Wednesday, April 15, 2009

Quadradinhos da capital

O mundo deliciosamente de cabeça para baixo. O presidente negro dos Estados Unidos falando que o ex-operário-presidente Lula é o Cara.
E eu em Brasília, o epicentro dos acontecimentos políticos de meu país.
Estive em um centro cirúrgico, tentando entender sobre olhos e equipamentos, lentes intraoculares e política também, em sua forma mais viva. Pessoas.
Deitado, um paciente ansioso e tenso. Um personagem que, na minha história, é apenas um coadjuvante mas, ao mesmo tempo, a razão fundamental por eu estar lá. Interessante isso, não?
O paciente lá estava, ávido por reencontrar-se com o brilho de seu olhar, ver sua alma novamente diante do espelho. A alma faz falta.
E eu em Brasília, nesta terra que Kafka adoraria, ao ver seu imaginário transformado em realidade.
Também Aldous Huxley adoraria. Ficaria orgulhoso em ver seu Admirável Mundo Novo representado por prédios quadradinhos e quadras quadradinhas que formam quadradinhos de hotéis e outros quadradinhos para o que quer que se precise. Tem até o quadradinho da diversão. Fiquei com vontade de me divertir por lá.
Tudo friamente organizado. A praça da cidade tem árvores organizadas em fileirinhas simétricas cheias de tédio. Tudo perfeitinho.
Nas ruas não há gente. Não há lixo. Não há vida. O movimento é motorizado e quadrado.
O céu é azul e largo, me mostrando que está lá o calor do mundo. Democrático e intenso, como se tentasse oferecer a esta cidade a alma que lhe faltou ganhar.
De tão raras que são as pessoas nas ruas, os motoristas se mostram educados e respeitosos com os poucos pedestres. Notei isso porque, ao chegar na guia, o carro que vinha já foi parando, como que por caridade, ao ver a estranha cena. Alguém, na rua.
Na segunda vez que aconteceu, fiquei bastante intrigada e, para tirar a prova, fui atravessar outra rua, sem nenhuma necessidade, só pela análise e validação de minha tese.
Pois digo, meus amigos, que o motorista parou (e nem havia farol!) sem buzinar, sem cara feia.
Sorri, em agradecimento ao meu cobaia. Não um sorriso largo. Apenas um jovial e sereno sorriso que dizia: “Eu sabia...”

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