Wednesday, March 01, 2006

Luzes




Parágrafos soltos - estudo para trabalho site
Luz

Criação. Ao enxergar o mundo pela primeira vez, o novo ser se encontra com um feixe de luz: prenúncio da co-dependência que existirá entre eles por toda a vida. Uma ligação tão
íntima que, por vezes, se torna imperceptível, tamanha sua sutileza.
A luz branca, com sua frieza e intensidade, causa o primeiro medo em uma nova vida. Choro. Lágrimas.
Mas a luz refletida nas gotas de lágrimas que correm no pequeno rosto se transforma em conforto e afago. Calor.
Dualidade infinita.
Fria, quente, de múltiplas cores, a luz banha os seres com sua força e constância. Peça fundamental para a sobrevivência de uma espécie que não mais enxerga sua própria escuridão, que não mais reconhece suas sombras.
Mas também a luz depende do ser. À mercê de seus comandos, de seus chamados contra a escuridão, ela se mantém disponível, passiva, sempre aguardando ao primeiro sinal de necessário auxílio.
Terá ela o mesmo brilho, a mesma vida dentro dos fios que a conduzem?
Asfixiada por seus fios, como uma explosão de energia, um nascimento, ela brota de suas raízes e se expande em luminosidade não linear, no entanto constante. Liberdade. Desconhece suas razões e limites, apenas se liberta, tentando alcançar o máximo de espaço possível, como uma expiração forte e profunda. Um alívio.
Pelas ruas, vendo o movimento das pessoas, ela guia seus passos. Protege. Sinais de pista que comandam decisões. Comporta-se como uma guardiã de segredos dos seres humanos, pois os segredos não habitam a luz. Pensamentos são noturnos, escuros. A luz, em si, mantém a todos acordados, lúcidos e seguros. A luz é uma máscara para o medo.
Por todos os lugares onde passo, eu vejo a luz. Presença constante. Mesmo nos momentos mais sombrios ela está presente, com sua luminosidade abafada, vermelha, quente, densa.
Poderia-se dizer que é coadjuvante, apenas uma ferramenta facilitadora para movimentos e visões. Mas, na verdade, é ela quem comanda sensações e desejos. Suas nuances trazem à tona diferentes anseios e instintos.
Fomos dominados pelo desejo e de tê-la envolta em nossos corpos, como o desejo de um eterno abraço acolhedor.


Existem as luzes presas.
As luzes solitárias que são mais fortes.
As luzes sujas, presas com mosquitos no vidro.
Luzes em conjunto formando uma musicalidade.
Uma luz vermelha que chama toda a atenção só para ela.

Eu preciso de um namorado. To com muito tesão contido.


Existem as luzes presas. Uma aceitação denunciada pelas marcas que ficam nas paredes ou chão, cicatrizes que evidenciam sua limitação, sua tristeza. Surgindo com toda a intensidade que sua natureza proporciona, de repente ela se vê bloqueada por sua própria passividade, por sua necessidade de ser conduzida por mãos humanas. Seu grito não é ouvido. Sua dependência explícita. Na tentativa de se libertar, de mostrar sua real natureza, ela se utiliza da própria estrutura bloqueadora, e com ela desenha figuras geométricas. Utiliza tais elementos para chamar atenção ao seu grito de liberdade.

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