Eu
descobri. Finalmente e sofridamente descobri.
Não
foi com a gestação nem com a catarse do parto, como eu queria.
Não
foi no puerpério, mergulhada no âmago do meu ser, envolta na névoa do meu luto,
do amor nascido, da vida nova em minhas mãos.
Eu
li, pesquisei, eu busquei todo tipo de informação para entender o que era esse
novo momento, esta nova vida e este novo caminho que havia escolhido para mim e
que, agora, me fazia sentir tão sozinha e tão vazia.
(Eu,
que tenho nas mãos a maior preciosidade dessa vida. Eu, cujas mãos nunca mais
ficaram vazias)
Fotos
de mães e famílias felizes. Eu mãe e feliz também. No entanto triste.
Relatos
de encontros e descobertas, Laura Gutman de cabeceira. Mulheres que encontraram
suas sombras como quem encontra um antigo amigo na rua e para pra um café: pra
bater um papo e resolver aquelas velhas desavenças entre uma xícara e uma
risada, se divertindo com um passado que parecia tão importante, mas que agora
é até simpático, aos olhos de quem, finalmente, amadureceu.
Eu
não amadureci.
Eu
não encontrei minha sombra nem no dia mais ensolarado da minha existência.
Eu
estava lá, admirando essas tantas mulheres fortes e inteiras e completas.
Eu
quebrada.
E
então, finalmente, percebi.
Minha
hora chegou.
Posso
ter tentado fugir, posso ter tentado mascarar, posso ter dito o famoso mantra
“vai passar, vai passar” todas as vezes que me senti perdida, achando que era
só o cansaço pela falta de sono.
A
maternidade, depois de dois anos e meio, me mostrou a que veio.
A
verdade é que ela me despiu.
Estou
nua e frágil e com tudo aquilo que antes era tão bem guardado no cantinho da
alma, intocável pra não cheirar mal... fedento!
O
corpo em carne viva. Minha alma em alma viva.
Dói
e arde e incomoda e não deixa meu filho dormir, porque ele quer ficar ao meu
lado, me fazendo carinho, falando em gestos que “vai passar, vai passar”.
Meu
filho, meu amor. Vai passar e não depende de você.
Durma
o sono dos anjos, encontre-se com seus amigos lá de onde você veio.
Eu
estarei bem.
Estarei,
finalmente, limpando minhas feridas.
Acariciando
meu corpo e minha alma porque preciso me perdoar.
Porque preciso limpar essa carcaça machucada de passado, de erros, desencontros e tristezas.
Preciso ser.
Eu. Inteira e inundada de verdade.
Mãe.
Mulher. Filha.
Exposta.
Inteira
e cheia de curativos que, com o tempo, vão cair.
Como
as folhas secas que caem das árvores no outono, deixando-as lindas, lisas,
fortes e, no entanto, explicitando sua fragilidade, seus finos galhos tortos e
flexíveis.
Vou
deixar todos os meus curativos caírem no chão.
Vou
me deixar nua e linda e torta e frágil.
Vou
deixar a tempestade bater no meu rosto, molhar meu corpo, tremer de frio.
Vem,
pode vir.
Vem, que desse parto eu entendo.
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