Certa noite a insônia me encheu de poesia.
Quando acordei, percebi: nada!
Nada havia sobrado de minha viagem, aquela que fiz por entre as vidas e vidas e ondas em tons claros e brilhantes da beleza que habitou em mim, por uns instantes.
Pensei que não queria perder a poesia na minha vida.
Não queria perder o brilho do sorriso do olhar.
Aquele de quando se vê passarinho solto ou vagalume ou filho pulando a brincar.
Ou quando se ouve Aretha Franklin numa tarde chuvosa.
Tem gente que oferece poesia de graça. Abre o olho, fala oi e a poesia lá está, a exalar do peito em assovio rimado.
As frases vinham e eram lindas e pensei que queria todas elas eternizadas no papel.
Eu mentalizava e memorizava cada estrofe e rima e ficava feliz a cada nova frase que chegava do infinito, como um presente de uma deusa que me olhava e sorria, me inundando de universo.
Pra mim a poesia vem de fora.
Como uma fonte potente de energia que me carrega, me leva pra um lugar dentro de mim - veja só! - onde a poesia encontra ninho.
Acho, verdadeiramente, que todo mundo tem poesia no peito.
Mas entendo: no peito a poesia apenas habita. Ela é do mundo.
Por isso ela me escapou.
Porque voltou em preto e branco para sua morada, carregada de mim.
E, em mim, deixou a leveza de sua sutil presença.
No comments:
Post a Comment