados. Fluxo de uma maré infinita, espessa, forte e cadente.
Minha vida foi música.
Fogo, água e estrelas.
And suddenly... todas essas imagens se fundem numa só, ainda desconhecida para mim, no entanto tão amada quanto as outras e com tantas infinitas possibilidades de escolhas nesse destino que me conduz por caminhos tão belos e sublimes.
E olhando meu mundo, todos esses fragmentos de sensações, idéias e estímulos, encontro, de repente, uma nova pessoa.
The child is gone.
Como caminhar por um campo de margaridas... cores vivas e no entanto fugazes, pois que se transformam com o mínimo movimento solar.
Meu ser, liquefeito, viaja nesse mundo compacto como que em outra dimensão. Tenho outra dimensão em minhas veias.
Dimensão que se transforma, se transmuta, compondo um todo que ainda desconheço mas que, no
entanto, me fornece energia suficiente para continuar crendo. Crendo em beleza e suavidade. Crendo num misto de amor e fortaleza. Sentimento e certeza.
Vendo minha imagem distanciada pelo tempo e compreendendo que aquela que já morreu ainda vive em mim com potência infinita, compreendo e sinto o poder de se ser contínua e fluida.
Aqui nesse espaço em branco, onde escrevo tais palavras, me sinto como que num templo protetor e atemporal.
Também sinto que esse mundo não é para mim. Esse jogo diário de espécies e egos não me seduz e meu comportamento é, sem dúvida, uma tentativa desesperada de viver a verdade que escolhi para mim, tão diferente da verdade definida comodamente para o calmo e lúcido caminhar da humanidade.
No entanto, me sinto tão parte desse todo, tão inserida e tão preparada para interagir de maneira apropriada, distinta e cúmplice, que chego a me sentir dissimulada.
Mas não, não é dissimulação. Não existe em mim outra possibilidade que não seja a de ser verdadeira. É, na verdade, essa diferente dimensão onde vivo, onde vivem meus ideais, me faz, obrigatoriamente, ser esse ser estranho e informe, faminto e intenso.
Acredito que isso, que esse olhar transformador, seja o instinto que causa essas tantas percepções diferenciadas. Essa visão que tanto me assusta. Que tanto me preenche de verdades transbordantes e verdades cruas.
Eu, nua.
Eu, viva.
Eu, realizada.
Suave textura.



05/03/2005

NOITE DE VERÃO

Era morna e suave.
O vento soprava as almas que passavam...
Levava embora qualquer vestígio de realidade.
E aquele rosto tão conhecido e tão misterioso
Fazia a alma gemer de prazer e deleite
Era mais do que carne ou pele.
Mais do que qualquer sensação terrena.
Fictício, fantasia, sonho...
Até o último instante ela pensou que uma hora acordaria
E perceberia todo aquele calor se esvair no espaço
Flutuar e se apagar.
Como as palavras
Mas naquela noite não foram as palavras que se pronunciaram
Não foi somente o toque, o íntimo.
E foi tão forte que o instante seguinte passou a não ter
significado algum.
Agora ela ri do amanhã, ela acha graça do próximo olhar.
Porque nada importa
Porque seu espírito voou
Porque ela flutuou no espaço, fechou os olhos e dormiu.
E, mesmo sendo ótimo para ele ouvir tais segredos,
Ela não falou
Ele não ouviu
Mas sentiu no fundo de sua alma, mesmo que por um instante
(E disso ela teve certeza)
Que a felicidade existe
Mais perto do que se imagina.

03:23 14/12/99

Sol




Não é por acaso que escrevo estas palavras. Assim como nada é por acaso, tento refletir acerca do que vejo, sinto, ouço e experimento.
Pra mim, a vida é experimental, me dou liberdade de provar de tudo, sentir tudo, vagar sem raízes e deixar que a energia me conduza.
É muito chato escrever no papel. Já me habituei a apertar botoezinhos no computador e corrigi-los com rapidez e facilidade.
Assim a vida se apresenta: ágil, rápida, dinâmica. E assim me adapto a ela, seguindo seu ritmo e deixando espaço para o novo, o inusitado, o improviso.
Assim vi o sol nessa manhã de sábado. Vi o sol nascer.
Meio prata, meio branco, entre as nuvens, contrastando com o verde das árvores e com minha maquiagem borrada de suor.
Lindo ver o sol nascer.
Corpo cansado, a música ainda vibrando nos ouvidos e o coração ainda pulsando compassado ao ritmo.
Sugestões para um corpo ansioso.
Corpo vivo, livre. Espírito solto, sem raízes.
E o sol, nessa manhã, fez toda a diferença quando brilhou na minha frente, naquela avenida, quando eu menos esperava.
Um “Bom Dia” sincero, alegre e puro, desses que a gente espera ouvir ao acordar numa manhã qualquer.

Manual de explosão

Manual: Como botar fogo na casa e não precisar de bombeiros.


1. Seja fumante.
2. More sozinha.
3. Involuntariamente, faça com que seu isqueiro vá para outra dimensão (como todos os isqueiros um dia fazem).
4. Vasculhe por todas as gavetas, compartimentos, esconderijos e armários, em busca de um outro isqueiro ou fósforos.
5. Entre em desespero.
6. Procure tudo de novo. Todas as gavetas, compartimentos, esconderijos e armários.
7. Pânico.
8. Pense em sair na chuva, à noite, e ir a um boteco.
9. Não vá. Seja mais preguiçosa do que viciada.
10. Ligue para uma amiga que tenha uma ótima idéia: O fogão!
11. Tenha um fogão velho.
12. Seja otimista.
13. Pegue o fio (velho) do fogão (velho) e pense que ele vai funcionar perfeitamente.
14. Ligue o fio na extensão.
15. Ligue a extensão na tomada.
16. ...............

Explosão! Faíscas! Fogos de artifício! Derretimento de fios inteiros! Labaredas na cozinha! Curto circuito! Caos!

17. Grite: “Ai meu deus! Ai meu deus!”
18. Veja sua cozinha se transformar em uma nuvem compacta de fumaça com cheiro de plástico.
19. SEJA INTELIGENTE!
20. Corra para a chave geral!
21. Desligue a chave geral.
22. Tire a caca da tomada, mande à merda. Mande à merda várias vezes. Repetidas vezes.
23. Ligue a chave geral.
24. Ligue para papai, amigas (apoio psicológico).
25. Jogue a merda da extensão derretida no lixo.
26. Saia. Vá comprar um isqueiro.
27. Volte pra casa.
28. Acenda um cigarro.
29. Abra uma cerveja.
30. Coloque seu som preferido.
31. Sorria! É sábado!