Wednesday, August 16, 2006

Ilha


Ah! E como voltei diferente...
Em um momento, eu estava no topo de uma montanha, era a montanha errada. Eu devia ter ido para a direita, mas ventos me levaram para a esquerda. E à esquerda não havia trilha, não havia trilha.
E lá em cima, da montanha agora certa, fechei os olhos. Parei. Lá em cima. Vendo deus em forma de água e pássaros, verde, muito verde e brisa suave no rosto.
Naquele momento, momento certo, sozinha, em algum dia de agosto dos meus 28 anos, agradeci pelo presente que me dei.
Eu, sozinha, me presenteei.
Me presenteei com terra e água e luz no corpo, com leveza no movimento e com um suspiro profundo de simples alegria. Alegria simples.
A montanha me engolia e eu me permitia nela penetrar, com pés cansados e corpo suado.
Me entreguei a meu presente.
E vi que ninguém poderia me agradar tanto quanto eu mesma.
Vi também como estava presa e tensa dentro do mundo que criei pra mim. Condicionada e com os braços atados. Resignada a movimentos curtos e palavras vagas. A presenças superficiais e abraços pouco verdadeiros.
Não, não.
O que preciso é de olhares que me atravessem. Toques que em meu corpo permaneçam como uma lembrança boa. Prazer que corra em minhas veias a cada instante de lembrança.
E a entrega foi tanta, e o peso sugado pela terra, e a tristeza arrancada pelo vento, e o medo dissipado pelo longo caminhar que o sorriso voltou leve e natural. Solto.
E, por tão verdadeira, fui ainda presenteada por uma descoberta.
Um encontro, uma estória e alguns dias.
Encontro daqueles em que o toque fica no corpo e o prazer nas veias.
Lembrança boa.
Agora volto ao meu caminho. Procurando a trilha errada.


15/08/2006

No comments: