Wednesday, February 22, 2006

Ondas




Sou uma mulher. E as fotos que vejo na parede mostram minhas vidas, a Marina que tantas coisas viveu.
Imagens de momentos tão especiais e mágicos que compõem todo meu passado, cujas experiências me tornaram o que sou hoje.
E o que sou hoje são fragmentos desses erros e acertos mal calculados, nada planejados. Fluxo de uma maré infinita, espessa, forte e cadente.
Minha vida foi música.
Fogo, água e estrelas.
And suddenly... todas essas imagens se fundem numa só, ainda desconhecida para mim, no entanto tão amada quanto as outras e com tantas infinitas possibilidades de escolhas nesse destino que me conduz por caminhos tão belos e sublimes.
E olhando meu mundo, todos esses fragmentos de sensações, idéias e estímulos, encontro, de repente, uma nova pessoa.
The child is gone.
Como caminhar por um campo de margaridas... cores vivas e no entanto fugazes, pois que se transformam com o mínimo movimento solar.
Meu ser, liquefeito, viaja nesse mundo compacto como que em outra dimensão. Tenho outra dimensão em minhas veias.
Dimensão que se transforma, se transmuta, compondo um todo que ainda desconheço mas que, no
entanto, me fornece energia suficiente para continuar crendo. Crendo em beleza e suavidade. Crendo num misto de amor e fortaleza. Sentimento e certeza.
Vendo minha imagem distanciada pelo tempo e compreendendo que aquela que já morreu ainda vive em mim com potência infinita, compreendo e sinto o poder de se ser contínua e fluida.
Aqui nesse espaço em branco, onde escrevo tais palavras, me sinto como que num templo protetor e atemporal.
Também sinto que esse mundo não é para mim. Esse jogo diário de espécies e egos não me seduz e meu comportamento é, sem dúvida, uma tentativa desesperada de viver a verdade que escolhi para mim, tão diferente da verdade definida comodamente para o calmo e lúcido caminhar da humanidade.
No entanto, me sinto tão parte desse todo, tão inserida e tão preparada para interagir de maneira apropriada, distinta e cúmplice, que chego a me sentir dissimulada.
Mas não, não é dissimulação. Não existe em mim outra possibilidade que não seja a de ser verdadeira. É, na verdade, essa diferente dimensão onde vivo, onde vivem meus ideais, me faz, obrigatoriamente, ser esse ser estranho e informe, faminto e intenso.
Acredito que isso, que esse olhar transformador, seja o instinto que causa essas tantas percepções diferenciadas. Essa visão que tanto me assusta. Que tanto me preenche de verdades transbordantes e verdades cruas.
Eu, nua.
Eu, viva.
Eu, realizada.
Suave textura.



05/03/2005

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