Saturday, December 05, 2009

Qualquer coisa pra sexta-feira

Tem uma taça de vinho aqui na minha mão, você sabe.
E era pra ser compartilhada, você sabe.
Mas essas coisas são escolhidas, você bem sabe.

Só que mais uma vez escolhi estar aqui sozinha, bem antisocial, bem esquisita.
Sem querer saber do que se passa com o mundo lá fora.

Porque fiquei resfriada, meu corpo me pediu arrego.
Cansado da tensão e pressão do mundo.
Cansando das dúvidas, da insegurança. Desse medo besta e dúvida de se estar fazendo a coisa certa, para as pessoas certas, na hora certa, com as palavras certas.
Meu corpo está cansado dos movimentos certos.
Minha garganta cansada das pausas e silêncios forçados, pelo medo da palavra errada.
Meu cérebro cansado de analisar posturas e palavras e jogos e expectativas.
Meu espírito cansado de tentar adivinhar expectativas alheias.

Por isso o vinho aqui.
Por isso a música alta e a falta de vontade de ver qualquer ser desta cidade.

Na verdade, até queria.

Queria me lançar na noite suja, entrar num lugar escuro e denso. Com pessoas escuras e tensas.
Maquiagem nos olhos pra mascarar a solidão.

Mas sou pobre. Comprei um vinho de 24 reais e isso já é o bastante para uma sexta-feira. Porque já não gosto de vinhos muito baratos e com muito corante.
Sou tipicamente um personagem da classe média brasileira.
Aquele que é pobre, tem salário só pra pagar as contas, mas assiste a filmes franceses e se imagina, um dia, caminhando pelas ruas de Montmatre, já que lá viveram Picasso, Salvador Dali e Van Gogh. Só pra rolar uma sinergia.

Mas volto aqui pra minha cidade, São Paulo.
De onde moro, ouço a música, os carros, as motos aceleradas, as vozes aflitivas das garotas alteradas. E aquele típico som de máquinas, um eco constante de movimento, de vida.
Falta descanso aqui.

Me esforço pra ouvir o silêncio, que não vem nunca. Já me acostumei. Dou risada dos bêbados que falam do fim do mundo e das pessoas que os perseguem, coitados, sem deixá-los em paz.

Mas estou sem vontade. Resfriada e cansada.
Tomando esse delicioso vinho, coloco novamente um som que me agrade. Que me faça escutar o silêncio do caos. Ao menos aqui, o caos não entra.

Doce ilusão minha.

Porque chega um mosquito que fica zumbindo na minha orelha.

Daí lembro do convite que recusei de companhia pro vinho.

Recusei mesmo, por motivos tão existenciais quando todas as minhas indagações de ser ou não ser nesse mundo de conflitos existenciais. Sou uma mulher de regras mesmo. Nunca vi mulher com tantas regras como eu.
Tem que ser assim e assado. Tem que falar assim e assado.
Tem que querer assim. E não assado.
Tem que querer.
Feelings are intense. Words are trivial.

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